Do Fora Lula! ao Fora PM!

Amparados na sentença de Karl Marx “A produção capitalista produz, com a inexorabilidade de um processo natural, sua própria negação, é a negação da negação“, excerto do capítulo 14, do volume I de O Capital, um pequeno grupo de estudos de alunos da USP e da PUC (Pontifícia Universidade Católica), em São Paulo, iniciou em 2005 o MNN – Movimento Negação da Negação. O grupo, de orientação trotskista e convicções extremas não considera partidos como PCO, PSTU e PSOL expressões da esquerda e encabeçou as manifestações que pediram o impeachment do ex-presidente Lula em 2005, após os episódios do Mensalão. Em 2006, no pleito que reelegeu Lula, defendeu o voto nulo. Hoje, a MNN é parte do “núcleo duro” que exige a saída da PM e do reitor da USP, João Grandino Rodas (ao lado de outras facções trotskistas, como a LER-QI – Liga Estratégia Revolucionária Quarta Internacional). Para “negar” e oferecer alternativas à exclusão social que julgam inerente ao capitalismo (e, como almejam, “construir um novo futuro possível, além do capitalismo, da miséria, da fome, do desemprego e da barbárie”), o MNN soma forças para se tornar um partido. No Dia da Independência de 2008, cerca de 200 integrantes (número idêntico ao de hoje) oficializaram em plenária nacional a fundação do partido e teve início a árdua campanha para atingir as 500 mil assinaturas exigidas para a legalização de partidos políticos no País. Em frente ao prédio da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo), encontramos Carime Thomazini, 27 (graduanda de arquitetura e uma das líderes do MNN), um dia após ela enfrentar uma maratona de mais de três horas de protestos na Avenida Paulista (leia na página 100).

Brasileiros – Como é possível levar à opinião pública argumentos que justifiquem a saída da PM com a incidência de problemas graves como a morte do Felipe?
C.A. – É óbvio que o assassinato de um estudante dentro da USP é uma questão alarmante e trágica, mas a reitoria soube usar muito bem esse crime para legitimar a presença da PM no campus. A meu ver, não é a PM que deveria impedir esses crimes, pois estamos cansados de ver essa mesma polícia envolvida em graves delitos e crimes horríveis. Não só aqui dentro, mas principalmente nas periferias de São Paulo, a atuação policial é bastante questionável.

Brasileiros – Legitimar a afirmação de que a maioria desaprova a PM no campus, sem ouvir a opinião dos quase 90 mil alunos, é também um grande desafio…
C.A. – Não temos uma estrutura que possibilite ouvir a todos, mas a Folha de S. Paulo, por exemplo, publicou pesquisa recente dizendo que 58% dos alunos apoiam a ação da PM, número que acho questionável, mas que mostra uma redução em relação à estatística anterior, apresentada pela reitoria como algo em torno de 90%. Estimamos que, hoje, cerca de 25 mil estudantes estejam do nosso lado, mas esse número crescerá. Muita gente aderiu à causa por se sentir agredida com a imprensa, que foi muito tendenciosa, classificando os estudantes de vagabundos, maconheiros e playboys.

Brasileiros – Como a MNN avalia a ação da Tropa de Choque?
C.A. – Houve um rechaço muito grande à invasão da Tropa de Choque. Se ela tivesse sido legítima, como defendeu o governador Alckmin, teríamos que questionar duas coisas elementares. Primeiro, por que a ação era de desocupação da reitoria e eles foram parar no CRUSP (o conjunto residencial de alunos da USP), com bombas de gás?! Segundo, se a ação era mesmo legítima, por que é que não foi feita durante o dia, ao invés daquela invasão covarde, em plena madrugada, enquanto os estudantes dormiam?!

Brasileiros – A reunião de causas alheias às dos alunos da USP, na passeata de 25/11, não fortalece quem diz que o movimento não tem objetivos claros?
C.A. – O fato de haver vários coletivos defendendo outras causas, na passeata demonstra, sobretudo, apoio ao movimento. Evidentemente, nossa luta não começou pela liberdade de fumar maconha. Queremos, sim, a liberdade de organizar grupos que possam manifestar e defender os interesses dos alunos. Não queremos a saída da PM para “salvar a própria pele”, como alguns têm afirmado por aí. Estamos lutando em defesa de todos que frequentam a USP. Alunos, professores e funcionários.


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