Os baluartes da tradição

Em 2009, Arthur Pittarello, hoje, estudante de História da USP, abandonou o terceiro ano do curso de Ciências Sociais, fugindo do que considera uma opressão ideológica. Pittarello tem 23 anos e ao lado do amigo Celso Zenaro, 22, fundou naquele ano a UCC – União Conservadora Cristã, grupo que assume convicções de extrema direita em defesa de valores tradicionais e em oposição, segundo ele, a uma hegemonia do pensamento de esquerda dentro da USP. Pittarello e Zenaro – amigo que partiu de Sumaré, no interior de São Paulo, para estudar Geografia e hoje mora no CRUSP, o conjunto residencial que acolhe alunos de outras cidades – são favoráveis à presença da PM ou de uma guarda armada para patrulhar as ruas desertas do campus. Ainda em 2009, a UCC disputou o DCE, o Diretório Central dos Estudantes da USP: “Ficamos em 6o lugar entre dez chapas e tivemos 268 votos. Um número muito bom para uma chapa pequena, formada por 13 pessoas”, recorda Pittarello. Hoje, o grupo de estudos reúne cerca de 30 alunos que defendem o pensamento de intelectuais de direita, como o historiador Olavo de Carvalho e o professor Orlando Fidelis, criador da extinta TFP – Tradição, Família e Propriedade. Entre copiosas baforadas de dezenas de cigarros consumidos pelos dois estudantes, no diminuto quarto de Zenaro – carente de cuidados, como a maioria das unidades do CRUSP -, registramos opiniões dos líderes da UCC sobre algumas questões caras à opinião pública.

A política nacional antidrogas “A única política discutida hoje como alternativa à repressão ao usuário é de redução de danos. Você permite que a pessoa se vicie e controla as dosagens de consumo. Mantém um consumo regular, em uma modalidade de segurança que proliferaria o número de usuários. Só é possível deduzir disso que quem defende essa política pretende ser ‘parceiro comercial’ dos narcotraficantes. A população carcerária dos Estados Unidos é majoritariamente composta por membros de gangues que mantêm esse consumo de segurança, um minitráfico tolerado pelo governo, e essas gangues são, hoje, o maior problema de segurança pública americana. O mundo inteiro descobriu que essa moda já passou e ela está chegando agora ao Brasil.”

A criminalização da homofobia “Por determinação legal, o Estado é obrigado a converter união civil em casamento civil. Então, se você falar ‘três homens agora é união civil’, algo que não tem nada a ver com o casamento, mesmo assim, o Estado será obrigado a converter essa união civil em casamento civil. Uma estratégia do movimento LGBT, um grupo de pressão, para estabelecer o casamento gay. É a lei, e o Estado é obrigado a dar o mesmo reconhecimento que concede a um grupo religioso, historicamente marcado pela construção do Estado Nacional, a qualquer outro agrupamento. O mesmo reconhecimento que é dado a uma entidade milenar e segura que é a família tradicional.”

A legalização do aborto “Na questão do aborto, grupos querem legitimá-lo, primeiro por estupro, até os 3 meses de gestação, depois virão outros dizerem que pode até os 5 meses, mas a verdade é a seguinte: tem gente querendo legalizar o aborto e ele é a mesma coisa se realizado com 3, 5, 6 ou 9 meses. É a morte de crianças inocentes. Dizem que ocorrem 5 milhões de abortos, por ano, no Brasil. Pra começo de conversa, se é algo ilegal, não tem como a gente saber. Quantas crianças nascem a gente sabe. Em média, 5,2 milhões. E vêm dizer que abortam 5 milhões?! Isso é ridículo! Com isso, eles querem dizer: ‘Está todo mundo abortando, não é melhor que se legalize?’.”

A segurança no campus da USP “Duas semanas antes da morte do Felipe na FEA, um funcionário foi baleado. No início do ano, encontraram um corpo enrolado em um tapete, aqui dentro do CRUSP. Um amigo meu testemunhou o fato, mas saiu no jornal que o corpo foi encontrado fora, ao lado do Portão 3. A segurança que existe aqui é mera guarda patrimonial. No caso do Felipe, houve o relato de um vigilante que estava lá e viu tudo, mas ele também estava com medo, porque anda desarmado. A PM chegou e a criminalidade reduziu drasticamente, isso é fato, há registros disso.”


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