Liberdade, opressão e comédia

Drama e ficção

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Um filme pensado e produzido para grandes plateias e com elenco estelar pode resultar mais do que mero entretenimento, merecer atenção da crítica e até revelar algo extraordinário. Não há regras rígidas nesse sentido e sobram exemplos, como o épico Forrest Gump (1994), uma realização inesquecível. O mesmo acontece com a superprodução O Doador de Memórias, do diretor Phillip Noyce (O Colecionador de Ossos, Invasão de Privacidade e Jogos Patrióticos), que estreia em 200 salas do País.

A história, baseada no livro homônimo da norte-americana Louis Lowry, se passa em uma pequena comunidade, onde seus moradores vivem sob um regime aparentemente ideal, sem doenças nem guerras, mas também sem qualquer tipo de sentimentos, até mesmo entre pais e filhos. Para tanto, uma única pessoa é encarregada de armazenar essas memórias afetivas em uma biblioteca, a fim de poupar os demais dos sofrimentos vindos das fraquezas humanas e também de guiá-los com sua sabedoria. De tempos em tempos, essa tarefa muda de mãos e agora cabe a um jovem (Brenton Thwaites), que precisa passar por um duro treinamento para provar que é digno da função. A responsabilidade é maior ainda porque o escolhido anterior, uma garota, rebelara-se e acabou eliminada. Acontecerá o mesmo com ele? O longa remete às fábulas distópicas, em que o futuro é mostrado de modo opressor. É previsível que algum personagem se volte contra esse estado de coisas. Mas essa certeza em nada estraga a magia do filme, que tem no elenco os astros Jeff Bridges e Meryl Streep.

Tudo é mostrado de modo claro, a partir de um núcleo central simples: não é possível conter emoções básicas como a amizade, o amor e os desejos. O Doador de Memórias diverte, emociona e funciona como um manifesto em defesa da liberdade de escolha. Mesmo que os argumentos em contrário sejam perturbadores. Por mais que tudo esteja errado, violento e desumano, a vida não se completa se o amor deixar de existir.

Suspense
mérito maior de Isolados, de Tomas Portella, é sua ousadia temática. Na linha do terror psicológico, conta uma daquelas histórias em que nem tudo é o que parece ser. E o espectador só começa a notar isso nos dois últimos minutos, quando ocorre uma reviravolta e tudo é, finalmente, explicado. Na história, um psiquiatra (Bruno Gagliasso) e sua traumatizada mulher (Regiane Alves) vão passar uns dias em uma cabana na região serrana do Rio de Janeiro para recarregar as energias. Mas acabam encurralados por um assassinado de mulheres. O filme, o último do ator José Wilker, vale a pena ser visto pela atmosfera de horror.

Faroeste-comédia
Comédias ambientadas no Velho Oeste americano não chegam a ser uma tradição, mas já rendeu ótimos filmes como, Lemonade Joe (1964) e Dívida de Sangue (1965). Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola funciona muito bem nesse sentido, amparado em ótimo elenco, que inclui Charlize Theron, Seth MacFarlane e Amanda Seyfried. A história se passa na pequena cidade de Old Stump. Depois que Albert foge de um duelo, sua volúvel namorada Louise o troca pelo empresário mais bem-sucedido da região. Inesperadamente, porém, chega à cidade uma mulher bela e misteriosa para bagunçar tudo.
 
Mais drama
 A sensação que se tem ao assistir ao longa de estreia da diretora Caru Alves de Souza, De Menor, é de certa claustrofobia. Trata-se de um filme de longos silêncios que dizem muito pela ótima interpretação de Rita Batata. Tudo vai em uma crescente que leva o espectador ao quase desespero, ao contar a história de uma advogada de menores infratores que perde os pais em acidente e passa a cuidar do irmão caçula, de 17 anos, um “mauricinho” que acaba no mundo do crime. Caru fez um trabalho raro sobre a impotência de uma pessoa quando percebe que sua vida e tudo à sua volta fica sem controle. Uma pequena obra-prima.

Tributo ao mestre Ozu
É só uma questão de se acostumar com a singularidade dos filmes para se apaixonar perdidamente pela obra do cineasta japonês Yasujiro Ozu (1903-1963), um dos gênios da sétima arte. Pense, por exemplo, em uma história que apenas conta o dia a dia na relação fraterna entre um pai e uma filha, que se respeitam mutuamente. Não há clímax, violência, traição. Por outro lado, tudo é movido por puro lirismo, a partir de tramas bem amarradas, fotografia fora do comum, grandes interpretações e direção perfeita. Daí a importância do resgate que a Versátil está fazendo de sua obra. No ano passado, saiu Cinema de Ozu Vol. 1, com seis filmes. Agora, sai o volume 2, com seis longas, quatro deles nunca lançados no País: Flor do Equinócio, Começo de Primavera, Uma Galinha no Vento e Fim de Verão. Já Pai e Filha saiu pela Lume em cópia antiga, agora restaurada. Ervas Flutuantes sai pela primeira vez no Brasil em versão recentemente recuperada.


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