Literatura brasileira é tema da maior feira de livros da Escandinávia

Daniel Galera, Michel Laub e Leonardo Tonus em Feira de Gotemburgo. Foto: Divulgação
Daniel Galera, Michel Laub e Leonardo Tonus em Feira de Gotemburgo. Foto: Divulgação

Depois da participação em 2013 como país-convidado da Feira do Livro de Frankfurt, na Alemanha, o Brasil é destaque este ano na Bokmässan, a Feira do Livro de Gotemburgo, na Suécia, que foi inaugurada nesta quinta-feira (25) no centro de convenções do hotel Gothia Towers. O evento é o maior do segmento na Escandinávia e o segundo maior da Europa. “Estamos muito orgulhosos de ter a literatura brasileira como tema este ano, marcando a estreia da América do Sul como foco principal do evento. O Brasil está passando por uma grande evolução econômica e cultural neste momento,  e o mundo todo está interessado”, afirmou a diretora da feira, Maria Källsson.

O país conta com o principal estande do evento, que tem um mini auditório e espaços que expõem títulos de importantes editoras brasileiras, como a Cia. das Letras, Rocco, Edusp, Unesp, Bamboo, Cortez e Imprensa Oficial. Vinte e cinco autores do Brasil, entre veteranos e novatos, participam do evento – e, na esteira do convite, vários deles estão lançando pela primeira vez livros traduzidos ao sueco.

Entre os autores presentes estão Ana Maria Machado, consagrada autora de livros infantis e membro da Academia Brasileira de Letras, os romancistas Michel Laub, Daniel Galera, Andréa del Fuego e Vanessa Bárbara, o autor de literatura indígena Daniel Munduruku, os poetas Paulo Henriques Britto, Marcos Lucchesi, Ana Martins Marques, Alice Sant’Anna e Bruna Beber Lima e o ilustrador Roger Mello, vencedor este ano do renomado prêmio de literatura infantil Hans Christian Andersen.

“É mais uma grande oportunidade para a literatura brasileira ser conhecida no mundo. Na verdade, não me importa se o meu leitor é sueco ou brasileiro, eu não diferencio, mas, quanto mais leitores, melhor. Escrevemos porque queremos ser lidos”, disse Daniel Galera, que está lançando na Suécia seu quarto romance, “Barba Ensopada de Sangue”. Ele acha que o interesse crescente pela literatura brasileira no exterior é uma consequência do “crescimento econômico e da maior importância política do país no mundo”.

Quem concorda com ele é o autor Michel Laub, publicando em sueco seu romance “Diário da Queda”, de 2011, que aborda a sua origem judaica, a partir dos diários de seu avô, um sobrevivente do campo de concentração de Auschwitz. “O Brasil ganhou muita visibilidade nos últimos anos, seja pelos eventos esportivos ou pela presença nos chamados BRICS, e isso levou a um maior interesse também pelas nossas letras.” Para o poeta Paulo Henriques Britto, autor de oito livros e tradutor de quase uma centena, o intercâmbio cultural sempre é rico nesses eventos. “É ótimo ouvir o feedback de leitores da sua obra traduzida a um outro idioma”, conta ele, que ganhou uma coletânea em sueco de seus poemas.

Além de autografar livros, os autores brasileiros participam de palestras, mesas-redondas e de sessões de declamações de poemas – em português e inglês – sempre com a intenção de apresentar os diversos aspectos e características da produção contemporânea. A ex-presidente da ABL Ana Maria Machado dividiu, por exemplo, sua experiência como autora de livros infantis, ao lado de Daniel Munduruku, Roger Mello e Otávio Junior, mostrando a grande diversidade de vozes, temas e linguagens característicos de um país de dimensão continental.

Anna Martis Marques impressionou o público ao recitar seus poemas de caráter intimista, que parte de objetos cotidianos para criar atmosferas abstratas. Daniel Galera e Michel Laub debateram a literatura contemporânea no Brasil, e um grupo de teóricos levantou a questão da identidade – o da falta de – da produção contemporânea. Aproveitando a realização do evento, que também conta com o violonista Gui Mallon e seus músicos e com a apresentação de danças folclóricas, a cidade vive um mês bem brasileiro. Na Biblioteca Central, o artista plástico Carlos Bracher mostra seus quadros expressionistas e o consagrado fotógrafo Sebastião Salgado inaugura hoje uma exposição no Världskulturmuseet (Museu da Cultura Mundial). Até um espetáculo de dança sueco, batizado de “Wasteland”, em cartaz na Casa de Ópera da cidade, tem inspiração no documentário brasileiro de mesmo nome. A programação segue até domingo.


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