Faturando os tubos

JUVENTUDE - O presidente da Amanco, Mauricio Harger, de 38 anos, aposta na conversa olho no olho com os funcionários das fábricas. Foto: Olga Vlahou
JUVENTUDE – O presidente da Amanco, Mauricio Harger, de 38 anos, aposta na conversa olho no olho com os funcionários das fábricas. Foto: Olga Vlahou


A marca Amanco, famosa
 por seus tubos e conexões, pertence à Mexichem, grupo de empresas químicas e petroquímicas com sede no México. A Mexichem Brasil, que detém ainda as marcas Plastubos e Bidim, tem cerca de três mil funcionários e nove fábricas em seis estados no País. A empresa tem crescido o dobro da média do mercado. Em 2013, a companhia faturou R$ 1,59 bilhão, alta de 13% em relação ao ano anterior. Em entrevista à Brasileiros, o presidente da companhia, Mauricio Harger, explica o motivo da trajetória vitoriosa, que fez a Amanco incomodar a forte concorrente Tigre. A participação de mercado da empresa subiu de 17%, em 2006, para 32%, em 2013.

A estratégia começa com o firme compromisso com a sustentabilidade, baseada no tripé econômico, social e ambiental. Esses três elementos asseguram a perenidade do negócio. A empresa também lançou fortes campanhas publicitárias, principalmente em rádio e TV, permeadas por humor, de tal forma que gerassem empatia no consumidor. Trocando em miúdos, mudou um pouco a sensação de que fazer obras é uma experiência desagradável.

Harger é um entusiasta do mercado de construção no Brasil. Isso porque um quarto dos consumidores está em grandes obras, tanto privadas como governamentais. Se os lançamentos de imóveis declinam, programas como Minha Casa Minha Vida asseguram a vitalidade do negócio. Os três quartos restantes são a demanda do construtor formiguinha, aquele que faz uma pequena expansão da casa, ou até melhora de vida e parte para construir um imóvel maior. Esses, na maioria das vezes, fazem a obra com recursos próprios ou financiamento direto da loja. A seguir, os principais trechos da entrevista.

BrasileirosO desempenho da receita da Amanco tem sido crescente. Qual a estratégia da companhia?

Mauricio Harger – Nós praticamente dobramos o faturamento e multiplicamos por dez vezes a rentabilidade EBTIDA (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de 2006 a 2013. Nossa estratégia tem diversos pilares de gestão, como sustentabilidade, marca, inovação, eficiência operacional, pessoas e serviços. Essa combinação traz aos clientes a vantagem de produtos mais práticos, inovadores e fáceis de instalar. Por isso, nossa participação de mercado subiu de 17%, em 2006, para 32%, em 2013.

 

A Tigre é a principal concorrente – um nome bastante consolidado no setor. Como ganhar market share nesse cenário?

O concorrente tem uma trajetória bastante longa. Quando a companhia resolveu investir na sua marca, usamos muito um apelo humorístico, inovador, nas peças publicitárias para rádio e TV. Com isso, o público teve empatia com os produtos e conseguimos ingressar no segmento premium. Nos comerciais, apresentamos o balconista, o instalador, o encanador. Usamos também algumas celebridades com o intuito de mostrar que elas também usam Amanco. Mas os famosos não são protagonistas, e sim pessoas que ficaram satisfeitas com indicação de produtos Amanco pelo instalador ou pelo lojista. Fora que é divertido ver artistas fazendo reformas.

 

A empresa pretende abrir o capital no Brasil?

A Mexichem tem capital aberto no México. É uma das 12 ações mais negociadas na bolsa mexicana. No momento, não pensamos em abrir o capital aqui. Já estamos em mais de 40 países, e a nossa prioridade é o mercado mexicano.

 

A oferta de crédito está se desacelerando. Como isso impacta a Amanco?

Não é que a oferta não está disponível. Há uma diminuição da demanda. As pessoas não estão superendividadas, mas a inflação comeu um pouco do seu rendimento. Além disso, o brasileiro mudou seus hábitos de consumo e hoje há mais despesas fixas, como celular, tablet, internet e TV a cabo. As famílias também decidem comprar um cachorro. E aí vêm as contas do pet shop e do veterinário. A oferta de crédito existe, mas também por uma questão de percepção, o consumidor está com receio de entrar em dívida de longo prazo. Isso afeta as grandes obras, a chamada construção formal, que corresponde a um quarto do mercado. Ainda há três quartos restantes, que são pessoas que seguem fazendo sua pequena reforma e ampliam o imóvel, porque nasceu mais um filho, por exemplo. No passado recente, houve um boom de pedidos de financiamentos, em função da queda de desemprego, da subida de classe social e da grande oferta de crédito, o que não havia antes. Esses três fatores combinados não existem mais.

 

Essa parcela do mercado, que corresponde a um quarto do consumo de materiais, colocou o pé no freio. Isso está relacionado com as eleições?

Há uma percepção negativa no País por conta da indefinição política. É uma questão momentânea que deve se resolver. O próprio governo tem uma tarefa importante, que é seguir com o Minha Casa Minha Vida. O Plano Nacional de Saneamento está saindo do papel. O PAC (Programa de Aceleração de Crescimento) contempla também obras de saneamento. O governo agora está possibilitando as PPPs (Parcerias Público-Privadas). Isso vai gerar uma revolução no Brasil. Tem até PPP para esgoto. A quantidade de brasileiros que não tem saneamento básico em casa é enorme. Por exemplo, só 38% do esgoto no País é tratado. O futuro será próspero com as obras de infraestrutura previstas.

 

O construtor formiguinha é importante para o mercado?

Cerca de três quartos do mercado de material de construção civil estão nas mãos dessas pessoas. Elas não entram nas estatísticas do Banco Central, porque fazem as obras com recursos próprios ou com financiamento direto da loja. Temos um cartão, o Amanco CredConstrução, que é de simples acesso. O cliente faz um cadastro descomplicado, sem burocracia e em poucos minutos. Cerca de 2,9 mil pontos de venda fizeram acordo conosco. Isso é ótimo porque gera demanda e ajuda pequenas lojas, que não têm como bancar grandes bandeiras. Os custos são menores porque o que é levado em conta não é o risco do lojista, mas da Amanco. É uma negociação de porte. O comerciante tem uma lojinha pequena, mas tem o meu risco. É um jogo de ganha-ganha: ele vende mais, eu vendo mais. Desde o lançamento do Cartão CredConstrução Amanco (em outubro de 2008) já foram financiados R$ 573 milhões. São mais de 550 mil cartões emitidos. Para este ano, prevemos R$ 100 milhões.

 

A Amanco tem um programa especial de contratação de profissionais mais velhos e experientes?

Não temos nenhuma restrição à contratação de seniores. Estimulamos nossos líderes a ter diversidade em suas equipes. Na grande maioria do tempo, estamos dentro das cotas estabelecidas pela legislação. Os mais velhos têm histórias dentro da companhia, os estagiários os adoram. Aqui não existe aposentadoria compulsória. Enquanto a pessoa se sente apta a trabalhar, ela fica.

 

Sustentabilidade é um tema bastante caro à Amanco. Quais são as ações da companhia nesse sentido? É parceira em quais iniciativas?

Seguimos o triplo resultado: econômico, social e ambiental. Sustentabilidade significa a perenidade da empresa. O maior desafio é conscientizar as pessoas. O pessoal do chão de fábrica às vezes tem dificuldade de entender o conceito. Mas temos conseguido incutir essa ideia. Existe uma unidade que usa 100% de matéria-prima reciclada. Outro exemplo: havia um resíduo na fábrica que era aterrado. Fizemos um grande esforço para terminar com essa prática. Surgiu a ideia de usá-lo para fazer pentes e pregadores de roupa. Foi um sucesso. Outro projeto começa este ano: como premissa, a máquina não vai gerar nenhum grama de resíduo. Nós também não vamos produzir carbono. Será a máquina mais moderna do País.

 

O funcionário leva para casa essa consciência?

Temos um projeto muito interessante chamado Hydros, para o uso racional da água. Já estivemos em 140 escolas. Lançamos um site, com vídeos e artigos para professores usarem em sala de aula. É uma iniciativa destinada à comunidade.

 

Por que a sede da Mexichem Brasil é em Joinville?

A sede fiscal é lá. Mas a sede administrativa do grupo fica em São Paulo. Originalmente, o grupo mexicano tinha uma mina na região e extraía minério. Para ganhar valor agregado, passou a produzir soda cáustica, uma das matérias-primas do tubo de PVC. Foi uma questão de horizontalidade dos negócios.

Quanto a empresa pretende crescer neste ano?

Em 2013, crescemos 13% e, neste ano, projetamos 10%. Fizemos uma projeção menor por causa da Copa do Mundo, pois houve menos dias úteis. Nosso faturamento foi de R$ 1,59 bilhão no ano passado e, para este ano, estimamos uma alta de 10%. Historicamente, crescemos ao menos duas vezes a média do mercado. Temos ainda um projeto de investimento de US$ 100 milhões, até o início de 2016, em máquinas, processos, desenvolvimento de novos produtos e aumento da capacidade fabril.

 

A companhia também visa o mercado externo? Que regiões ou países?

Muito pouco. Só temos a marca Bidim (faz geotêxteis para automóveis, jardinagem e impermeabilização). Exportamos só 1% da produção para a América Latina. O setor não é exportador. Nas vendas totais, as externas não passam de 5% porque o Brasil tem normas específicas de acabamento. Mas temos contrapartidas, como a limitação de importações.

 

O setor tem uma boa interlocução com o Executivo?

Estamos bem representados pela Abramat (Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção), Asfamas (Associação Brasileira dos Fabricantes de Materiais e Equipamentos para Saneamento) e Anamaco (Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção). Não há problemas. O setor teve grandes conquistas, como a desoneração do IPI e da folha de pagamento. É um motor importante da economia. Somos bem ouvidos e atendidos.

 

A política macroeconômica recente ajudou nos negócios?

No longo prazo, uma maior previsibilidade ajudaria. O melhor dólar e o melhor juro são os conhecidos. O previsível é o bom.

 

A Amanco toma recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)?

Nossa estratégia é não ter dívidas bancárias. Usamos capital próprio. Também é comum nossos fornecedores financiarem as compras, como de equipamentos importados. Somos empresa multinacional e não temos grandes privilégios do BNDES.

 

Como fazer para estimular a inovação na empresa?

Trabalhamos com multiplicadores e facilitadores, para fazer o papel de provocação, de modo que surjam ideias novas. Fazemos reuniões com pessoas de diferentes áreas, grupos multidisciplinares. Uma das minhas bandeiras é a colaboração, para que possa ter inovação, criatividade e lucro. Nesse processo, é natural também que retenhamos os talentos. Promovemos ainda os eventos Café e Papo, com os diretores, e Visita do Presidente. Uma vez por ano, visito todas as fábricas, converso no chão de fábrica para ouvir sugestões e críticas. É tudo direto, olho no olho. No caso dos estagiários, idealizamos o programa de jovens talentos, que criam projeto-desafio. Eles têm a oportunidade de trazer as suas ideias e adotá-las em diversas áreas.

 

Os empresários costumam se queixar da falta de mão de obra qualificada. O senhor sente isso?

Temos algumas iniciativas com o SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial). São mais de 70 mil encanadores e instaladores treinados para ajudar o consumidor a ter uma melhor experiência na construção. Para acabar com o estigma de que a obra é uma coisa ruim. Já para nossa linha de produção, temos dificuldade. Sabemos que a educação pública não tem ajudado muito. Por isso, damos treinamento contínuo nas fábricas, para permitir a maior especialização do funcionário. Nossa cultura é a de estar sempre inovando. Um produto que criamos, o Biax, tubo de PVC orientado que substituiu o ferro fundido em obras de infraestrutura. É tecnologia nossa.


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