Na primeira etapa da corrida presidencial, pouca gente quis falar abertamente sobre os cuidados com a imagem dos candidatos. Entretanto, nenhum deles descuidou do visual. A estética, como se sabe, não é decisiva nas urnas, mas tem peso durante a campanha. Esse tipo de preocupação, aparentemente futil, vem de longa data. Em 1960, em debate de TV entre Richard Nixon e John Kennedy, que disputavam a Casa Branca, o candidato republicano transpirava em bicas no estúdio. Além disso, estava visivelmente com a barba feita muitas horas antes do encontro, o que também lhe conferia ar de cansaço. O democrata, apenas quatro anos mais novo, à época com 43 anos, parecia no vídeo muito mais jovem, bonito e saudável que seu adversário político. Nixon perdeu.
No Brasil, algo semelhante aconteceu em 1989, na primeira eleição direta para presidente depois do regime militar. Naquela época, a disputa ficou polarizada entre Fernando Collor de Mello, do antigo PRN, candidato que representava as elites e os interesses da mídia, autoproclamado “caçador de marajás”, e Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, que vinha dos movimentos de base, do operariado e das lutas sindicais. Collor tinha uma aparência jovem e investia na imagem de homem atlético, viril. Lula, filho de emigrantes do sertão pernambucano, carregava a estampa de homem sofrido, ressaltada pela barba, a voz rouca, a língua presa e a falta de um dedo na mão esquerda. Além disso, demonstrou insegurança e nervosismo. Lula perdeu.
Collor, o mais jovem presidente eleito no País, no entanto, fez um salseiro: confiscou a poupança dos brasileiros e iniciou um governo marcado por troca constante de ministros e desastres na política econômica, o que provaria que as aparências podem, sim, enganar.
No entanto, em época de transmissão de discursos, a construção da imagem também é relevante. A presidenta Dilma Rousseff, que tenta a reeleição pelo PT, sofreu uma transformação ainda quando era ministra-chefe da Casa Civil. Em 2009, às vésperas da campanha presidencial apareceu de visual novo, mais rejuvenescida graças a um lifting (procedimento que trabalha a musculatura do rosto e dá um ar mais descansado).
O autor do feito é o médico Renato Viera, de Porto Alegre, que recebeu elogios até da revista americana Vanity Fair – deu nota 10 para a mudança. Viera não atendeu ao pedido da reportagem, mas consta que a candidata eventualmente recorre a aplicações de botox, que suavizam marcas de expressão. Faz bem ela.
Difícil imaginar, mas há quem garanta que Dilma é capaz de fazer seu penteado sem a ajuda de ninguém. É o que afirma Juliana Vieira, assessora do cabeleireiro Celso Kamura, que atende a presidenta há anos. “O corte é o mesmo de sempre, inspirado na estilista venezuelana Carolina Herrera (que cuida da imagem de primeiras-damas desde Jacqueline Onassis até Michelle Obama). Ele é tão prático que, com o auxílio de bobes de velcro, é fácil se ajeitar sozinha”, diz. Juliana conta que, de um tempo para cá, a presidenta também tem usado produtos mais adequados para o seu tipo de pele, como uma base líquida da francesa Dior e um corretivo da alemã Kryolan. Ambas de excelente qualidade.
Dilma também tem se valido de um primer, fixador de maquiagem, segundo Juliana. Nos lábios, prefere variar marcas. Fica entre as americanas MAC e Make Up For Ever, e a francesa Givenchy, em tons menos vermelhos do que anos atrás. E não pode faltar lápis preto dentro do olho. Nada mais. “Só em ocasiões especiais, são colocados tufinhos de cílios postiços na parte externa e superior dos olhos.”
O guarda-roupa apresenta peças clássicas, com blusas mais largas, que escondem os quilos em excesso. Mas o que tem chamado a atenção são os colares e brincos que parecem ouro e pérolas. Os sapatos também ganharam destaque recentemente. Texto publicado, em 24 de setembro último na Folha de S.Paulo, por Elio Gaspari, dá conta que os pisantes da presidenta são da marca francesa Louis Vuitton. Já o candidato tucano, Aécio Neves, prefere, de acordo com Gaspari, os da marca italiana Ferragamo.
Marina Silva, candidata do PSB, até pode passar a ideia de ser uma mulher de pouca vaidade, mas no primeiro debate entre os presidenciáveis, em agosto, ela usava um vistoso par de óculos de aros vermelhos e um xale bege, combinação que a deixou com ar de antiga. No debate seguinte, dias depois, apareceu vestindo blazer branco e discretos óculos marrons.
A assessoria dela preferiu se calar diante do assunto. Mas não precisa ser especialista para perceber que Marina também passou por mudanças significativas. Tem usado maquiagens leves – dizem que o batom é caseiro, feito à base de beterraba – e, apesar de não ter dispensado o coque, tem feito o penteado com mais capricho, deixando-o mais alto. E ela deu, sim, um jeito nas grossas sobrancelhas, que continuam grossas, mas com fios mais alinhados. As roupas agora são elegantes – quem se esquece das blusas com estampas étnicas e saias longas? Está na cara que ela gosta de cortes de alfaiataria para calças e camisas, e nunca deixa os braços à mostra. Para os acessórios, preferiria itens nacionais, como os colares vistosos feitos com sementes da Amazônia, que seriam artesanais.
Luciana Genro, do PSOL, também mudou. Ela, que já teve cabelo alisado, agora aposta no crespo longo, com risca de lado. Os óculos têm armação suave e a maquiagem segue a mesma tendência: nada que possa dar o efeito de artificial.
As artimanhas estéticas, porém, não se resumem apenas às mulheres em disputa. O tucano Aécio Neves também quer sair bonito na foto. Quem conta pede sigilo, mas ele teria feito aplicações de botox na testa para suavizar marca de expressão entre as sobrancelhas, e uma cirurgia nas pálpebras, para a retirada de bolsas embaixo dos olhos. Também teria se submetido a um clareamento dentário, depois de ter passado por cirurgia odontológica que nivelou os dentes.
Para cobrir o alto da cabeça, área já rala de fios, Aécio se submeteu a um transplante de fios. Para o seu fiel cabeleireiro, Thidy Lopes, que mantém um salão em Belo Horizonte e atende o candidato há 25 anos, o efeito é discreto. O corte, diz, é curto e prático. Com um único senão: o ilustre cliente precisa de novo corte a cada 25 dias – quando os fios das sobrancelhas também são podados. O presidenciável, diz Thidy, tem poucos cabelos brancos, apenas nas têmporas, e chegou a sugerir que ele usasse um tonalizante. Parece que acatou o conselho. A barba? O próprio Aécio faz todos os dias.
Seu guarda-roupa mantém ternos de bons cortes, muitos nas cores azul-marinho e cinza-chumbo, que combinam com camisas sociais brancas e sapatos “italianos” pretos . As gravatas, de várias cores e estampas, são de seda e os acessórios, poucos: relógio com pulseira de couro e aliança de homem casado.
O Pastor Everaldo, do PSC, vai de imagem discreta. Quase sempre com um sorriso no rosto, tem aparecido de terno, cabelo ultra-asseado e barba feita. Eduardo Jorge, do PV, tem estilo informal. No Twitter, um internauta sugeriu que ele não alavancou nas pesquisas por causa da barba. Na rede, o candidato repudiou o estigma de barbados e respondeu: “Fico ainda mais feio sem barba”. Já Levy Fidelix, do PRTB, na cara somente aquele bigode. Nem um pingo de vergonha pelos absurdos que fala.
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