A conquista de uma atriz

Quando foi chamada para receber o prêmio de melhor atriz do Festival Paulínia de Cinema, no interior paulista, Maria Clara Spinelli tinha mais um motivo para comemorar: “Fui premiada como atriz e ponto. Não era um prêmio para melhor atriz transexual ou algo parecido. O reconhecimento veio pelo meu trabalho”, comenta. Em Quanto Dura o Amor?, do diretor Roberto Moreira, ela vive a advogada Suzana, que se apaixona por um colega, mas tem de colocar tudo a perder ao revelar um segredo – sua transexualidade. “Temos algo marcante em comum, mas não sou a Suzana. Tinha medo de que as pessoas não entendessem o meu trabalho como uma interpretação”. Moreira diz que fez vários testes para a personagem e não pensava obrigatoriamente em uma transexual para o papel. “Tivemos a sorte de encontrar uma excelente atriz que estava mergulhada na questão da transexualidade. Maria Clara mergulhou de cabeça no projeto e sua ‘Suzana’ é resultado de muita dedicação e talento”, afirma.

A estreia do filme, que também foi apresentado no Festival de Cinema Latino-Americano (em São Paulo), está prevista para setembro. Ela dividiu o prêmio com Sílvia Lourenço, sua colega de elenco, e Cristina Lago, de Olhos Azuis, do diretor José Joffily.
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Maria Clara não é uma desconhecida para os leitores da Brasileiros. Ela contou um pouco de sua vida na reportagem Além da Calçada, da edição de maio de 2008. Na época, ela tinha conseguido seus documentos femininos, depois de passar por uma cirurgia de redesignação sexual. “É um assunto que tenho de tratar sempre nesse início de carreira de cinema, mas os jornalistas, assim como o público, estão sendo bastante respeitosos ao me perguntar. Não fiz o filme para falar sobre a minha vida, mas percebi que é melhor que eu fale desse tema com transparência”, opina.

Maria Clara ainda mora em Assis, interior de São Paulo, onde é funcionária pública. As férias e licenças-prêmio são usadas para se dedicar à profissão de atriz. Ela espera que as repercussões do filme e do prêmio lhe abram caminho para o teatro profissional na capital paulista. Agora, espera fazer o mesmo caminho de Marina, a personagem de Sílvia Lourenço, que vem para São Paulo para fazer teatro. No filme, a aspirante a atriz passa a dividir um apartamento na avenida Paulista com a advogada Suzana. No mesmo prédio, mora o escritor Jay (Fábio Herford), que se apaixona pela prostituta Michelle (Leilah Moreno), que trabalha em uma boate da rua Augusta. “O prédio representa as utopias não realizadas do Brasil, é bem modernista e já foi de luxo no passado”, explica Moreira.

Marina se envolve com a cantora Justine (Danni Carlos), que é namorada do dono da casa noturna em que ela se apresenta, Nuno (Paulo Vilhena). Quanto Dura o Amor? retrata a solidão e as esperanças amorosas desses personagens que circulam por uma região que simboliza a própria metrópole. Maria Clara admite que teve medo quando uma amiga lhe falou do teste para a personagem Suzana. Vencidos os receios, a atriz espera, além de novas oportunidades profissionais, a exibição do filme no único cinema de Assis. Será a chance de sua mãe, Lydia, ver pela primeira vez a filha na tela grande. “Ela está muito lúcida e bem de saúde, mas como já tem 75 anos, evitamos o desgaste de viagens muito longas”, diz Maria Clara.


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