O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou, em entrevista à Brasileiros, que não concorda com as acusações de que o governo do PT está seguindo um caminho bolivariano inspirado no regime de Hugo Chávez na Venezuela. Na última manifestação contra a presidenta Dilma Rousseff, no sábado passado (15), os líderes do movimento falavam a todo momento que o caminho do Brasil é “virar uma Venezuela”, analogia com o modelo político do país vizinho,
“Creio que há, em alguns setores do governo e do PT, certa ambivalência em relação a alguns temas essenciais à democracia, como, por exemplo, a liberdade de expressão, assim como há uma tendência desses mesmos setores a silenciar diante de atropelos às liberdades e aos direitos políticos na própria Venezuela. Mas o conjunto do governo não pode ser chamado de bolivariano, pois não é favorável à supressão crescente das lliberdades e dos direitos democráticos e ao controle crescente dos preços da economia pelo Estado”, afirmou.
Fernando Henrique foi um dos entrevistados por Brasileiros para uma reportagem que será publicada na edição de dezembro que mostra como a sociedade brasileira está, de certa forma, semelhante à venezuelana em relação ao ódio entre classes. Lá, setores conservadores já aplicaram um golpe de Estado, em 2002, e organizaram diversas manifestações de rua contra o chavismo. Além dele, foram ouvidos o livre-docente em Relações Internacionais na América Latina da Universidade de São Paulo (USP), Rafael Villa, o jornalista e professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC), Igor Fuser, o correspondente da Folha de S. Paulo em Caracas, Samy Adghirni e o também professor de Relações Internacionais da Escola de Sociologia de São Paulo, Leandro Consentino.
O ex-presidente tucano também revelou que mantinha boa relação com Hugo Chávez quando os dois se coincidiram no poder em seus respectivos países. O venezuelano foi eleito em 1999, um ano depois da reeleição de Fernando Henrique Cardoso no Brasil. Os dois se encontraram em cárater oficial duas vezes enquanto chefes de Estado: em dezembro de 1998, dias antes da posse, em Caracas, e dois anos depois, em abril de 2000, quando FHC fez uma viagem oficial de dois dias à Venezuela, ocasião em que Chávez teria chamado o colega brasileiro de “mi maestro” (meu maestro, em espanhol).
“O Brasil havia intensificado suas relações com a Venezuela desde o período presidencial anterior, quando Rafael Caldera era o presidente. Demos então início à construção de uma interligação dos sistemas elétricos. Meu governo coincidiu com o primeiro governo de Chávez. Em 2002, o Brasil liderou a condenação dos países latino-americanos ao golpe que o tirou do poder por alguns dias em abril daquele ano. Chávez tomou rumos mais radicais depois de 2002 e o regime chavista se tornou crescentemente autoritário desde então, embora mantendo alguns procedimentos democráticos”, disse FHC.
Hugo Chávez morreu em março do ano passado, depois de alguns anos padecendo de um câncer de próstata. Em seu lugar, assumiu o vice, Nicolás Maduro, que foi eleito no mês seguinte. Fernando Henrique Cardoso, por sua vez, deixou o poder em janeiro de 2003 para Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e, desde então, dirige o Instituto Fernando Henrique Cardoso, em São Paulo.
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