Na ARTBO ninguém chega de limusine, como fazem alguns colecionadores na Arte Basel de Miami, nem tampouco se esbarra com astros de Hollywood ou estrelas do rock, mas se depender do otimismo dos organizadores isso poderá acontecer nas futuras edições da feira colombiana. Ao sucesso do evento juntam-se outras iniciativas igualmente poderosas, como a Bienal de Cartagena e Art-Encontro Internacional de Medellín. Para marcar seus 10 anos, a ARTBO convidou 66 galerias de 19 países, e o Brasil foi representado por dez delas: Millan, Luisa Strina, Baró, Triângulo, Eduardo Fernandes, Jaqueline Martins, Luciana Brito, Vermelho, Logo e Lume.
Nessa quarta viagem à Colômbia, percebi logo nos primeiros contatos com artistas, críticos, diretores de museus, bienais e feiras que o povo colombiano busca nova forma de enxergar a si mesmo. José Ignacio Roca, curador-assistente de arte latino-americana da Estrellita B. Brodsky, na Tate Gallery, em Londres, e diretor artístico da Ars Flora Natureza, espaço de arte contemporânea em Bogotá, é um dos agentes dessa nova ordem. Responsável por 14 projetos individuais da ARTBO, é atualmente o mais bem-sucedido crítico de arte do país. Uma de suas mostras, O Uso Estético do Objeto, focada na reflexão em torno da relação entre a arte e o desenho gráfico, refere-se ao design como uma das formas eficientes de alargar a compreensão da arte. Roca agrupou artistas como Los Carpinteros, de Cuba, representados por galeria de Zurique, e o brasileiro Daniel Acosta, da Hector Zamorra, de São Paulo. Ao falar de curadorias bem-sucedidas em feiras e de suas condicionantes, estamos falando do sistema de arte e suas ações para mostrar dentro desses eventos obras agrupadas com conceitos e robustez poética.
Assim, surgiu uma nova seção na ARTBO, a Referentes, onde artistas que estiveram no apogeu entre 1950 e 1980, como Ramírez Villamizar, Bernardo Salcedo, Débora Arango, entre outros, revelam a ressonância de seus trabalhos em várias gerações de artistas. Os destaques do conjunto são as obras abstratas e conceituais dos anos 1970, com a curadoria de Carolina Ponce de León e Santiago Rueda.
Em torno da ARTBO ocorrem mais de cem eventos paralelos e feiras, tanto para artistas emergentes como para outros com trajetória mais definida, entre eles Odeón, Million Fair e Synchrony. Cada um desses espaços surgiu para um propósito particular. O Espacio Odeón recebe galerias mais jovens, que não são aceitas na ARTBO. O charmoso edifício da década de 1940, ícone da arquitetura da época fica no centro de Bogotá, e permaneceu abandonado por quase 15 anos. Recuperado em 2011, o espaço recebe projetos inovadores, plataformas experimentais e residências de artistas. Nessa edição da ARTBO, o Odeón acolheu 16 galerias de vários países, sob a curadoria de Ximena Gama.
A Synchrony também se posicionou com artistas sem galerias, que ofereceram seus trabalhos diretamente ao público. O crítico Eduardo Serrano, curador da Colômbia na 2ª Bienal do Mercosul, de Porto Alegre, é o diretor artístico da Synchrony, que movimentou 500 obras de 77 artistas, em 60 estandes. Serrano levou a arte ao norte da capital ao se abrir aos criadores e não apenas às galerias. O mesmo se aplica a Million Fair, que não vende obras cujo valor exceda um milhão de pesos (U$ 500). A ideia de todos os curadores desses espaços é desmitificar o conceito de que a arte é elitista e dar a oportunidade às pessoas de transitarem por um lugar descontraído para comprar ou apenas fruir arte.
A Feira Internacional de Arte de Bogotá é a “mãe” de todas as outras feiras, como nos conta María Paz Gaviria, sua diretora desde 2012. Durante uma “rodada” com os jornalistas internacionais, a filha do ex-presidente da Colômbia Cesar Gaviria, importante colecionador de arte e dono da galeria Nueveochenta, não escondeu o orgulho da boa performance econômica e cultural de seu país. “Com os números otimistas atuais da Colômbia, a ARTBO tornou-se plataforma para o mercado e um evento eficiente para a visibilidade internacional da arte colombiana.”
Sob a direção da Câmara de Comércio, a ARTBO começou timidamente, mas foi crescendo a cada edição e neste ano reuniu em Corferias cerca de 300 pessoas influentes no mundo da arte, vindos de vários países. Isso permitiu que os artistas colombianos agora exibam mais seus trabalhos em outros Continentes.
Os quatro dias de feira, de 22 a 25 de outubro deste ano, atraíram mais de 30 mil visitantes, que deixaram milhares de pesos. María Gaviria acredita que esse não é um tempo efêmero. “Nossa luta é encontrar um equilíbrio entre o acadêmico, o comercial e o institucional. Essa harmonia é o que vai permitir que o mercado se torne estável e duradouro.”
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