ARTE! em Londres e Paris: Fiac e Frieze

Obra de Richard  Tuttle no Turbine Hall da Tate Modern, Londres
Obra de Richard Tuttle no Turbine Hall da Tate Modern, Londres

Enquanto o famoso galerista americano Larry Gagosian se apresentava nas feiras europeias com seus stands e artistas, com enorme sucesso – Gagosian possui galerias em Nova York, Londres, Paris, Hong Kong, e Roma, entre outras cidades –, seu nome mais uma vez aparecia nos jornais americanos como parte de uma briga ligada ao mercado da arte.

Ronald O. Perelman, bilionário CEO da MacAndrews & Forbes Holdings, controladora de empresas como a Revlon, Scientific Games and Deluxe Entertainment, ex-sócio de Gagosian, resolveu romper judicialmente com uma amizade de mais de 20 anos, por conta de uma negociação iniciada entre ambos por um Twombly, intitulado Leaving Paphos Ringed With Waves, pintado em 2009. Não que o objeto da briga fosse secundário, o trabalho do pintor americano – que morreu em 2011 e foi, de acordo com alguns críticos, um dos maiores influenciadores na pintura contemporânea – tem se valorizado muito. Suas obras estão nas coleções permanentes do MoMA e do Louvre.

No ganha-ganha que acabou rendendo mais de U$ 1 milhão de dólares de comissão a Gagosian, Perelman perdeu o quadro que tinha reservado por ter se encantado com ele e questiona a propriedade e boa-fé do negócio. “Arte é uma coisa maravilhosa, mas vem sendo maculada, e isso tem de ser corrigido”, disse ao jornalista Robert Frank, do New York Times, em outubro deste ano.

Nesse sentido, o que importa é que o próprio mercado tem sido sensível aos desmandos.

As feiras de arte e as galerias que se apresentam em cada uma delas se transformaram em eventos pivô, capazes de atender ao público colecionador e comprador de arte e estender seu serviço a um público cada vez mais ávido e envolvido com a cultura contemporânea. De alguns anos para cá, tem sido criadas mais de 15 feiras no mundo, a exemplo da Abu Dhabi Art 2014 Galleries, que acontece agora em novembro, no distrito cultural de Manarat Al Saadiyat, onde participam inúmeras galerias da Ásia.

Junto a instituições culturais públicas e privadas de cada uma das cidades onde acontecem, as feiras têm promovido redes de relacionamento que acolhem os inúmeros visitantes locais e internacionais interessados em acompanhar a cena do mundo das artes plásticas do seu país e criado programas de incentivo para doações para museus, em parceria com fundos de investimentos de arte.

Em Londres, no mês de outubro, em paralelo à Frieze, inauguraram simultaneamente quatro exposições ímpares, comentadas nesta edição pela nossa colaboradora Tereza de Arruda.

Em Paris, além da abertura da tradicional FIAC, onde galeristas alemães participam apenas por gostar de expor no Gran Palais, onde acontece a feira, ocorriam duas exposições: uma retrospectiva de Marcel Duchamp, no Centre Pompidou, e Sade, no Museé d’Orsay.

Outra característica é que todas elas avançaram nos espaços públicos, criando “Jardins de esculturas”, o que permitiu aos artistas apresentar obras em diferentes tipos de suportes.

Apesar de serem semelhantes, levando em consideração as galerias que se apresentam, os formatos expositivos, as seções e serviços, as feiras possuem atmosferas diferentes. Em primeiro lugar porque atendem a expectativas locais, e seu público, apesar de congregar um seleto grupo que se desloca de país a país para acompanhar as novidades, é frequentado principalmente pelos nativos, o que lhes acaba conferindo uma inevitável identidade.

A Frieze London, que é montada a 12 anos no Regent’s Park, em Londres, tende a apostar em artistas mais jovens. Nessa feira, que também ocorre no mês de maio em Nova York, os cabelos e os sapatos das londrinas se misturam às telas e às instalações, e nela parece haver um quê de frescor, sempre cativante.

Há três anos, em virtude da volta do colecionismo para a pintura e os mestres de diferentes períodos, a Frieze criou a Frieze Masters, que já recebe mais de 120 galerias com obras do século XX. A Marlborough Fine Art, por exemplo, apresentou várias obras de Francis Bacon difíceis de encontrar. Apenas duas horas depois de ter aberto, a galeria Dikinson já havia vendido um Picasso, Le Peintre au Travail, de 1964, por 1,5 milhão de libras.

A Masters montou um programa de discussão da História da Arte com a participação de Wim Pijbes, diretor do Rijksmuseum, de Amsterdam, e artistas como o sul-africano William Kentridge.

Na FIAC, onde a noiva é a galeria de Emmanuel Perrotin, preferida do artista japonês Takashi Murakami, é mais “comportada”, trabalhos contemporâneos parecem ser escolhidos a dedo pelos galeristas para um público mestre no modernismo. A França é representada por 48 galerias das 191, de 26 países, pouquíssimas brasileiras, os países mais representados são os EUA e a Alemanha.

Neste ano, a FIAC inaugurou um outro espaço para poder acolher artistas mais jovens, o (OFF)ICIELLE, no Docks – Cité de la Mode et du Design, nas margens do sena, no Quai d’Austerlitz.

Muito para ver e refletir. Esses encontros estão se tornando imprescindíveis para os viciados em arte.


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