Como a tecnologia pode auxiliar em tempos de crise hídrica

Represa do Jaguari, na cidade de Vargem, no interior do Estado, que abastece o sistema Cantareira, principal fonte de água da Grande São Paulo, em 9 de julho. O volume de água nos reservatórios do Cantareiracontinua caindo. Foto: Fernanda Carvalho/ Fotos Públicas
Represa do Jaguari, na cidade de Vargem, no interior do Estado, que abastece o sistema Cantareira, principal fonte de água da Grande São Paulo, em 9 de julho. O volume de água nos reservatórios do Cantareiracontinua caindo. Foto: Fernanda Carvalho/ Fotos Públicas

Um dos assuntos mais populares nos noticiários em 2014, a crise hídrica enfrentada por alguns estados brasileiros começou a alterar a rotina de parte da população nos últimos meses.  A escassez da água pode ser explicada por diferentes fatores, os mais propalados são a falta de planejamento, os investimentos limitados e a falta de chuvas nas regiões das represas (o argumento predileto das autoridades).

Mas como a tecnologia pode ser uma aliada em tempos de crise hídrica? Os exemplos (bons exemplos) surgem de diversos lugares. A Califórnia, estado mais populoso dos EUA, vive atualmente a maior crise hídrica de sua história. Muito além de campanhas publicitárias e incentivos à economia, a Califórnia é hoje berço de inúmeros estudos e “startups” de empresas focadas em soluções de gestão e tratamento de água.

A Sentinel Hydrosolutions, por exemplo, desenvolveu um produto voltado aos clientes finais chamado “Leak Defense Alert”. Esta solução é capaz de monitorar todo o ciclo de utilização de água de uma residência, gerando relatórios e indicadores de consumo, além de detectar vazamentos em encanamento ou torneiras e enviar alertas ao usuário. 

Já a “Water Smart Software”, oferece um software de gestão “inteligente”, que permite as concessionárias controlar todo o processo de abastecimento, detectando desvios no fluxo e vazamentos desde a fase de tratamento e armazenamento, até o efetivo transporte da água. Além disso, envia a todos os clientes finais relatórios personalizados com informações do consumo, estatísticas, comparação com o consumo de residências com características parecidas e dicas visando a economia de água.

Mas os bons exemplos não são apenas internacionais. A capital sul-mato-grossense, Campo Grande, adotou um software Israelense de gestão de saneamento chamado TaKaDu. Solução congênere ao Water Smart Software, o TaKaDu já é utilizado por países como Espanha, Inglaterra, Austrália e Holanda. Por conseguinte, o Mato Grosso do Sul é hoje, segundo dados do Instituto Trata Brasil, o estado brasileiro com menor índice de desperdício de água no processo de abastecimento, com cerca de 19%. Para uma melhor compreensão da importância deste número, a SABESP, responsável pelo abastecimento do estado de São Paulo, desperdiça quase 40% da água “produzida” antes da mesma chegar as residências.

É evidente que tais soluções aplicadas isoladamente não são capazes de alterar significativamente o cenário atual. A implantação de algumas tecnologias exige um grau de investimento muito maior em infraestrutura. Em San Diego, por exemplo, está sendo construída uma estrutura de tratamento voltada a dessalinização da água do oceano Pacífico, capaz de abastecer até 300 mil residências. Já Las Vegas, cidade construída em meio ao deserto de Mojave, é hoje uma das cidades com maior índice de reutilização de água no mundo. Nenhuma das tecnologias citadas é atualmente utilizada no Brasil (Campinas deve ser a primeira a implementar sistemas de reuso).

Enquanto os grandes investimentos, e a chuva, não acontecem, soluções de gestão inteligente da água podem ser, sem dúvida, importantes aliadas para perpetrar um aumento no nível de eficiência dos serviços de saneamento e uma diminuição no desperdício por parte de concessionárias e clientes.


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