O Brasil tem se tornado, como já observamos, um dos maiores polos de produção de teatro musical do planeta. São Paulo é a segunda maior cidade do mundo com espetáculos do gênero. Vale ressalvar que temos produções do mais alto nível técnico e artístico possível. Temos também, é verdade, uma quantidade razoável de musicais, digamos, importados, sucessos em outros países, que chegam aqui meio prontos. Mas são traduzidos para o português e adaptados por brasileiros, com nossa linguagem, e ensaiados, encenados, com cenários, figurinos e tudo mais produzidos no Brasil. Vem lá de fora, portanto, alguns “enlatados”, com dramaturgia, direção geral e, eventualmente, músicas (cujas letras também são traduzidas ou adaptadas por compositores brasileiros e executadas por músicos e orquestras do País).
Mas também tivemos, nos últimos anos, vários musicais adaptados de biografias de algumas estrelas de nossa música. Essas peças, muitas vezes criadas facilmente por conta de repertórios já prontos de cantores consagrados, acabam sempre meio fragilizadas por se tornarem vítimas de dramaturgias pobres ou meramente contextualizadas para que os sucessos do “homenageado” sejam cantados pelo público. Dessas produções, diríamos, algumas podem ser consideradas boas justamente por conta dos artistas que interpretam as canções dessas estrelas. São musicais para todos os gostos. Os indicados a seguir têm algo em comum: todos são excelentes.
Ópera do Malandro
Também merecem destaque os musicais produzidos pela cena do teatro de grupo paulistano, que, invariavelmente, faz o que há de mais interessante e instigante. Está em cartaz, por exemplo, o espetáculo Ópera do Malandro, da Cia. da Revista, agora
em sua sede própria, na Barra Funda, depois de uma bem-sucedida temporada no Centro Cultural Banco do Brasil. A peça escrita por Chico Buarque é revisitada agora por 18 atores no palco, sob a direção de Kleber Montanheiro (também em cena como Geni), que interpretam 16 canções com toda a brasilidade à flor da pele, com cenários remetendo às favelas e aos cais de portos clandestinos, trazendo, assim, um ambiente mais sombrio e dramático do que o tradicionalmente visto em musicais (inclusive
da montagem original de 1978, no Rio de Janeiro).
Espaço Cia. da Revista – Sala Miniteatro
Alameda Nothmann, 1.135, Campos Elíseos, centro de São Paulo –
11 3791-5200. Duração: 180 minutos. De sexta a domingo, às 20h. Até 15/12
Cazuza – Pro Dia Nascer Feliz, o Musical
Vale conferir o impressionante trabalho do ator Emílio Dantas, dirigido por João Fonseca. A peça conta a história de Cazuza, antes, durante e depois de sua passagem pelo Barão Vermelho. Fala sobre sua juventude,
o sucesso e a luta contra a AIDS, cujos dramas, embora conhecidos pelo grande público, são mostrados de forma bem costurada com suas músicas. Chama a atenção a qualidade do visagismo e da caracterização dos personagens, visivelmente estudados pelos atores, que não os representam (felizmente!) sem caricaturas fáceis.
Teatro Procópio Ferreira
Rua Augusta, 2.823, Cerqueira César, zona oeste de São Paulo – 11 3083-4475. Duração: 165 minutos. Quintas e sextas-feiras, às 21h. Até 21/12
O Homem de La Mancha
A cena brasileira também tem se destacado nas chamadas superproduções, que poderiam tranquilamente estar em qualquer palco da Broadway ou de West End. Exemplo desses espetáculos é essa maravilhosa montagem de Miguel Falabella.
O musical traz os atores Cleto Baccic, Sara Sarres, Kiara Sasso e um elenco enorme, realmente afinado, que impressionaria qualquer público, de qualquer lugar do mundo. O espetáculo é ambientado em um manicômio na década de 1930, no qual um dos internos, o cobrador de impostos, se apresenta como Miguel de Cervantes e leva todos à historia de Dom Quixote, em uma mistura de fantasia e realidade. Um cenário espetacular, figurinos deslumbrantes, uma história incrível e canções lindas compõem esse espetáculo realmente fantástico.
Centro Cultural FIESP Ruth Cardoso – Teatro SESI São Paulo
Avenida Paulista, 1.313, Bela Vista, região central de São Paulo – 11 3146-7406. Duração: 105 minutos. De quarta a sexta-feira, às 21h. Até 21/12. Entrada franca
*Evaristo é conselheiro da APCA – Associação Paulista de Críticos de Arte e jurado do Prêmio Shell de Teatro. Atualmente, colabora para a SP-Escola de Teatro e também é parecerista do Ministério da Cultura para projetos de artes cênicas da Lei Rouanet.
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