Carla tem cerca de 50 anos e, para suportar o calor do verão no Rio de Janeiro, toma 50 quilos de sorvete em um dia. Tudo sem conservantes nem açúcar. Carla é a elefanta do Zoológico do Rio e tem sua dieta cuidadosamente controlada pela zootecnista Karla Cunha. Para refrescar o verão deste ano, o zoológico se preparou comprando um novo freezer e dobrando a produção de “sorvete” para os animais.
“Com o calor, a gente percebe que os animais ficam quietos, fadigados e apáticos. Com o sorvete, eles se movimentam mais e se refrescam. A apatia diminui no momento de prazer que eles têm”, conta a zootecnista.
Desde novembro, o zoológico prepara 200 quilos de comida congelada para os animais, que são distribuídos a primatas, felinos, ursos e elefantes. Os carnívoros, como o tigre e a onça, recebem carne congelada. Já os onívoros – que se alimentam de vegetais e carnes – como os chimpanzés, recebem frutas batidas com iogurte ou puras. Além disso, a poda das árvores foi interrompida para garantir mais sombra, e as jaulas contam com aspersores de água e renovação de água corrente.
Além de se refrescar, os animais são estimulados a procurar a melhor forma de comer os lanches. Os macacos, por exemplo, ao perceberem que se trata de um alimento gelado, aprendem a comer os picolés de fruta no palitinho. Já os elefantes têm que encontrar formas de quebrar o gelo para pegar a fruta congelada com a tromba: “Tudo isso vai ativando o raciocínio e a memória e faz com que o animal aumente a atividade física. Eles interagem, e isso e aguça os sentidos, como olfato e paladar”.
Os sorvetes e picolés não podem levar açúcar e têm que ser preparados pelo próprio zoológico para atender às necessidades de cada espécie. As frutas preferidas têm sido as que contêm água, como a melancia, o melão e a uva. Segundo Karla, alimentar os animais com sorvete normal pode causar diabetes e problemas dentários, como cáries.
A dieta especial vai até março, quando acaba o verão, e os visitantes do zoológico podem conferir os animais tomando sorvete nos horários de mais quentes: no fim da manhã e no início da tarde.
Com um picolé na mão, Gabriel Machado, de 5 anos, foi ao zoológico do Rio com a família na manhã de hoje (12), quando os termômetros registravam 36,4 graus Celsius, segundo o Sistema Alerta Rio da Prefeitura do Rio de Janeiro. “Está muito calor mesmo. Meu pai até colocou ar condicionado na minha casa. Para o bicho, o jeito é tomar o picolé”, se diverte ele.
Para Hiago Silva, de 10 anos, nem os picolés amenizam o calor que os animais estão passando no verão. Morador da Rocinha, ele foi ao zoológico em um passeio da colônia de férias organizada pela unidade de polícia pacificadora de sua comunidade. Já Felipe Barbosa, de 10 anos, que foi no mesmo grupo e discorda do colega e defende os picolés: “é claro que dá jeito [no calor]!”. Em uma coisa, no entanto, os dois concordam: nunca tinham visto bicho tomando sorvete.
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