Peça invoca Madame Satã e narra dramas de negros homossexuais

Um buquê de flores, cartas românticas, bombons e a música Proposta de Roberto Carlos. É recorrendo à moda antiga que um jovem se declara a seu grande amor, na abertura da peça Cartas à Madame Satã ou me Desespero sem Notícias suas, que faz temporada no Sesc Ipiranga. O protagonista dessa cena de paixão, no entanto, é um negro gay, que vive um amor não correspondido.

É assim que conhecemos o personagem interpretado pelo ator Sidney Santiago Kuanza, no monólogo criado pela Cia. Os Crespos, que encerra a trilogia Dos Desmanches Aos Sonhos. A companhia, fundada há dez anos, é composta por atores negros e possui um trabalho de pesquisa em torno da aceitação da população negra na sociedade contemporânea.

A peça invoca o célebre personagem Madame Satã, famoso na noite boêmia carioca dos anos 1930, que vira uma espécie de interlocutor desse jovem apaixonado. Em um quarto pequeno, decorado de forma pitoresca com tecidos de renda, o público mergulha não apenas nas intimidades do protagonista, mas também nos sofrimentos de muitos gays que não conseguem viver sua afetividade livremente.

“Conversamos com garotos de programa, gays, travestis e transsexuais, em diversos lugares da cidade, e depois cruzamos essas histórias com a de Madame Satã, que tinha o estereótipo de ser um homem negro, forte e marginalizado, mas era assumidamente gay. Mesmo com as dificuldades enfrentadas na Lapa do século passado, ele conseguiu viver livremente, sem esconder sua afetividade”, avalia a diretora do espetáculo Lucélia Sergio.

Durante a peça, são exibidos trechos de vídeos gravados na rua e em penitenciárias, com jovens negros e gays, que contam um pouco dos sofrimentos afetivos pelos quais passaram.”A gente mora em São Paulo, a maior metrópole do país, onde há mais pessoas tentando viver livremente. Mas se a gente vai para as periferias, onde existe uma castração muito maior do ser, vemos pessoas sendo expulsas de casa para conseguirem viver o que elas realmente são. A questão não é saber com quem você se deita, mas sim, ter liberdade para amar, independente dos padrões da sociedade”, diz Lucélia Sergio.

Confira as datas, horários e preços da peça na Agenda!B.


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