Por meio de diferentes estudos, o Data Popular vem mostrando que a redução da miséria e a ascensão da Classe C no Brasil decorrem principalmente da estabilidade econômica, da oferta elevada de empregos formais e do aumento da renda.
Em períodos de inflação mais alta, no entanto, o trem da ascensão social e econômica reduz sua velocidade. Em tempos recentes, a elevação de preços atingiu sobretudo o setor de alimentos, penalizando de forma especial a base da pirâmide.
Convém examinar um exemplo. Segundo o Índice de Preços ao Consumidor (IPC-Fipe), medido na cidade de São Paulo, a inflação fechou novembro com alta de 0,69%, após aumento de 0,37% no mês anterior.
O grupo Alimentação foi o que mais cresceu, com alta de 1,55%. A variação no item Transportes foi de 0,21%. No caso de despesas pessoais, houve aumento de 1,24%.
Pesquisa que realizamos no final e 2014 revela que, em comparação com 2013, metade dos brasileiros está comprando menos itens no supermercado. No total, 35% adquirem menos; 15%, muito menos.
Na outra metade, 19% compram o mesmo que antes; 17%, mais itens; e 13%, muito mais.
Nossa consulta foi realizada em 100 cidades, nas cinco regiões do País, com 3.200 pessoas. Cabe destacar que 79% delas afirmam que, em comparação com o ano passado, gastam mais no supermercado. “Gasto muito mais”, aliás, é a resposta padrão de 53%.
Hoje, segundo o mesmo estudo, 62% concordam com a frase “tenho muito medo da inflação”. Um grupo de 23% concorda em parte com a asserção. Dessa forma, 85% temem a alta de preços.
No primeiro semestre, realizamos outra pesquisa, ouvindo 2 mil pessoas em 63 favelas brasileiras. Para 70% delas, a percepção é de que, em 2014, está mais difícil pagar as contas.
Na época da pesquisa, 26% dos moradores de favelas tinham carnês ou boletos em atraso. No total, 23% eram inadimplentes.
Neste estudo, já havíamos detectado a influência da alta de preços dos alimentos nas finanças domésticas. Se o tomate, o arroz, o feijão e a carne ficam mais caros, é possível que ocorra atraso no pagamento da prestação da geladeira ou do plano de saúde.
A pesquisa mostrou também que 81% pesquisam mais antes de comprar. Trata-se, enfim, de boa notícia. O consumidor bem informado ajuda a estabelecer preços mais justos e a inibir players comerciais interessados em ganhar com a alta de preços.
Os resultados do estudo, no entanto, acendem o sinal amarelo com relação aos rumos da economia. Depois de seguidos anos de sucesso na inclusão social e econômica, o Brasil precisa novamente controlar o monstro da inflação. Ela sempre tem fome. E engole primeiro os mais pobres.
*Renato Meirelles é presidente do Instituto Data Popular
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