“A história da inovação é a história da perseguição”

Para que a pesquisa científica tenha continuidade, é fundamental que não haja riscos de interrupção. Foi isso que o professor Luiz Gonzaga Belluzzo, diretor da Faculdade de Campinas (Facamp) e professor titular da Universidade Estadual de Campinhas (Unicamp), aprendeu em sua experiência como secretário de Ciência e Tecnologia no Estado de São Paulo, nos anos 1990. Ele diz acreditar que existe um desprezo no País em relação ao planejamento, ao horizonte que a pesquisa científica precisar ter.

“É por acumulação. Os resultados não vão cair do céu. As pessoas têm a ilusão de que é possível montar um sistema de tecnologia em poucos anos. Não é. Isso é uma construção de longo prazo. E nós temos de respeitar essa natureza da pesquisa científica. Nas universidades, os pesquisadores acabam se desalentando porque os programas não têm perspectiva mais longa. Nenhum país criou sistema de ciência e tecnologia da noite para o dia”, afirma.

Belluzzo cita empresas japonesas, coreanas e, em menor medida, as alemãs, como exemplos de corporações que foram criadas a partir de importantes pesquisas tecnológicas. “Até os anos 1980, ninguém sabia o que era a Samsung, ninguém sabia o que era a LG, ninguém dava importância para as empresas automotivas japonesas e coreanas. Hoje, o nosso mercado automotivo está sendo invadido pelas empresas coreanas”, diz.

“A história da inovação”, para o professor Belluzzo, “é a história da perseguição”. No Brasil, empresas como Embraer, Petrobras, Vale e Embrapa são modelos dessa perseguição. “Precisamos escolher os vencedores”, afirma, enfaticamente, em uma alusão às experiências exitosas da história do desenvolvimento industrial brasileiro. “Temos de definir objetivos claros. É preciso ter foco. Ciência de longo prazo, com continuidade do financiamento. E escolher setores onde o Brasil possa ganhar dianteira tecnológica.”

A Petrobras, segundo o professor Belluzzo, é um dos mais bem-sucedidos exemplos no País. Desenvolveu uma tecnologia que a coloca na liderança da exploração de petróleo em águas profundas. E o motivo, explica o professor, é uma estrutura empresarial bem montada, com articulação no setor privado. “Na pesquisa tecnológica, nós não temos avançado tanto porque há um descompasso. Sem o setor empresarial, seja ele público ou privado, a coisa não vai”, diz.


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