“A inovação precisa acontecer no ambiente empresarial”

“Nós somos um país muito jovem no campo da ciência e da tecnologia, mas nas últimas décadas houve grandes avanços no Brasil.” Esta é a avaliação de Glaucius Oliva, presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). “Quando o CNPq foi criado, há 60 anos, éramos muito atrasados. A Academia Brasileira de Ciências foi fundada em 1916, mas só na década de 1960 começaram os primeiros programas de pós-graduação. A grande expansão universitária teve início apenas na década de 1970.”

Ele enumera os pontos-chave: “Crescimento e desconcentração da ciência e tecnologia, implantação de infraestrutura e recursos humanos qualificados em todas as áreas do conhecimento, em todas as regiões do País”. A produção científica nacional, informa Oliva, hoje alcança 2,7% de todo conhecimento produzido no mundo. O Brasil está na 13a posição entre os países que produzem conhecimento.

Segundo o Censo 2010 do Diretório de Recursos de Pesquisa do CNPq, o Brasil tinha pouco mais de 4 mil grupos de pesquisa fazendo ciência no País, em 1993, e agora tem 27,5 mil grupos de pesquisa sediados em 452 instituições. “Tínhamos 21 mil pesquisadores e hoje somos 130 mil. E pulamos de 10 mil doutores para mais de 80 mil doutores nesses grupos de pesquisa”, afirma.

Esse aumento acontece simultaneamente a um processo de descentralização geográfica. Em 1993, a região Norte respondia por 1,7% dos grupos de pesquisa, com 77 grupos. Hoje, tem 1,4 mil, o que corresponde a mais de 5%. Considerando apenas os últimos dez anos, o crescimento na região Sudeste no foi de 7 mil para quase 13 mil grupos de pesquisa.

Oliva também é professor titular do Instituto de Física da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) e coordenador do Centro de Biotecnologia Molecular Estrutural (CBME), um dos centros financiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Ele informa também que o CNPq mantém o maior banco de currículos certificados no cenário internacional. São 2,3 milhões. Desse total, 1,4 milhão com pelo menos uma produção no quesito ciência e tecnologia ou artes. São quase 400 mil currículos com um ou mais artigos científicos publicados, sendo 8 mil com patente ou com pedido de patente registrado. E mais de 400 mil com mestrado ou doutorado.

Para Oliva, o cenário mudou fortemente. Até meados da década de 1980, a produção científica brasileira era de menos de 0,5% da produção internacional. Na época, o País produzia 2,4 mil artigos científicos por ano, considerando os publicados em revistas de circulação internacional. Hoje, esse número supera os 32 mil por ano. Em 2002, o Brasil tinha 43 universidades federais e agora tem quase 60, além de quatro em processo de criação.

“Temos universidades federais em 230 municípios e em todas as regiões do País. A isso, somam-se os mais de 400 municípios atendidos por instituições da rede federal de educação profissional científica e tecnológica”, afirma.

A média de pesquisadores ainda é inferior à dos países desenvolvidos e também menor que a média mundial. De 1996 a 2006, foram formados 85 mil doutores. Em 2008, 77% desses doutores estavam trabalhando com educação; 11% em administração pública; 4% em atividades profissionais de ciência e tecnologia, em institutos de pesquisa básica ou tecnológica; 3% na saúde; 1,4% na indústria de transformação; 0,4% na indústria extrativa; 0,4% na agricultura; 0,4% no comércio; 0,23% em atividades do setor de informática e comunicação; e 0,22% em construção civil.

“Temos aí um grande desafio. Incorporar pessoal altamente qualificado e preparado para fazer pesquisa no ambiente industrial. A inovação precisa acontecer no ambiente empresarial e é fundamental que tenhamos pessoas preparadas”, diz. Em 1996, 16% dos doutores formados estavam na área de ciências exatas e da terra. Hoje, são 10%. Naquele mesmo ano, quase 14% dos doutores se formaram em engenharia. Hoje, são 11%. “Temos crescido na formação de doutores, mas não o suficiente para que o País alcance os níveis de desenvolvimento desejados”, afirma.
A maior parte das patentes no Brasil é registrada por agentes dentro das universidades. “É um perfil inverso daquilo que a gente espera”, lamenta Oliva. Nos Estados Unidos, 1% das patentes são oriundas das universidades. A grande maioria vem das empresas.

Os desafios, segundo Oliva, são o incentivo à inovação nas empresas e cooperação entre universidade e empresa. “Precisamos formar mestres e doutores que, no ambiente empresarial, vão ter a chance de fazer a transformação que o País deseja. Precisamos de mais qualidade, impacto e relevância da ciência brasileira. A taxa de crescimento no número de publicações é muito maior que a taxa de crescimento do impacto da nossa ciência. É um grande gargalo. Necessitamos de maior internacionalização para nos integrar aos grandes centros do mundo. Trazer gente de fora. Mandar gente nossa para fora. Precisamos modernizar a gestão, avaliação e acompanhamento. Com desburocratização e flexibilização da utilização dos recursos destinados para a ciência e tecnologia”, afirma.

Segundo Oliva, o programa especial de ciência e tecnologia “Ciência Sem Fronteiras” visa investir na formação de pessoal altamente qualificado nas competências e habilidades necessárias para o avanço da economia do conhecimento. O foco, diz ele, é nos grandes desafios nacionais: engenharias e demais áreas tecnológicas, áreas estratégicas e na promoção de pesquisa e desenvolvimento no ambiente empresarial.


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