“A estratégia de ação brasileira tem de ser global”

O diretor-presidente do Instituto Tecnológico Vale, Luiz Eugênio Mello apresentou no seminário um dado surpreendente: “Das empresas que estavam no Índice Dow Jones (o principal indicador do mercado de ações em Nova York) quando ele foi criado, só uma ainda está hoje entre as 500 maiores empresas do mundo. Todas as outras não existem mais ou não estão entre as 500 maiores”. revela. Hoje, a vida média das empresas, segundo Mello, é da ordem de 15 anos. Já foi de 35 anos em 1975, e de 90 anos em 1935. “A vida média das empresas vem encurtando rapidamente.”

Segundo o palestrante, investir em pesquisa e desenvolvimento pode mudar completamente os rumos de uma corporação. “Duas empresas alemãs começaram produzindo anilina: Basf e Agfa. Hoje, nenhuma das duas produz anilina ou, se produz, é algo insignificante no conjunto da empresa”, diz. Ele cita ainda a empresa finlandesa Nokia, uma das gigantes na área de telefonia móvel, fundada no século 19, que também iniciou suas atividades em outro ramo: era uma empresa de polpa de papel.

Pesquisa e desenvolvimento podem ser a base do sucesso, da sustentabilidade, da existência de uma empresa no longo prazo. Esse modelo teve início nos Estados Unidos, na década de 1920, e o seu auge nas décadas de 1950 e 1960. Começou a declinar na década de 1980. Era um modelo em que as empresas investiam fortemente em núcleos de pesquisa e desenvolvimento e esses núcleos teoricamente dariam um futuro de longo prazo para as empresas.

Uma delas foi a Xerox, que criou o Palo Alto Research Center (Parc), no Vale do Silício, na Califórnia. No Parc, foram criados a tela de touchscreen e o mouse. Mas a Xerox não patenteou nenhum desses dois produtos porque eram irrelevantes para fazer fotocopia, que era a atividade principal da empresa. “Isso significa que criar um centro de pesquisa e desenvolvimento não quer dizer que esse centro estará aderido a sua estratégia de desenvolvimento”, diz.

Na indústria automotiva, por exemplo, o valor investido em pesquisa e desenvolvimento gira em torno de 5% do faturamento. “Esse, certamente, não é um número do Brasil. A indústria farmacêutica, de 10% a 15%. E esse também não é um número do Brasil”, diz. A Vale, segundo Eugênio Mello, investe um percentual um pouco superior ao das outras empresas da área de mineração, que é de 0,5%. “A Vale investe 0,74% do seu faturamento em pesquisa e desenvolvimento e a Petrobras investe perto de 0,85%. Em ambos os casos, o investimento é maior que seus congêneres no resto do mundo”, diz.

Cinco anos atrás, a Vale realizou o maior investimento de uma empresa nacional na aquisição de uma empresa estrangeira. Com a aquisição, a Vale passou a ter centros de pesquisa no Brasil e no exterior. “A nossa estratégia de ação tem que ser global. A gente tem de olhar para a China e ver que a China é o segundo maior país produtor de ciência e tecnologia do mundo. A gente tem de olhar para os Estados Unidos e ver que eles ainda são o primeiro produtor de ciência e tecnologia do mundo. A gente tem de se apropriar dos valores, das vantagens que a gente pode ter e, sobretudo, da interação que a gente pode construir entre um centro de pesquisa que a gente desenvolve aqui e um centro no exterior”, afirma.
Por isso, a Vale criou o seu Instituto Tecnológico, com um investimento superior a US$ 400 milhões ao longo de cinco anos e que é único no Brasil e no mundo. “Internacionalizamos a nossa ciência porque trazemos pesquisadores de fora para trabalhar aqui”, diz. O instituto começa com duas unidades, uma delas na região Norte do País, exatamente uma das áreas menos desenvolvidas em termos de pesquisa e desenvolvimento. “Com isso, alavancamos essa dimensão regional”, afirma. A criação do instituto habilita a Vale a ter parcerias com instituições no exterior e habilita outras instituições do Brasil a fazerem essas parcerias.

A Vale é a maior transportadora de carga do País e também é a maior consumidora de energia. De toda a energia consumida no Brasil, a Vale abocanha 4,5%. “O mundo está mudando de economia de mercado, para o que pode ser chamado de uma economia verde. Nessa economia verde, a liberdade de operação, as questões de sustentabilidade, de compromisso com o meio ambiente, maior eficiência na utilização de energia e no consumo de água vão ser aspectos fundamentais sem os quais ninguém vai conseguir operar”, diz.

Segundo ele, a Vale tem ciência de que as empresas têm uma expectativa de vida que pode ser desafiadoramente curta na medida em que o tempo passa. E o instituto tem, entre as suas metas, desenvolver uma perspectiva de futuro para a empresa. “É uma iniciativa ambiciosa e audaciosa. As duas outras grandes empresas de mineração com as quais nós nos comparamos não adotaram a mesma estratégia. Elas pegaram um caminho, nós pegamos outro. Isso é desafiador porque precisamos demonstrar que a nossa estratégia é efetiva”, afirma.

O Instituto Tecnológico Vale tem uma parceria importante com fundações de apoio à pesquisa nos Estados do Pará, Minas Gerais e São Paulo. “Foi a maior iniciativa desse tipo realizada por uma empresa no País, com investimento de R$ 120 milhões”, revela. Contando com cinco membros da Academia Brasileira de Ciências, o instituto pretende atrair pessoas capacitadas, com visão diferente do mundo. “Tentamos contribuir para que essa empresa, que é motivo de orgulho para todos nós, daqui a 50 anos continue sendo um motivo de orgulho.”


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Uma resposta para ““A estratégia de ação brasileira tem de ser global””

  1. vide material sobre empresa Vale

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