Kay Rala Xanana Gusmão, 68, primeiro-ministro timorense, que pediu demissão do cargo nesta sexta-feira, disse que sua saída tornou-se “obrigação moral e política” e que a decisão pretende abrir caminho à nova geração.
“Ou agora ou nunca mais e ficava a nova geração demasiadamente dependente”, afirmou Gusmão depois de participar de um debate político em Díli sobre transição política e liderança. Ele disse ainda que prefere o termo “deixar” o cargo de primeiro-ministro do que “abandonar, que tem um significado muito pejorativo”, considerando que o momento é histórico não por sua causa, mas pelo que representa em termos de transição de uma geração.
Kay Rala Xanana Gusmão nasceu em Laleia, no Distrito de Manatuto, em 20 de junho de 1946. Durante séculos, a parte oriental da ilha esteve sob colonização portuguesa e, em 1975, foi ocupada pela Indonésia.
Após a invasão indonésia, Xanana fugiu para as montanhas junto com o movimento guerrilheiro Falintil, braço armado da Frente Revolucionária de Timor Leste Independente (Fretilin). Em março de 1981, é eleito líder da resistência e comandante chefe das Forças Armadas de Libertação Nacional do Timor Leste (Falintil).
Em 1992, após 17 anos de guerrilha, foi capturado pelo Exército indonésio e condenado à prisão perpétua, decisão que foi revista mais tarde: a nova condenação determinava 20 anos de prisão.
Xanana tornou-se o preso político mais conhecido do país. Ficou detido até 1999, quando a condenação foi novamente revista em razão do forte apelo internacional. Nelson Mandela (ex-presidente da África do Sul, que esteve preso por mais de 20 anos devido à resistência ao apartheid) foi um dos que intercederam por sua liberdade.
Em agosto de 1999, em um referendo popular promovido pela Organização das Nações Unidas (ONU), 80% da população optaram pela independência do Timor. A independência foi mal recebida por milícias indonésias que, apoiadas pelo governo, invadiram o território. Cerca de 2 mil pessoas foram mortas e o agravamento da situação teve grande repercussão internacional. A ONU interveio e enviou forças de paz – da qual participaram integrantes do Exército brasileiro – para manter a tranquilidade e assegurar a ordem na região. Até maio de 2002, quando foi formalizada a existência do Timor Leste como país independente, quem governou o território foi o brasileiro Sérgio Vieira de Mello, representante da ONU.
No dia 14 de abril de 2002, Xanana Gusmão foi eleito o primeiro presidente da República Democrática do Timor Leste, tendo tomado posse em 20 de maio. O seu mandato terminou em maio de 2007.
“Xanana foi importante líder da independência timorense. Foi o nome que, naquele momento de transição, aglutinava todos os setores por ter participado da luta e ter denunciado os abusos e massacres do governo indonésio. Por ter aparecido como um porta-voz da causa timorense e ganhado grande projeção, tornou-se o primeiro presidente do país com uma vitória esmagadora”, disse o diretor-geral do Centro de Estudos em Geopolítica e Relações Internacionais, Charles Pennaforte.
Após deixar a presidência, foi eleito presidente do partido político formado em abril de 2007, o Congresso Nacional para a Reconstrução do Timor Leste (CNRT). Em 30 de junho, realizaram-se as eleições legislativas, tendo o CNRT recebido o segundo maior número de votos e formado uma aliança com três partidos políticos. Essa aliança passou a chamar-se AMP (Aliança da Maioria Parlamentar) e garantiu 37 dos 65 assentos no Parlamento Nacional.
Em agosto de 2007, o presidente da República José Ramos Horta convidou oficialmente a AMP para formar o governo e Xanana tomou posse como primeiro-ministro, com mandato até 2012. Em 2008, devido a divisões políticas, foi instaurado um clima de tensão e violência no país. Ramos Horta sofreu um atentado e foi ferido a tiros e Xanana também foi alvo de atentado, mas escapou ileso.
Em julho de 2012, nas eleições legislativas, o CNRT de Xanana recebeu o maior número de votos, garantindo 30 dos 65 assentos no Parlamento Nacional. O CNRT formou uma coligação com mais dois partidos e assegurou um total de 40 assentos.
A coligação foi convidada a participar do governo pelo presidente da República Taur Matan Ruak e, em agosto de 2012, Xanana Gusmão tomou posse como primeiro-ministro e ministro da Defesa e Segurança, para um segundo mandato de cinco anos. Xanana, que pediu demissão do cargo, disse hoje (6) que sua saída tornou-se “obrigação moral e política” e que a decisão pretende abrir caminho à nova geração.
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