“O futuro tem de ser inventado pelas pessoas”

“Para começar a transformar o Brasil é preciso começar a transformar o que as pessoas imaginam do futuro delas”, afirma, como premissa de sua palestra, o engenheiro com PhD em Ciência Cognitiva, Rogério Abreu de Paula, gerente de Pesquisa e Inovação da Intel Semicondutores do Brasil, que encerrou o seminário “Inovação – o Brasil na Rota do Desenvolvimento Científico e Tecnológico”.

Até cinco anos atrás, De Paula atuava no exterior e, quando retornou ao Brasil, percebeu que o brasileiro ainda continuava muito negativo em relação a si mesmo, sempre falando mal do próprio país. “De uma hora para outra, alguma coisa mudou”, avalia. E, segundo o engenheiro, é essa nova postura que pode transformar o futuro do Brasil e dos brasileiros.

Envolvido em pesquisas que apontam para o futuro, ele avisa: “O futuro não é algo para ser descoberto. O futuro tem de ser inventado pelas pessoas”. Segundo De Paula, suas pesquisas na Intel consistem em estudar as pessoas. Nessa função, percorre comunidades carentes, procurando entender os desejos e os desafios das populações que vivem nesses locais.

Ao visitar uma comunidade indígena no Tocantins, por exemplo, De Paula se surpreendeu com a maneira como os índios se relacionavam com a internet. “Para mim, foram os melhores usuários de internet que eu já vi”, conta.

“Os índios simplesmente compreenderam desde o início o que a internet podia trazer de benefício para eles. Enquanto os fazendeiros em volta não tinham nenhuma noção do que era a internet e não a usavam, esses índios já se comunicavam com outras tribos, e até com o exterior, fazendo negociações com instituições. Através da internet, conseguiam doação de computadores. De alguma maneira, eles entenderam o valor daquela tecnologia e a incorporaram nos hábitos deles. Foi fascinante”, relata.

Essa experiência levou De Paula a refletir sobre a importância da educação nessas comunidades. E, a partir das pesquisas realizadas por ele, a Intel desenvolveu no Brasil um computador para ser utilizado nas escolas. Foram vendidas 5 milhões dessas máquinas. Dessa forma, ele calcula que o computador acabou afetando a vida de 25 milhões de pessoas no mundo.

“Nos estudos que eu fiz em Portugal e na Argentina, pude ver o impacto na própria atitude das crianças. Houve uma diminuição no nível de desistências”, diz. O problema, segundo De Paula, é que a realidade nas escolas brasileiras é muito diferente da realidade do dia a dia das crianças. “Se você for em uma favela, vai encontrar lan house, tecnologia. Hoje, 50% das pessoas da classe C têm computador em casa. Mas, então, a criança chega na escola e lá não tem”, acrescenta.

Sobre os desafios da engenharia e da ciência, De Paula cita “Lei de Moore”, como ficou conhecida a “profecia” do co-fundador da Intel, Gordon Moore, que afirmou que a cada dois anos o número de transistores dentro de um processador iria dobrar. Para de Paula, essa não é uma lei natural, mas criou um desafio para a ciência, impulsionando os engenheiros a se manter permanentemente em busca de melhoria, de inovação. “É o tipo de profecia que se faz e acaba provocando a sua autorrealização”, explica.

O engenheiro afirma ser necessário mostrar aos jovens que se envolver com engenharia e com ciência é algo cool (legal). E mostra que é mesmo. A Intel tem um projeto que qualquer fã dos filmes Guerra nas Estrelas aprovaria. Autores de ficção científica escrevem textos sobre como imaginam o futuro. Depois, um grupo de profissionais da empresa analisa esses textos e vê quais os temas que fazem sentido e que as ciências talvez possam transformar em realidade. É a imaginação impulsionando o futuro das tecnologias.

Responsável pelas pesquisas etnográficas na definição de novas soluções para os mercados emergentes e pela estratégia de pesquisa e inovação da Intel no Brasil, Rogério Abreu de Paula alerta sobre a importância de também re-imaginar o futuro do Brasil. E, para isso, é fundamental uma educação interdisciplinar. “Para fazer inovação em uma empresa, é preciso ter pessoas que conseguem atuar em várias áreas”, afirma. O desafio, segundo ele, é descobrir como trabalhar a autoestima dos brasileiros para que eles possam realmente transformar o próprio futuro.


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