A artista plástica Tomie Ohtake, 101, morreu na quinta-feira (12) em São Paulo. Ela estava na UTI do Hospital Sírio-Libanês, após sofrer uma parada cardíaca na terça-feira (10).
Tomie estava internada no Hospital desde o último dia 2, para tratar uma pneumonia. Ela reagia bem ao tratamento e teria alta na quarta, quando sofreu uma parada cardíaca após engasgar-se durante o café da manhã.
O velório será realizado nesta sexta-feira, dia 13 de fevereiro, no Instituto Tomie Ohtake, de 8:00 às 14:00 horas, localizado na Rua Coropés n. 88, no bairro de Pinheiros, São Paulo.
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Tomie nasceu em Kioto, no Japão, em 21 novembro de 1913. A artista chegou ao Brasil em 1936, mas só começou a pintar aos 40 anos de idade, quando construiu uma trajetória como poucos artistas brasileiros conseguiram. Os anos 60, quando se naturalizou brasileira, foram decisivos para a sua maturação como pintora originária da abstração informal. O domínio da esfera técnica de seu trabalho foi então confluindo com sua personalidade, passando a servi-la plenamente.
Repercussão:
Agnaldo Farias, curador: “Tive o privilégio de frequentar o ateliê dela sistematicamente nos anos 1980. Ela era um caso quase sobrenatural de talento e disciplina. Pintava religiosamente todo dia, até 16h. Mesmo tendo dito recentemente que estava cansada de viver, há cerca de três semanas eu a visitei, e ela me mostrou 18 obras novas que havia feito entre novembro e dezembro do ano passado. Apesar de ter começado tarde, por volta dos 40 anos, tinha senso estético apurado, apesar de não ter tantos recursos técnicos. Mas já no começo apresentou resultados invulgares. Sempre pesquisando, experimentando, insatisfeita, crítica”
Paulo Miyada, curador: “Acho que a cultura brasileira vai sentir falta dela, mas não no sentido de pouca presença, porque ela nos deixou muitos trabalhos. Inclusive obras públicas em nossas ruas. A arte dela vai continuar chegando a qualquer tipo de pessoa, ela atrai inclusive aqueles que não procuram espaços voltados à arte”
Miguel Chaia, professor e colecionador: “Tomie amplificou os limites da arte brasileira à medida que realizou uma síntese das imagens do Oriente e do Ocidente. Foi muito dedicada à família e, depois que os filhos já estavam crescidos e independentes, passou a se dedicar integralmente à arte, por meio de pinturas, gravuras etc. Era uma mulher muito potente, que não se interessou somente pelas artes visuais brasileiras, mas pela dança, pela literatura, pela música e até mesmo pela política”
Marcus Lontra, curador (via Facebook): “Tive o privilégio de ser o curador de algumas mostras dessa mulher e artista exemplar e viajamos juntos para Miami, Nova Iorque, Londres sempre embalados pela doçura, pela simplicidade e pelos sorrisos que ela nos brindava com seu delicioso português quase monossilábico, mistura de japonês e paulistês… Avessa a teorias e longas explanações, Tomie fazia de cada pintura um haikai verdadeiro, síntese de simplicidade e beleza. Nós, analistas de arte, sempre nos dedicamos a tentar justificar o que havia, na obra de Tomie, de oriental e de brasileiro. Na verdade, o mais importante foi descobrir que Tomie nos mostrava que o Japão e o Brasil, tão distantes geograficamente e culturalmente, se avizinhavam através da arte, através da beleza…”
Paulo Pasta, artista plástico: “O que gosto de lembrar de Tomie Ohtake era principalmente sua atitude de reserva digna, que penso estar também presente na sua pintura”
Beatriz Milhazes, artista plástica: “Quando eu penso na Tomie eu penso na cor vermelha. O lindo grupo de pinturas vermelhas encontrados na sua obra marcaram minha relação com seu trabalho.Também o vermelho da bandeira japonesa. Ela e sua família são um sólido exemplo da riqueza e qualidade possível da relação Brasil x Japão! Obrigado, Tomie!”
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