Maior sonho do morador de favela é ser empreendedor

O presidente do Instituto Data Popular, Renato Meirelles, apresentou na manhã desta terça-feira (3) os resultados da pesquisa Nova Favela Brasileira, realizada com 2 mil moradores de 63 dessas comunidades. Ele enfatizou que a favela ainda é um território de exclusão: é mais negra, tem mais mulheres chefes de família e é menos escolarizada do que a média do Brasil.

A palavra de ordem, percebida na maioria das respostas, é o empreendedorismo como o maior sonho destas pessoas, superando o trabalho com carteira assinada.

Nada menos do que 12,3 milhões de brasileiros moram hoje em favelas. Se essa população fosse um estado, seria o quinto maior do País. Trata-se de um fenômeno essencialmente metropolitano (89% vivem nas grandes cidades).

Dentre as características mais marcantes, destacam-se:

. A idade média do morador de favela é de 29,1 anos, ante 33,1 anos da média brasileira;

. Seis por cento dos moradores hoje já cursaram faculdades;

. Vinte e um por cento pretendem fazer o curso superior. Este dado é particularmente relevante porque durante muitos anos, “o sonho de ascensão do jovem destes territórios era ou ser jogador de futebol ou cantor”, disse Meirelles.

. Sessenta e sete por cento dos moradores são negros, em relação a 55% da média do País.

. A maioria das mães tem filhos antes dos 20 anos de idade, o que implica “demanda por creches”;

. Quarenta e quatro por cento dos lares são chefiados por mulheres (38% no Brasil) e 21% destes são de mães solteiras;

. Um em cada quatro moradores diz que alguém da casa recebe bolsa família e 69% destes beneficiados trabalham ou estão à procura de emprego.

“O desafio é juntar Pronatec, Prouni e o empreendedorismo como porta de saída dos programas sociais”, disse Meirelles.

A pesquisa mostrou ainda que os serviços públicos precisam melhorar muito. Os principais problemas apontados foram, pela ordem, em saúde, violência, educação e corrupção. A nota média destes serviços, dada pelos habitantes das favelas, foi de 5,26, sendo que o governo federal e a prefeitura são os piores avaliados (4,6).  A percepção sobre o governo Lula é melhor, com nota de 6,8.

O preconceito foi outro ponto destacado pelos entrevistados: 84% dizem já ter sofrido discriminação por morarem em favelas. Para Meirelles, a imprensa em parte ajuda nesta discriminação. “Quando a notícia é boa, a mídia fala ‘comunidade’; quando é ruim, ‘favela’”.

Nesse ambiente, o otimismo é predominante. Setenta e oito por cento acham que sua vida vai melhorar no próximo ano. Isso porque, na análise do presidente do Data Popular, “na favela, crise não é exceção. Sempre foi regra”.

Governo

A ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello, comentou que as favelas são ambientes que crescem, geram riqueza e cultura, em uma revolução silenciosa. Revolução que criou a nova classe média. Segundo ela, tanto os pobres dos rincões do Brasil como os favelados têm sido objeto de “ódio e preconceito”. E a missão de todos é superar esse estigma.

Ela reconheceu que o Estado tem de avançar na melhoria dos serviços públicos, principalmente em saúde e segurança. Mas festejou o fato de que, em 2003, o maior temor dos mais pobres eram desemprego e miséria. Mas ela se disse decepcionada pelo fato de não haver reconhecimento do esforço do Estado para a geração de empregos, que propiciou o crescimento da renda média dos brasileiros. Também não há a percepção dos benefícios que a política de crédito governamental proporcionou às pessoas.

Ela encerrou sua participação no seminário lembrando alguns preconceitos que existem em relação aos pobres:

. Que os beneficiários do Bolsa Família não se esforçam para trabalhar;

. Que mulher pobre gosta de ter filhos;

. Que os pobres gastam mal.

Estas são avaliações errôneas de críticos dos programas sociais que não têm respaldo algum na realidade, afirmou a ministra.

Sebrae

O presidente do Sebrae Nacional, Luiz Barretto, citou dados de recente pesquisa que indicam que 3,8 milhões dos moradores das favelas têm vontade de empreender. “É um mecanismo forte de inclusão”, afirmou. O principal motivo citado para abrir o próprio negócio é não ter chefe.

Ele ressaltou a importância do Sebrae neste desejo, uma vez que quatro entre dez moradores têm intenção de ser empreendedor, ante 28% em 2013. Essa população percebe as oportunidades que a ascensão da classe média criou nas favelas, uma vez que 63% querem abrir seu negócio nas comunidades onde moram.

Outro ponto percebido pela entidade foi a carência de lojas que vendem bens mais caros nas favelas, pois a grande maioria dos habitantes destes territórios vão a shopping centers ou lojas de rua, fora do perímetro das comunidades, para adquirir aparelhos de TV ou máquinas de lavar, por exemplo.


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