Executivas contam como é comandar uma empresa

Em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, contamos a trajetória de três mulheres empreendedoras, à frente de seus respectivos negócios de grande impacto.

Há quem acredite que determinados empregos devam ser executados somente pelos homens, mas elas já nos provaram o quanto esse conceito é ultrapassado. A realidade é que elas estão cada vez mais indo à luta, em busca de posições de destaque.

Um estudo divulgado recentemente pela Serasa Experian revela que o Brasil possui mais de 5,6 milhões mulheres empreendedoras, o que representa 8% da população feminina do País. Do total de empresas ativas, 30% tem mulheres como sócias e em outras 43% elas são as donas dos negócios.

Já um levantamento divulgado recentemente pela OIT (Organização Internacional do Trabalho) aponta, ainda, que no Brasil entre 5% e 10% dos postos de liderança das corporações são ocupados por mulheres. O fato é que há muito tempo elas deixaram de ser apenas a dona de casa, mãe, esposa e partiram com tudo para o mercado de trabalho, almejando cargos de chefia.

Conversamos com estas três mulheres para nos contar como é comandar uma empresa e como elas driblam os desafiosdo dia a dia.

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Fiamma Zarife
 é VP de Atendimento e Novos Negócios da RIOT, maior agência digital independente do Brasil. Ela é formada em Publicidade e Propaganda pela UFF (Universidade Federal Fluminense) e em Relações Públicas pela UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), com pós-graduação em Marketing pela PUC-RJ (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro) e especializações pela Singularity University e MIT (Massachusetts Institute of Technology). Passou por empresas como Samsung, Oi e Claro, em cargos altos nas áreas de telecomunicações e finanças.


Você sofre ou já sofreu discriminação ou assédio por ser uma mulher em um cargo de chefia?

Episódios isolados aconteceram sim, mas de forma alguma foram regra na minha vida profissional. Tive a sorte de passar por empresas que valorizam os seus funcionários pelo resultado que trazem, independente de cor, sexo ou idade. Inclusive, fui promovida durante a minha primeira gravidez, o que me deu motivação para partir para o segundo filho alguns anos depois. 

Você acha que é mais difícil para uma mulher conseguir alcançar um cargo de chefia? 

Este cenário está mudando aos poucos, mas ainda é difícil sim. E isto se dá não só por conta de comportamentos discriminatórios ainda existentes no mercado, mas também por um processo de auto-sabotagem da própria mulher. Já vi muitos casos de mulheres que começam a recusar promoções, a desacelerar suas carreiras porque estão pensando em ter filhos. Isto começa a acontecer um ano antes delas efetivamente ficarem grávidas, mas não pode acontecer. Se tudo correr bem (e o normal é que corra), elas terão ainda cerca de dois anos pela frente entre o planejamento e o nascimento do bebê. Muita coisa vai acontecer e não dá para recusar as oportunidades que surgem nesta fase. Minhas duas gestações foram períodos altamente produtivos. Tinha energia, entusiasmo, felicidade, inspiração e minhas entregas neste período refletiam tudo isto. Como sempre tive equipes altamente capacitadas e motivadas (e isto é fundamental), meu período de licença aconteceu sem grandes problemas. Assim, acho que algumas empresas ainda têm muito que evoluir na questão do reconhecimento da mulher no mercado de trabalho, mas as próprias mulheres também têm que aprender a não se auto-sabotarem. 

O meio no qual você trabalha é machista?

Não acho. A RIOT é um lugar maravilhoso para se trabalhar. É um lugar despojado, informal, flexível, onde as pessoas são valorizadas pelos seus talentos, pelas suas entregas, pelo que produzem. Temos aqui uma mistura maravilhosa de idade, sexo, credo, filosofias de vida, entre outros e, para mim, este é um benefício que não tem preço nos dias de hoje. 

Como é ser uma mulher no mundo dos negócios?

Eu sou bastante suspeita para falar. Trabalho desde os 17 anos e sempre adorei aplicar comportamentos femininos no ambiente de trabalho. Acho, por exemplo, que a nossa visão mais holística das coisas e a capacidade de fazer várias atividades ao mesmo tempo traz muitos benefícios para os negócios. O sexto sentido e a sensibilidade também são trunfos das mulheres e trazem uma vantagem competitiva importante no relacionamento com clientes e na gestão de pessoas. Mas eu prezo muito o equilíbrio em todos os aspectos da minha vida. Como falei anteriormente, acho que um ambiente de trabalho produtivo deve combinar diferentes sexos, idades, credos, filosofias. 

Qual recado você daria para uma mulher que ambicione um cargo como o seu? 

O primeiro recado é: ame o que você faz. Todo o resto – cargo e remuneração – virá como consequência. Seja persistente e tenha capacidade de execução. De boas idéias o mundo dos negócios está cheio, a diferença está em quem efetivamente faz as coisas acontecerem. Trabalhe com gente melhor do que você e capacite-se sempre; nunca deixe de aprender. E por fim, equilibre-se, priorize as coisas que são realmente importantes na sua vida pessoal e profissional e faça da busca pela realização dessas coisas um exercício diário.

Leticia Leite
Leticia Leite 
é diretora de Comunicação Corporativa do Peixe Urbano e faz parte da equipe fundadora do site, que hoje conta com cerca de 25 milhões de usuários cadastrados. Ela é formada em Comunicação pela Universidade da Pensilvânia, com mestrado em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas. Antes do Peixe Urbano, colaborou com o desenvolvimento de outras startups e trabalhou na área de marketing e comunicação para multinacionais como Visa International, Burson-Marsteller e Organizações Globo

Você sofre ou já sofreu discriminação ou assédio por ser uma mulher em um cargo de chefia?

Não. Eu tenho a sorte de trabalhar para uma empresa que valoriza cada profissional pelo que ele agrega, independente de cor, sexo ou preferência sexual. Apesar do Peixe Urbano já ser uma empresa de considerável porte, que vai cumprir 5 anos agora em março, ele continua tendo “alma de startup”, com um ambiente de trabalho despojado, gestão participativa, foco em resultados e bastante flexibilidade, deixando de lado certos preconceitos que infelizmente ainda são frequentes no mercado de trabalho.    

Você acha que é mais difícil para uma mulher conseguir alcançar um cargo de chefia? 

Eu acho que sim. Ainda é mais difícil para uma mulher conseguir alcançar um cargo de liderança, especialmente em alguns setores da economia. Porém, isso vem acontecendo com cada vez mais frequência e naturalidade, seja no cenário empresarial como político também.  

O meio no qual você trabalha é machista?

Acredito que a desigualdade entre homens e mulheres em relação a cargos e salários seja um pouco menor no mundo do empreendedorismo do que no mundo corporativo, pois trata-se de um mercado onde a quebra de paradigmas é o “normal” ou pelo menos o desejável. É um mercado onde pessoas ousadas, capazes e persistentes geralmente se destacam, independente de seu sexo ou de sua idade. Talvez por isso, temos visto cada vez mais mulheres deixarem suas carreiras no mundo corporativo para apostarem em seu próprio potencial no mundo das startups, muitas vezes sendo donas de seus próprios negócios ou ocupando cargos de liderança em pequenas e médias empresas. Nesse ambiente, geralmente há mais flexibilidade, mais foco em resultados e menos preconceitos. Os cargos, títulos e hierarquia tendem a ser menos importantes, e isso é ilustrado muito bem pela história recentemente divulgada pela imprensa da americana de 15 anos que montou uma agencia de babás em Nova York e hoje já conta com uma renda de cerca de U$500 mil por ano, sem nem ter se formado ainda do segundo grau do colégio. Claro que este caso é excepcional, até para um mercado desenvolvido e democrático como é os Estados Unidos, porém ele mostra que o que era totalmente impensável há alguns anos atrás, já é possível hoje e a tendência é que seja cada vez mais. 

Como é ser uma mulher no mundo dos negócios?

Eu tinha medo do que aconteceria quando eu engravidasse. Duvidava se eu seria capaz de desempenhar bem os dois papeis, de mãe e de profissional, e também de como eu seria vista pela empresa e pelo mercado de trabalho. A verdade é que a maternidade me ajudou muito, especialmente a ser mais eficiente dentro e fora do trabalho. Eu sempre trabalhei muitas horas por dia e gostava de me envolver em todos os detalhes de tudo. Passar por um período de licença de maternidade e agora ter um filho lindo que me espera em casa após o trabalho e tem hora para dormir, me ajuda a priorizar melhor as minhas tarefas, a delegar mais funções para a equipe e a focar em projetos onde posso realmente agregar mais valor e fazer a diferença. Essa mudança tem sido extremamente positiva tanto para o meu desenvolvimento pessoal e profissional, como para a minha equipe e para a empresa, pois nem sempre o excesso de horas trabalhadas e a vontade de participar de tudo, gera os melhores resultados.  

Qual recado você daria para uma mulher que ambicione um cargo como o seu?

Corra atrás de seus sonhos, seja lá quais eles forem, sem tantos medos e preocupações antecipadas. Ao longo do percurso, você amadurecerá, saberá se adequar e tomar as melhores decisões. Durante a maternidade, eu descobri que é possível fazer mais com menos. O segredo é saber administrar melhor o tempo e os recursos disponíveis. E foi a maternidade que me ensinou isso – que não apenas é possível desempenhar os dois papéis, como é possível fazer com que os dois se complementem, tanto por uma questão de necessidade, como também por vontade e simplesmente por colocar as coisas em perspectiva. Acredito que ter uma vida equilibrada e saudável do ponto de vista pessoal ajude a gerar mais energia, mais criatividade e mais ânimo no trabalho também.  

Andreia Onofre

Andreia Onofre é fundadora do wePinch, rede social gratuita que visa conectar empreendedores com ideias inovadoras, investidores e bons profissionais. Antes trabalhou como jornalista  televisiva, também é autora do livro “Não se diz tudo aos homens”. Deixou-se seduzir pelo marketing digital, onde, por seis anos, foi Digital Marketing Manager na área do turismo, até se tornar empreendedora.

Você sofre ou já sofreu discriminação ou assédio por ser uma mulher em um cargo de chefia?

Sim, aconteceu logo no início da minha carreira profissional, na fase de juventude,  idealismo e ingenuidade que me levavam a acreditar que a discriminação sexual no trabalho era coisa do passado. Trabalhava como jornalista e com a minha formação na área de realização cabia-me dirigir também o trabalho dos cameraman. Pelo fato de ser mulher, alguns acharam estranho, e um deles teve muita dificuldade em aceitar a minha orientação. Senti claramente que se fosse homem a minha “legitimidade” não seria posta em causa, mas não era, e por isso optei pela via da diplomacia, explicando-lhe cada pedido, neste caso, os motivos das minhas opções de filmagem, plano a plano. O primeiro trabalho que fizemos juntos ganhou o prêmio de melhor jovem realizador, num festival de cinema internacional, e a partir daí a questão do gênero sexual ficou ultrapassada.  Por outro lado, tenho de mencionar o episódio, talvez raro na vida de uma mulher e exemplo oposto ao do da discriminação sexual, o fato de ter sido contratada grávida, com barriga de talvez 4 meses. Penso que muito poucas empresas contratam mulheres na condição de grávida. 

 Você acha que é mais difícil para uma mulher conseguir alcançar um cargo de chefia? 

 Os cargos de chefia continuam a ser tradicionalmente ocupados por homens. Um dos países mais vanguardistas em matéria de igualdade de gênero, a Noruega,  teve de criar um sistema de cotas para garantir o acesso e o aumento do número de mulheres nas administrações das empresas.  Tratou-se de uma medida artificial para contrariar o artificial “tamponamento”  da ascensão das mulheres a cargos de decisão. A necessidade de existência desta medida é um exemplo cabal do grau de dificuldade na ascenção das mulheres a lugares de chefia, por mais anacrónico que o seja. Para além da necessidade de partilha dos lugares de topo é igualmente necessária a partilha da parentalidade, para que a interrupção das carreiras por motivos de  maternidade não seja um quase exclusivo das mulheres. Estaríamos assim a beneficiar os bebés, com igual cedência de tempo de parentalidade para os dois pais e a tornar mais iguais  as “vidas profissionais” de ambos os sexos e consequentemente as oportunidades de trabalho para as mulheres. 

O meio no qual você trabalha é machista?

Não. Por vezes, e como trabalho maioritariamente com e entre homens, parece haver um “alinhamento” de opiniões masculinas, mas só isso.

Como é ser uma mulher no mundo dos negócios?

 Distinguimo-nos mais pelas nossas características individuais do que pelas de género. Acredito.

Qual recado você daria para uma mulher que ambicione um cargo como o seu?

Desempenhar cada cargo com a máxima competência, com paixão e não deixar de fazer aquilo que acredita estar certo. Avaliar o custo-benefício das suas ações, priorizar as mais relevantes, as que fazem a diferença no curto e longo prazo.


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