O diário argentino Clarín publicou uma reportagem nesta sexta-feira (13) que aumenta ainda mais as suspeitas de que o procurador Alberto Nisman foi, em verdade, assassinado, e não cometeu suicídio, como se levantou dias após o corpo dele ser encontrado no apartamento onde viva, em Puerto Madero, bairro nobre de Buenos Aires, em janeiro. Segundo o jornal, um dos peritos contratados pela família de Nisman escreveu em seu documento final que havia “deslizamento de dedos de uma mão sobre um dos seus braços” que, segundo a polícia, é de alguém que mudou o cadáver de posição.
A hipótese, portanto, é que, depois de ter tomado o tiro mortal na cabeça, Nisman foi arrastado até o banheiro por um dos braços, onde seria encontrado horas depois. Com isso, fica praticamente nula a possibilidade do procurador ter se matado.
A afirmação foi dada pelo ex-chefe da Polícia Bonaerense argentina, Daniel Salcedo, que anexou suas conclusões ao inquérito da equipe forense que cuida do caso. Ele foi contratado pela família de Nisman, em especial por sua ex-mulher, Sandra Arroyo Salgado, que passou a bater de frente com a promotora Viviana Fein, responsável pelo caso, nos últimos meses.
Na quinta-feira (11), o jornal La Nación publicou reportagem em que afirma que teve acesso a laudos da investigação que mostram que Nisman estava de joelhos quando foi encontrado. Os peritos levaram em conta que o corpo não tinha marcas de golpes nos ombros, na cabeça ou em seus membros. Além disso, o sangue que caiu sobre a pia, ao seu lado, vinha de uma altura baixa. De acordo com a publicação, ainda era possível crer na possibilidade de suicídio. Também na quinta, a equipe contratada pela família de Nisman disse, em depoimento a Fein, que descarta essa hipótese.
De acordo com o Clarín, a família de Nisman suspeita de Diego Lagomarsino, técnico em informática e amigo de Nisman que lhe deu a pistola modelo Bersa, calibre 22, com a qual ele foi morto dias depois. A polícia já apreendeu seus computadores e outros acessórios que podem servir de informação, mas ele ainda não foi acusado oficialmente de nada. Na quarta-feira (10), a imprensa argentina noticiou que os policiais encontraram roupas manchadas no armário de Lagomarsino. No entanto, não foi possível saber do que era.
A última vez que a presidente Cristina Kirchner falou sobre o assunto foi no dia 1 de março, quando, em um discurso de quase quatro horas no parlamento argentino, ela disse que “o poder Judiciário se independentizou da Constituição” e que ela “tem que ser independente do poder político, dos poderes concentrados da economia, mas o que não pode nunca é ser independente da Constituição, das leis”. Na ocasião, ela também tocou diretamente no tema da morte de Nisman, da qual ela é uma das suspeitas. “Lamento sua morte como lamento a morte de qualquer argentino, de qualquer ser humano. Passaram-se 21 anos e não temos um só condenado, nenhum preso pelo atentado à Amia em 1994, que deixou 85 mortos e 300 feridos. Não preciso de cartazes para falar da Amia, falo desde 1994, quando denunciei ao juiz Galeano por encobrimento”, completou.
Caso Nisman
O procurador Alberto Nisman, de 51 anos, iria apresentar as provas finais de sua investigação, onde acusava a presidente Cristina Kirchner, o chanceler Hector Timerman e outros funcionários do governo de encobrir os autores do atentado à Associação Mutual Israelita Argentina (Amia), em 1994. Segundo o procurador, eles negociaram um acordo com o Irã para que os acusados do ataque – que são iranianos – não fossem investigados, facilitando, assim, uma troca comercial de petróleo e produtos agrícolas entre os dois países. No entanto, um dia antes de seu discurso no parlamento, em 18 de janeiro, ele foi encontrado morto em seu apartamento, em Puerto Madero, bairro nobre de Buenos Aires.
Desde a morte de Nisman, a suspeita caiu sobre diversos agentes, inclusive sobre o governo argentino. Cristina, no entanto, sempre negou as acusações.
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