Orquestra Experimental de Repertório celebra 25 anos em Trancoso

Foto: Divulgação/Facebook @orquestra.experimental.de.repertorio
Foto: Divulgação/Facebook @orquestra.experimental.de.repertorio

À frente da Orquestra Experimental de Repertório desde fevereiro de 2014, quando foi convidado pelo diretor do Theatro Municipal de São Paulo, John Neschling (leia entrevista), o maestro Carlos Moreno dá continuidade a um importante trabalho de formação musical, desenvolvido desde 1990, ocasião em que foi criada a jovem orquestra paulistana, vinculada a prefeitura de São Paulo.

Nascido em Petrópolis, no Rio de Janeiro, Moreno foi regente da Orquestra Sinfônica da Universidade de São Paulo (OSUSP), entre 2002 e 2008. Depois, atuou no ABC paulista, a frente de duas orquestras, a Filarmônica de São Bernardo e a Orquestra Sinfônica de Santo André. Agora, substitui o patrono da OER, o maestro Jamil Maluf, e conduz um grupo de 97 jovens músicos, com faixa etária entre 14 e 27 anos, e idade média de 20, que tem três aulas semanais, apresenta-se de três a quatro vezes por mês em espaços públicos e ganha uma bolsa mensal para poder se dedicar integralmente a música.   

Desde o primeiro dia do festival Música em Trancoso, na cidade baiana ao sul de Porto Seguro, a OER fez duas apresentações no Teatro Loccitane. Além de arrebatar o público do festival, como no concerto de 8 de março, quando os músicos promoveram um encontro entre o tango e o samba, com a participação da cantora Fabiana Cozza, a OER tem feito também apresentações didáticas em escolas públicas e pequenos concertos à céu aberto, como o realizado ontem, 12.3., no Bosque do Quadrado.

No concerto intimista, com um grupo reduzido de cordas, a OER apresentou temas populares como Eleanor Rigby dos Beatles, Eu Sei que Vou te Amar de Vinicius de Moraes e Tom Jobim, e Aquarela de Toquinho. No final da apresentação, em meio à plateia, o maestro Carlos Moreno conversou com a reportagem de Brasileiros. Leia, a seguir. 

Brasileiros – Como tem sido a experiência do convívio com os músicos em Trancoso?

Carlos Moreno: Para os jovens da OER, ter a possibilidade de fazer uma imersão como essa é uma experiência muito rica, pois esse é um grupo que se reúne somente na sala de aula, em São Paulo. Aqui eles podem ensaiar de forma mais intensa, além de também terem a oportunidade de ter aulas especiais, as masterclasses, com professores fantásticos, vindos da Europa.

Além das apresentações nos festivais, que outras atividades vocês tem feito aqui?

Tem sido muito bacana levá-los às escolas públicas de Trancoso para fazer concertos didáticos. É sempre emocionante perceber a curiosidade das crianças. Claro, também fazemos isso em São Paulo, mas aqui o comentário dos nossos músicos é que as crianças parecem muito mais abertas e sensíveis do que as de lá. Estou pensando agora como será o efeito pós-Trancoso e que impactos essa experiência vai trazer para os músicos. Já percebo algumas mudanças.

Quais, por exemplo?

Vejo, por exemplo, uma mudança na relação com os professores. Dia desses, fui caminhar na praia e vi um dos nossos professores de sopro jogando frisbee com seus alunos. Algo muito bacana para eles, porque traz um novo significado para a relação aluno/professor.  Algo que desenvolve entre eles uma aproximação mais humana. O aluno não enxerga o professor somente como aquele cara que pode reprová-lo. Ele tem a chance de perceber que o professor é também um cara bacana e é seu amigo. É uma experiência pedagógica muito rica. Vir a Trancoso vai fazer com que a gente quebre alguns paradigmas da OER.

Como foi definido o repertório das apresentações?

Estudar o repertório proposto pelo festival foi um desafio para eles. Curiosamente, é mais fácil tocar uma sinfonia do que um pout-pourri de obras populares. Cada composição é um universo diferente. Quando a Sabine Lovatelli, diretora do festival, nos convidou, o repertório já estava bem definido. Somente com a cantora Fabiana Cozza é que tivemos uma conversa para definir a participação dela. O repertório foi muito bem escolhido. Na noite de tango e samba, por exemplo, a reação da plateia foi fantástica. A participação da Fabiana foi um presente para a OER, porque além de, tecnicamente falando, ser perfeita, ela é uma artista muito generosa. No final do concerto ela foi aos ônibus da orquestra e cumprimentou os músicos um por um.

Para você, que já teve outras experiências pedagógicas, como tem sido trabalhar com esse grupo de jovens?

É muito bonito trabalhar com eles, porque eles estão naquela fase pré-profissional, em que têm muita esperança. O tempo todo eles estão extremamente abertos a tudo que a gente possa oferecer. E gostamos de pensar que devemos fazer tudo o que a gente puder fazer para que eles tenham a chance de um ter bom futuro profissional em um mercado que é muito estreito. Imagine que em nosso País orquestras sinfônicas se contam nos dedos das duas mãos.

A OER completa 25 neste ano. Há algo de especial programado para celebrar esse momento especial?

Acho que a vinda a Trancoso já é um grande presente para a orquestra. A gente tem outra possibilidade de viagem, desta vez  internacional, que ainda não foi concretizada, mas está para acontecer.

Você acabou de completar um ano a frente da OER. Qual é a sua expectativa de permanência?

Como maestro, a vida me ensinou a pensar que não devo me preocupar com permanência, mas, sim, com o trabalho que devo fazer a cada dia. Normalmente estamos atrelados à gestão pública e em quatro anos tudo pode mudar. Então, tenho de pensar que devo dar o meu melhor a cada novo dia. Em cada orquestra que passei procurei contribui um pouquinho para a história delas. O que desejo para a OER é que ela continue fazendo esse trabalho pedagógico, tão importante, com a responsabilidade de sempre. Fico feliz por poder fazer parte dessa história.



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