Quase 47 anos depois do encontro entre o então líder de Cuba, Fidel Castro, e o vice-presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, em 1969, em Washington, duas autoridades determinantes dos governos dos dois países voltaram a se encontrar de forma oficial na tarde deste sábado (11): os presidentes Raúl Castro e Barack Obama, na Cumbre de Las Américas, na Cidade do Panamá, em um encontro onde ainda estão reunidos outros 33 chefes de Estado dos continentes americanos. Para os dois, o encontro se definiu em uma palavra: “histórico”.
“Era hora de tentar algo novo. Estamos agora em condições de seguir um caminho para o futuro. Ao longo do tempo, é possível para nós virar essa página e desenvolver uma nova relação entre os nossos dois países”, afirmou Obama, assim que se sentou e apertou a mão de Raúl, que respondeu no mesmo tom amistoso. “Estamos dispostos a discutir tudo, mas precisamos ser pacientes. Nós podemos discordar de alguma coisa que podemos concordar amanhã”, completou.
Segundo o jornal norte-americano New York Times, a presença de Cuba na reunião é uma tentativa pessoal de Raúl Castro de convencer Obama a retirar o país da lista de “estados terroristas”, o que aliviaria as tensões entre as duas nações. A OEA, que organiza o encontro entre os 35 países dos continentes americanos, recolocou Cuba em seus quadros em 2009, encerrando uma suspensão de cerca de 40 anos, imposta pelos Estados Unidos. A ilha foi desfiliada da entidade em 1962, três anos após a Revolução Cubana, que triunfou em 1959. A resolução que impedia os cubanos de participarem da reunião foi suspensa em 2009, mas a ilha resolveu participar do encontro pela primeira vez apenas neste ano. Os Estados Unidos, ao contrário, estão sempre presentes: Obama estava em Cartagena, em 2012.
“A Guerra fria acabou há muito tempo. Não estou interessado em manter uma batalha que, francamente, se iniciou antes de eu nascer”, afirmou Obama.
O NY Times, no entanto, não perdeu a oportunidade de criticar Raúl Castro, citando o seu discurso na reunião, em que o presidente cubano criticou os Estados Unidos, principalmente, pelo embargo econômico. “Ele deu um longo discurso em que incluiu a queixa dos cubanos aos EUA e lembrou do apoio norte-americano a Fulgêncio Batista, a invasão da Baía dos Porcos e a abertura da prisão de Guantánamo, às vezes batendo na mesa para dar ênfase”, diz um trecho de uma reportagem do diário sobre o encontro.
Cumbre de Las Américas
A reunião entre chefes de Estado de 35 países americanos acontece entre sexta-feira (10) e este sábado (11), na Cidade do Panamá, capital panamenha. O encontro é organizado pela Organização dos Estados Americanos em períodos irregulares, não mantendo uma ordem. A primeira aconteceu em dezembro de 1994, em Miami, nos Estados Unidos, e a última havia sido em Cartagena de Índias, na Colômbia, em 2012. Bolívia, Chile, Canadá, México, Argentina e Trinidad e Tobago já haviam recebido o encontro em ocasiões anteriores.
A OEA reúne 35 países dos continentes americanos desde 2009, quando Cuba entrou no grupo após uma suspensão de cerca de 40 anos imposta pelos Estados Unidos. A ilha foi desfiliada da entidade em 1962, três anos após a Revolução Cubana, que triunfou em 1959.
Na abertura do evento, nesta sexta-feira (10), o secretário-geral da OEA, o chileno José Miguel Insulza, disse que espera que essa Cumbre de Las Américas “seja feita de compromissos de paz, crescimento econômico, segurança e melhor distribuição de riqueza”. Ele também mencionou as últimas vitórias alcançadas pela organização, como os acordos de paz na Colômbia entre o governo e as FARC e a reaproximação entre Cuba e EUA. “Nos reunimos com grande alegria por esse momento histórico”, afirmou.
Um pouco antes, ele leu uma mensagem do Papa Francisco, que pediu que os chefes de Estado “enfrentem os problemas com realismo” e que “se esforcem para superar as diferenças no caminho para o bem comum”.
Protestos
Grupos contrários e favoráveis ao regime cubano entraram em conflito nesta sexta-feira e no sábado por diversas vezes durante a aparição pública de Raúl Castro ou de outras autoridades cubanas na Cidade do Panamá. É a primeira vez que a ilha participa da reunião, que acontece desde 1994. Depois, em um discurso de Obama em um fórum em que estavam presentes grupos dissidentes cubanos e venezuelanos, o presidente norte-americano disse que “os tempos em que a agenda dos EUA neste hemisfério quase sempre presumiam uma interferência do país na América Latina acabaram”. Em seguida, ele afirmou que os Estados Unidos “fortaleceriam os calados”.
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