“Veias Abertas fez a cabeça de toda uma geração”, diz Milton Hatoum

Eduardo Galeano em 2014 - Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ Agência Brasil   11/04/2014
Eduardo Galeano em 2014 – Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ Agência Brasil 11/04/2014

O escritor Milton Hatoum afirmou à Brasileiros que Eduardo Galeano, morto nesta segunda-feira (13), foi “o grande cronista da nossa história” e que “Veias Abertas da América Latina fez a cabeça de uma geração toda”. Para ele, a obra do jornalista e contista uruguaio “deveria ser trabalhada nos cursos de jornalismo”.

“Eu lamento muito [a morte de Eduardo Galeano]. Ele foi um cronista da nossa história. Um jornalista sem medo da verdade, um homem combativo, o que é uma coisa muito rara. Seu livro As Veias Abertas da América Latina fez a cabeça da minha geração toda. É uma obra que deveria ser trabalhada nos cursos de jornalismo. Mesmo no ensino fundamental como introdução à história da América Latina. Ele aborda de forma brilhante o movimento da economia regional, por exemplo, o ciclo da borracha na Amazônia, em Manaus”, disse ele nesta manhã.

Conhecido pela obra literária, Galeano começou a carreira como jornalista. Escreveu em diversas publicações latino-americanas e até o ano passado era colunista do Semanário Brecha, um dos veículos de imprensa mais importantes do Uruguai. Sua obra mais importante, As Veias Abertas da América Latina, é também resultado de uma pesquisa jornalística que durou alguns anos. “É um jornalismo que faz falta hoje em dia. Um jornalismo como o da revista Realidade nos anos 1970, que dizia o que não podia ser dito. Ele conseguiu isso publicando livros, nesse gênero meio híbrido, jornalismo literário, investigativo, analítico. Sem medo da verdade, o que faz muita falta. Lamento muito”, completou.

Eduardo Galeano

O escritor e jornalista uruguaio Eduardo Galeano morreu no início da manhã desta segunda-feira (13) em Montevidéu, segundo publicou o jornal espanhol El País. De acordo com a publicação, ele estava lutando contra um câncer na região da cavidade torácica, mas o tumor entrou em metástase. Ele tinha 74 anos e deixa esposa e três filhos.

A reportagem de Brasileiros entrou em contato com Galeano há um mês, na capital uruguaia, para pedir entrevista, mas o escritor recusou alegando “estar muito doente”. Segundo colegas jornalistas do Semanário Brecha, publicação que colaborava com menos vigor nos últimos meses, ele não aparecia nas reuniões de pauta desde o ano passado, mesma resposta dada pelos garçons e pelo gerente do Café Brasilero, na Plaza Independência, que Galeano costumava frequentar e até conceder entrevistas.

Em 2011, o jornalista Washington Luiz de Araújo, de Brasileiros, entrevistou Galeano em Montevidéu, ocasião em que ele se preparava para lançar O Filho dos Dias. “É curioso como este nosso planeta está trabalhando com tanto entusiasmo para sua própria aniquilação. São negados alguns dos direitos humanos dos mais elementares de todos. Por exemplo, o direito de respirar. Quando era menino, a mestra me dizia: ‘Respirar Eduardito, é o que é importante’. E respirar está cada vez mais difícil, pois o ar está envenenado, principalmente nas grandes cidades”, disse à época.

MAIS: 
Leia também entrevista com Milton Hatoum publicada na edição 65, de dezembro de 2012.


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