Já esperei três semanas no estacionamento do Rodoshopping por uma carga que fosse interessante. Mas, quando surgia, o valor do frete compensava. A agência me pagava R$ 8.500 para ir até Taboca, no Amazonas, valor bruto. Desse dinheiro, eu tinha de pagar o óleo diesel, os pneus, as refeições, o arrebite e o que mais fosse preciso para passar a noite dirigindo, além dos consertos do caminhão. Acabava com uns R$ 3.500 no bolso. Em 2005, cheguei a ganhar quase R$ 8 mil por mês, fazendo duas viagens de ida e volta para lá. Foi nessa época que construí uma casa para a minha mãe, em Itaguara, Minas Gerais, e banquei meu casamento. A rotina de esperar por carga no estacionamento da agência, carregar o caminhão, pegar o dinheiro e cair na estrada durou até o ano passado. Depois mudou. Os patrões dizem que o Brasil não está produzindo e, por isso, não tem o que transportar. Não acredito nisso, só que não sei explicar o que aconteceu, só sei que fomos atingidos. Na prática, está difícil encontrar carga. Os caminhoneiros ficam mofando no estacionamento e, desesperados, aceitam qualquer frete para ganhar alguma coisa. Como tem gente que aceita, o valor diminui. Esses dias, uma agência me ofereceu R$ 5.500 para um transporte até Manaus. Com esse dinheiro, preciso bancar as mesmas coisas de sempre, que aumentaram de preço. No ano passado, um colega mostrou um aplicativo que facilitava o contato entre agências e caminhoneiros. Comprei um Smartphone para ter o tal programa. Com ele, fico em casa ou na estrada monitorando as cargas e já chego aos terminais com transporte em vista ou fechado. Minha mulher e meu filho me ajudam. Enquanto estou na estrada, eles levantam quais são as melhores cargas, onde estão e o tempo de viagem. Tem dado certo. Abandonei a rota São Paulo-Taboca. Estou fazendo São Paulo-Minas, que exige mais viagens por mês e fretes mais baratos, mas vale a pena porque não uso tanto óleo diesel e é a rota com mais serviço anunciado no aplicativo.
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