Edifício Matryoshka, 2015, projeto inspirado nas bonecas russas, com que o chileno Pedro Alonso recebeu o Leão de Prata na última Bienal de Arquitetura de Veneza - Foto: Leonor Amarante
Edifício Matryoshka, 2015, projeto inspirado nas bonecas russas, com que o chileno Pedro Alonso recebeu o Leão de Prata na última Bienal de Arquitetura de Veneza – Foto: Leonor Amarante

Beleza? Expressão que no Brasil pode ser sinônimo de “tudo bem?” deu alma à coletiva internacional no Centro Cultural São Paulo, em parceria com o Ateliê Fidalga, reunindo nomes de proa, como Carlos Garaicoa, Sandra Cinto, Francis Alÿs, Santiago Serra, Albano Afonso, entre outros. A chilena Pamela Prado tentou driblar o dilema que coloca em xeque os curadores diante da crise de representação que vive o gênero exposição nas últimas décadas e das mudanças experimentadas pelos espaços expositivos. A última Bienal de São Paulo pode ser um bom exemplo.

Pamela foi do céu ao inferno para criar uma curadoria com olhar crescente sobre o poético e o chocante, o político e o racionalista. Em todas as obras, a beleza ocorre quando imagens e palavras encontram outra dimensão. Concebida não só para especialistas, a mostra faz uma imersão progressiva em alguns episódios históricos que, para os que ainda não os conhecem, podem provocar sensação de queda livre. Um deles é a obra de Patrick Hamilton, que faz alusão aos nazistas que fugiram para a América do Sul depois da Segunda Guerra. Muitos teriam se escondido no Brasil, Chile e Argentina e importaram tratores Lanz com engrenagens fundidas em ouro puro, retirado dos prisioneiros dos campos de concentração de Hitler.

Entre boas obras históricas, a instalação de Pedro Alonso, ganhador do Leão de Prata da última Bienal de Arquitetura de Veneza se destaca. O projeto soviético de casas pré-fabricadas, que serviram de matriz construtiva para criar rapidamente bairros/cidades no governo de Nikita Kruschev, fez sucesso não só na extinta União Soviética, mas também na França, Cuba, Japão, Itália e também nos Estados Unidos. “A história da arquitetura é formada por obras autorais e essa é anônima. São módulos de madeira encaixados uns dentro dos outros como as bonecas matrioskas e até hoje utilizadas”, explica Pedro Alonso. No fundo da sala, um vídeo em loop sobrevoa e dá um panorama dessa “cidade”, em Cuba.

O belga Francis Alÿs acredita que as performances são ações sem produção de objetos fixos. A plenitude do sentido se liga, desse modo, à ausência de produtos permanentes. Na mostra, o registro de uma performance em pleno deserto mexicano, com um grupo de 400 trabalhadores, cada um com uma pá, tentando deslocar em alguns centímetros uma imensa duna de areia, critica a fé cega, incitada por alguns extremistas e que, segundo eles, pode mover montanhas.

Carlos Garaicoa, artista bastante original, ocupou toda uma sala com fotos de um hospital cubano, reminiscência da vida de seu país, com imagens de um território vago e sombrio. O vídeo de Santiago Serra, com cenas de porcos devorando o mapa da península ibérica, lembra que a leitura de um discurso visual exige uma nova posição do receptor a cada vez que ele revê uma obra. Acada nova exibição em local diferente, a metabolização é também outra, pois sempre tentamos transformar uma virtualidade em atualidade. Vendo aquele mapa, pode-se substituí-lo por vários outros dentro do atual jogo geopolítico dos conflitos internacionais.

Fechava a coletiva e ocupava toda a parede de vidro uma foto superdimensionada, que potencializa uma variedade de plantas, árvores e arbustos, com uma beleza tradicional. Albano Afonso amplia o sentido na medida em que despoja a imagem de seu objetivo convencional e a transforma em uma instalação.


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