Corrida maluca


Democracia: é por isso que os Estados Unidos da América não vão para frente! A cada quatro anos vem essa história de eleições. Em outros cantos do planeta, essa rotina até que passa sem muita estripulia. O problema é que entre o Canadá e o México as corridas aos votos fazem emergir grossas camadas de tacanhice. E o país afunda em poços de cretinice. O que é pior: nós jornalistas temos de cobrir o fenômeno.

Veja o caso da escolha de um candidato republicano para enfrentar Barack Obama nas eleições presidenciais de 2012. Dez criaturas inimagináveis mergulharam num mano a mano (ali não dava para ter tête-à-tête) que pareceu uma briga naquele bar do filme Guerra nas Estrelas. A coisa foi feia. Uma tremenda maratona de debates que durou cerca de 200 horas (decorreram como fossem 518 horas), ao longo de meses e meses de 2011. E para quê? No dia 3 de janeiro, na primeira rodada de votação no momentoso Estado de Iowa, 46% dos pesquisados em bocas de urna diziam-se “indecisos”.

Como “indecisos”? Aquele circo de mutantes estivera todos os dias nas televisões, na internet, em jornais e revistas durante o período de gestação de um elefante (apropriadamente, já que o símbolo do partido é o paquiderme). E, até o “dia D”, os caras não haviam chegado a uma conclusão? Será que, dos dez malucos na corrida, não havia um único que se salvasse?
Parece que não. Um deles (Rick Santorum), em 1996, levou para casa um filho natimorto. Disse que achou importante apresentar o finado aos irmãozinhos. O candidato, diga-se, chegou em segundo lugar nesse pleito, com apenas oito votos a menos que o primeiro colocado. Talvez, caso nunca tivesse enterrado o pequeno morto, tivesse faturado o pleito.

O terceiro colocado (Ron Paul) é um libertário – o que quer dizer um darwinista social: defende a lei do “cada um por si”. Diz que, caso seja eleito, vai cortar o seguro desemprego e qualquer plano público de saúde: o governo não está aí para dar esmola a ninguém. Acha também que os Estados Unidos não deveriam ter entrado na Segunda Guerra Mundial. Deixassem o Hitler à solta.

E não me deixem começar falar dos outros piores colocados na disputa. Teve candidata (Michele Bachmann) jurando que vacinas causam retardamento mental em crianças. E mais: que a embaixada dos Estados Unidos em Teerã corria perigo. Pelo visto, ela não prestou atenção nos acontecimentos pós-revolução iraniana durante o governo Jimmy Carter nos anos 1970. Ah! E ela diz que seu marido, um pastor evangélico, cura homossexualismo com reza.

Ganhou a parada em Iowa (com 25% dos votos) o ex-governador Mitt Romney. Enfrentou enorme dificuldade durante a campanha. Em primeiro lugar, porque é mórmon, como isso fosse defeito de caráter. Mas também foi prejudicado por ter o carisma de uma barra de isopor. Ninguém o queria, mas o homem é milionário e foi comprando anúncios, até convencer uma pequena minoria a cravar o nome dele na cédula. Como a turma estava “indecisa” e pulverizando os votos, Romney levou a melhor. Mas quem estava rindo de orelha a orelha era o atual presidente, o democrata Barack Obama. Afinal, com esses tipos de concorrentes, quem precisa de amigos?


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