Relatório da ONU Mulheres elogia o Bolsa Família

Foto: Divulgação
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A Organização das Nações Unidas – Mulheres (ONU Mulheres) divulgou na segunda-feira (27) o relatório Progresso das Mulheres no Mundo 2015-2016: Transformar as Economias Para Realizar os Direitos, que conta com mais de 300 páginas e diversos infográficos, mostrando que ainda existe uma disparidade de gênero muito grande, principalmente quando se leva em consideração aspectos como salário e ocupação de empregos tradicionalmente preenchidos por homens. Apesar disso, o estudo traz uma boa notícia para o Brasil: o programa Bolsa Família foi citado e elogiado pela organização. A publicação tem como objetivo reforçar a necessidade de políticas públicas para atingir a igualdade de gênero. “Nós sabemos o que precisa ser feito para atingir a igualdade no Planeta até 2030” diz a sul-africana e diretora executiva da ONU Mulheres, Phumzile Mlambo-Ngcuka, em texto introdutório ao estudo.

A pesquisa começa informando que, neste momento, a maioria dos países já possui leis em suas constituições que garantem igualdade entre homens e mulheres. Segundo a ONU, 143 nações já reforçaram suas leis para a igualdade de gênero, enquanto 52 países ainda não sancionaram normas neste sentido. Outro fator que evoluiu foram as políticas quanto a discriminação às mulheres em ambiente de trabalho. Em 1975 apenas 41% dos países possuíam medidas legais contra este tipo de ação. Atualmente 97% dos países já têm leis que dão conta de assédios e discriminações contra as mulheres em ambiente de trabalho.

O relatório faz uma menção especial ao Brasil. De acordo com a organização, o País se desenvolveu consideravelmente durante os anos 2000 com a criação de milhões de empregos e com o aumento do salário mínimo, além de programas sociais de renda como o Bolsa Família. Isso trouxe um reflexo natural nas políticas de igualdade de gênero. A população feminina economicamente ativa aumentou de 54% para 58% entre 2001 e 2009 e a proporção de acesso à trabalhos com carteira assinada aumentou de 30% para 35%. Apesar de alguns avanços, a desigualdade ainda é muito latente e a diferença de pagamento entre homens e mulheres ainda é de 29%, ou seja, as mulheres ainda ganham quase um terço a menos que os homens.

Em entrevista à Brasileiros, a professora doutora em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Carla Cristina Garcia, afirmou que a diferença salarial é fruto de um mercado de trabalho que opera sob ótica masculina, inferiorizando o trabalho exercido pela mulher. “Ainda vivemos em uma sociedade patriarcal, que considera o trabalho da mulher menos importante. É uma organização do mundo do trabalho que é masculina. Por exemplo, por mais que tenha aumentado o número de universitárias, você não vê este numero aumentando nas carreiras”

Mesmo caminhando a passos lentos para a igualdade de gênero, Garcia diz que programas sociais como o Bolsa Família ajudam as mulheres a superar as adversidades no Brasil: “O Bolsa Família contribuiu para muitas mulheres poderem tomar decisões mais facilmente em suas vidas. É uma política social afirmativa, que tem feito a diferença para as mulheres porque incide diretamente na qualidade de vida delas” explica.  

Outro dado alarmante é a participação doméstica das mulheres que ainda é muito superior em relação aos homens. Na Coreia do Sul, por exemplo, as mulheres passam mais de 2 horas e meia ao dia cuidando de afazeres domésticos, enquanto os homens não gastam nem 50 minutos. Já na Argentina as mulheres gastam mais de 3 horas com este tipo de trabalho, enquanto o gasto dos homens não chega à uma hora. “Isso é reflexo da dupla jornada naturalizada. Continuamos entendendo que a mulher entra no mercado de trabalho desde que continue exercendo sua função de manter o modelo familiar intacto.” conclui a professora.

A divulgação destes dados faz parte da comemoração de 20 anos da realização da 4ª Conferência Mundial Sobre a Mulher, que aconteceu em 1995 na China. O relatório Progresso das Mulheres no Mundo 2015-2016: Transformar as economias para realizar os direitos pode ser lido na íntegra aqui.


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