Eliana Tranchesi foi mais importante do que se imagina

A morte de Eliana Tranchesi, hoje, de madrugada, provocou uma comoção generalizada. Por vários motivos. O primeiro é o drama em si, perder a vida relativamente jovem – pouco mais da metade da vida adulta? – por causa de uma doença devastadora e que ainda desafia a medicina.

O segundo ponto é que a mulher em questão lutava pública e corajosamente contra o mal instalado dentro do seu corpo, diagnosticado um ano depois de ter sido presa por formação de quadrilha, fraude em importações e falsificação de documentos, em 2009. O terceiro ponto é o que ela representava – ou representou – para a moda brasileira. Não era estilista, era empresária que, queiram seus inimigos ou não, criou um império a partir de um formato de comércio até então inédito.

Eliana, na verdade, forjou uma cultura de negócios que começou entre comadres para que, anos depois, fosse responsável pela entrada e consolidação do mercado de moda de luxo no País. Foi, guardadas as devidas proporções, tão importante quanto Paulo Borges na construção de um ideário.

Trabalhava na coluna social da Folha de S.Paulo quando fui convidado a cobrir a inauguração do neoclássico prédio da Daslu na Marginal Pinheiros, há sete anos. O conceito era moderno: 120 grifes convivendo num mesmo espaço, de 20 mil m2, sem separação entre elas, sem vitrines e com a vantagem de pagar tudo ao final. Impressionante também foi me deparar com a venda de ilhas em Angra dos Reis por R$ 8 milhões e caixinhas de band-aid a R$ 3,99, sem contar na exposição de helicópteros, vinhos e tudo o que se imaginar. E, vamos combinar, pagar R$ 30 para estacionar o carro no local também provocou susto. Chegar a pé, de ônibus? Cafona, bem cafona.

Lembro que o então governador Geraldo Alckmin foi presença ilustre, servido por garçons de luvas brancas. Sua filha, Sophia, trabalhava na loja de quatro andares que, importante destacar, tinha elevadores com sofás brancos e pés dourados. As convidadas estavam em êxtase. “Isso aqui é uma apoteose. Chanel, Prada, Gucci. Não compro mais nada lá fora”, disse uma. “Adoro passar o dia entre araras, comprar, almoçar. Mas deixo claro que há limite: só compro até R$ 5 mil por vez. Só uma vez gastei R$ 20 mil. Estava com raiva. Meu marido foi para Paris e não me levou”, completou outra.

Essa mesma clientela se disse viúva quando Eliana foi presa. Além de comentar sobre quão injusta foi aquela prisão, a falta que a anfitriã faria por lá e, especialmente, o vazio que sentiriam se a Daslu fosse lacrada. O que fariam durante as tardes? Hoje a Daslu está nas mãos de outro grupo, mudou-se para o Shopping Cidade Jardim e até abriu filial no Rio.

Depois de ter um sonho esvaindo de suas mãos, Eliana enfrentou um câncer dos mais agressivos nos pulmões e lamentou no blog da filha Luciana, mês passado, que “pela primeira vez na minha vida, não vi luz no meu presente, nem alegria no meu passado, nem esperança no futuro”. Hoje a champanhe vai descer mais amarga na garganta de muita gente que a admirava.

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