Família Addams: uma grande diversão

Tinha tudo para dar errado. A Família Addams já era um clássico dos quadrinhos quando virou filme, estrelado por Raul Julia e Anjelica Huston, há 20 anos, e, mais recentemente, espetáculo de relativo sucesso na Broadway, ou seja, estava cravado na memória coletiva. De repente, ficamos sabendo que a história seria montada no Brasil. Será que daria certo?

Dois: Marisa Orth como Mortícia (com extensão vocal limitada para musicais) e Daniel Boaventura como Gomez (galã de novelas, cantor romântico) eram riscos consideráveis. Sem contar a presença de duas crianças em cena, cantando e representando de igual para igual com os atores veteranos. Por fim, e não menos importante, os efeitos especiais que a montagem pedia. Se não fossem bem realizados, poderíamos estar diante de uma montagem sofrível, mambembe.

Foto: Divulgação

O inesperado aconteceu: o espetáculo, que estreou ontem no Teatro Abril, em São Paulo, é muito bom. Marisa convence como Mortícia, apesar de aparentar uma certa tensão nas cenas de dança, e Boaventura simplesmente nasceu para o personagem. O humor está no ponto, a performance vocal de alto nível, e sua expressão corporal é excelente. Talvez sua melhor atuação em musicais até aqui.

Laura Lobo, como Wandinha, é outra revelação. A atriz brasiliente de 21 anos parece uma adolescente em cena e, motor de toda a ação da peça, mostra-se segura e carismática. São de sua personagem, aliás, as melhores frases do texto. “Eles amam Celine Dion”, diz a menina para o pai, quando avisa que está apaixonada por um rapaz “normal” e pensa em convidar sua família para jantar com os excêntricos Addams. “Adoro a parte de estar presa”, afirma depois de uma longa declaração de amor. Presa, tratando-se de uma Addams, é estar acorrentada e sofrendo.

Os efeitos especiais também são bem realizados, especialmente o número com sombras. Também vale destacar o inteligente uso da cortina do teatro que ora parece personagem ora funciona como o coro do teatro grego, comentando a cena. O espetáculo deve fazer linda carreira no teatro, e é diversão tanto para adultos (que gargalharam a valer na estreia) quanto para adolescentes. A direção e concepção é de Phelim McDermott e Julian Crouch, com coreografia de Sergio Trujillo.


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