Heróis de Daniel Kfouri

2007. Daniel Kfouri decide passar dois meses em Cuba e fotografar o país, seus habitantes, sua vida. Ele perambula pelas ruas, senta nos botecos, conversa com as pessoas, se esconde nas sombras e nos traz uma luz incrível. A sua Cuba não é o país dos carros antigos, dos charutos, dos passeios pelo Malecon. Não é a ilha exótica, não é a Cuba exaustivamente fotografada e mostrada, também não é o sonho dos anos já passados e esquecidos do século XX. A sua ilha não é onírica, é real.
Kfouri nos revela agora uma mostra, um olhar, uma esguelha, um átimo daquele período, em que a luz fura a sombra e ele nos apresenta aqueles que ele definiu como heróis: “Estava num boteco um dia conversando com os cubanos, e discutindo sobre os mitos locais, Fidel Castro, Che Guevara, Camilo Cienfuegos, os heróis da revolução de 1959. Num determinado momento da conversa, eles disseram que eles próprios eram os heróis, por terem sobrevivido a todos os momentos pós-revolucionários”, conta Daniel, por telefone. “Heróis não muito diferentes dos habitantes de nossas periferias brasileiras, que também são sobreviventes”, complementa.

Oito anos depois estes registros podem ser vistos e admirados. Foram apresentados, numa edição mais enxuta, durante o Festival de Fotografia de Tiradentes deste ano, e agora, numa mostra ampliada na DOC Galeria em São Paulo. São 14 imagens entre dípticos, trípticos e uma série de nove fotos em preto e branco, além de uma projeção (só no dia da vernissage) de mais de 50 imagens em preto e branco.
Uma Cuba que só pertence a Daniel Kfouri. Ele que, no começo de seu trabalho, há 15 anos, só fotografava estátuas, consegue humanizar o mármore e converter em pedra o ser humano. A curadoria e o texto de apresentação ficaram por conta do fotógrafo mineiro João Castilho, que escreve: “Daniel Kfouri é um fotógrafo que mantém o olho fixo no seu tempo. Fotografou em diversas partes do mundo, presenciou grandes eventos, grandes tragédias, grandes manifestações populares. Mas Daniel é também um fotógrafo do ínfimo, do dia a dia, que sabe tirar de uma cena aparentemente banal toda a dramaticidade ali encerrada.”
Daniel Kfouri, muito mais do que olhar, é um fotógrafo que se permite ouvir, escutar e aprender com as histórias que se desenrolam à sua frente. Percebe, vê e registra. Neste exposição ao optar, juntamente com o curador, por dipticos, trípticos e séries, ele que nos apresentar uma narrativa longa, quase cinematográfica, de sombras se ligando a outras sobras, de esgarços de luz que se aproximam, da falta que preenche. Nas nove imagens em preto e branco que fazem parte da exposição um outro respiro, uma outra percepção: uma preocupação maior com o enquadramento, com a composição com a luz. Diferentemente das fotos coloridas que nos surpreendem a cada olhar. Definitivamente a Cuba de Daniel Kfouri não saiu de nenhum sonho de liberdade, mas de uma realidade vivida. É por isso que nos fascina.

Serviço – Heróis
Rua Aspicuelta, 662 – Vila Madalena – São Paulo
(11) 3938.0130
De 12 de maio a 5 de junho
De segunda a sexta, das 11h às 13h e das 14h às 19h


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