Os novos baianos

Carlinhos Brown continua em evidência. A música "Real in Rio", composta por ele e Sergio Mendes para a animação Rio, do brasileiro Carlos Saldanha, concorre ao Oscar – a premiação será em 26 de fevereiro. A notícia reitera o apelo pop que a obra do cantor, compositor e percussionista baiano alcança. Com senso rítmico e melódico apurado e atitude performática, Brown lança uma visão cosmopolita às imagens que o mundo lhe sugere, construída a partir de uma cultura popular e miscigenada e da sua herança negra. Tem sido assim tanto na contribuição para a MPB (com parcerias com músicos como Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Herbert Vianna) quanto na produção carnavalesca. Uma fronteira cada vez mais tênue pela própria configuração do Carnaval e, especialmente, pela capacidade que Brown tem em transitar entre os dois universos. Além de indicado ao Oscar, ele finaliza um DVD acústico, gravado ao vivo em dezembro, realiza turnê pela América Latina e continua com seus saraus quinzenais em Salvador. Foto: Divulgação
Marcia Castro, 33, é premiadíssima cantora baiana que está se tornando universal. Embora tenha começado a cantar e tocar violão na adolescência, ela considera o início oficial de sua carreira o lançamento do primeiro disco, "Pecadinho", em 2007. “Acho que conquistei maturidade sem perder as coisas que são minhas, como a ironia e a sensualidade.” Além de personalidade, um dos pontos fortes da artista é o critério na escolha de repertório – já gravou versão de canções de Belchior, Zeca Baleiro, Sérgio Sampaio e Roque Ferreira e mergulha com desenvoltura no universo debochado de Tom Zé. Em 2008, ela se mudou para São Paulo, mas para o lançamento de seu segundo álbum, "De Pés no Chão" (a música-título é uma regravação de Rita Lee), com lançamento previsto para março, depois ela vai voltar à Bahia. Segundo ela, o novo disco apresenta uma MPB mais robusta, que resgata canções que não tiveram tanta repercussão de cantores tarimbados, além de músicas de jovens autores. Foto: Virginia de Medeiros
Ele é a sensação do verão baiano e promete ser a grande novidade do Carnaval da capital baiana, onde vai estrear com um trio elétrico no circuito Barra-Ondina. Margary Lord – nome artístico que vem do vilão MacGaren, da série japonesa "Jaspion" e do porte de lorde ironizado pelo pai – consegue agradar gregos e troianos. Faz música para as massas – gravou a canção "Joelho", já conhecida na versão do Araketu – e para as minorias. Teve canção reproduzida por Seu Jorge e se apresentou com Caetano Veloso. Magary Lord faz o chamado black semba, uma fusão do ritmo musical de Angola (semba) com a música negra brasileira, em especial, o samba do Recôncavo. O resultado é um ritmo hiperdançante que ganha força do cantor, que também é percussionista. Foto: Estúdio Gato Louco/Divulgação
Intelectual reconhecido nacionalmente, com extenso currículo acadêmico e uma trajetória ligada principalmente à Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia, Albino Rubim assumiu, no ano passado, o cargo de secretário de Cultura do Estado, com disposição para articular vozes em torno de uma reflexão sobre os caminhos que devem lastrear as ações da sua pasta. Afinal, política cultural e sociedade (inclusive questões de identidade) são o seu forte. Com status e respeito que sustentam inclusive boatos de que substituiria Ana de Hollanda no Ministério da Cultura, ele nega ter sido sondado, enquanto se posiciona na área em que vinha atuando como pensador e agora o solicita também como gestor. Foto: Mateus Pereira/AGECOM
Com certeza, você já ouviu o som de Letieres Leite – ele já trabalhou com grande nomes da música brasileira, como Ivete Sangalo e Daniela Mercury, entre outros. “Foi uma escola acompanhar Ivete. Fiz os primeiros arranjos dela, era a oportunidade de entender melhor o processo popular de composição.” De um tempo para cá, Letieres decidiu seguir carreira solo. Ele, que é maestro, instrumentista (percussão, saxofone e flauta transversal), arranjador e compositor, também é o criador da Orkestra Rumpilezz, um grupo só de sopros e percussão, com estruturas rítmicas elaboradas que mantêm a origem da música sacra dos terreiros. O nome vem dos atabaques do candomblé: rum, rumpi e lé acrescidos do sufixo do jazz; já orkestra segue o formato original da palavra, que vem do grego. “A música é metafisica, vai além do que aparenta. Tem o poder de conectar as pessoas à natureza plena das coisas. Os paradigmas e as formas nos aprisionam e poder compor sem me preocupar com tamanho ou fórmulas me dá um sopro de vitalidade”, diz o músico. Ainda não o ouviu? Não sabe o que está perdendo. (Gabriel Vituri) Foto: Lucas Azevedo
Negra Jhô ficou conhecida pelos turbantes que usa e produz. Com o dom de transformar tecidos ordinários em exuberantes enfeites afro-baianos, ela acabou organizando uma exposição de suas peças. Desde 25 de novembro, o Dia da Baiana, 21 turbantes podem ser vistos no Museu Udo Knoff, no Pelourinho. As “esculturas” foram batizadas com nomes emblemáticos da cultura negra, como Deusa do Ébano, Zumbi dos Palmares e Rainha Nzinga. A mostra Coroa de Ouro, que em princípio terminaria em janeiro, foi prolongada até 8 março devido ao sucesso. “Sou filha de Ogum com Iansã. Então, para mim, o número 21 é muito forte. É o número de Ogum, o homem que me guia, é estrada, e o começo é sempre”, diz ela, referindo-se à quantidade de turbantes em exibição. Nascida no quilombo da Muribeca, em São Francisco do Conde, na Bahia, Valdemira Telma de Jesus Sacramento, 51 anos, aprendeu a fazer turbantes na infância, brincando de boneca. “Perdi minha mãe muito cedo, mas via minha avó usando no culto do candomblé. Os turbantes protegem o nosso orí (cabeça) e as energias que circulam. Também é um sinal de respeito ao orixá.” (Deborah Giannini) Foto: Uran Rodrigues
Marepe é a assinatura desse artista reconhecido internacionalmente – ele tem obras na Tate Modern, em Londres, e no Centre George Pompidou, em Paris. Mas, na verdade, é a junção das primeiras sílabas de seu nome de batismo: Marcos Reis Peixoto. Ele vive em Santo Antônio de Jesus, no Recôncavo baiano, onde nasceu e colhe até hoje referências e inspiração. O coletivo GIA (Grupo de Intervenção Ambiental), composto por sete amigos artistas plásticos, designers e arte-educadores, também tem destaque na cena artística baiana. Criado em 2000, com o propósito de mostrar que a arte está totalmente ligada à vida, o grupo realiza ações pela cidade com o objetivo de promover a reflexão sobre o cotidiano – sempre com humor e ironia. Foto: Edouard Fraipont
Vitorino Campos, 22 anos, é o único nome do Norte e Nordeste a integrar a Associação Brasileira de Estilistas. Mas não demarca traços de uma identidade regional e frisa que faz moda, e não figurino. Aos 16 anos, ele abriu sua primeira empresa, depois de frequentar o ateliê de costura da tia e dar seus primeiros passos na área de criação na loja de fardamentos da mãe, em Feira de Santana, interior da Bahia. Hoje, comanda uma equipe de 20 profissionais e tem duas marcas: a Vitorino Campos, de alta costura, com roupas sob medida, e a Vitorino prêt-à-porter. “Estamos em um mundo plural e essa pluralidade foi para o mercado de consumo.” Foto: Edu Castello
Alemã radicada na Bahia há 15 anos, a diretora teatral Nehle Franke enfrenta, desde o ano passado, um desafio: a direção da Fundação Cultural do Estado (FUNCEB), instituição encarregada de implantar e desenvolver políticas para manifestações e linguagens artísticas em um Estado com cerca de 420 municípios, paisagens culturais diversas e identidade ligada às matrizes negras. Um desafio que deve apresentar mais percalços e desconfianças, pelo fato de Nehle ser “gringa”. Mas parece tirar isso de letra: “Vamos enfrentado o que vier”. Para se dedicar ao novo cargo, abandonou o posto de codiretora e curadora do Festival Internacional de Artes Cênicas da Bahia, que ajudou a criar em 2008, e deve demorar a voltar aos palcos como encenadora. Foto: Divulgação
Aos 37 anos, João Rodrigo Mattos já tem dois longas-metragens no currículo. O primeiro, Agostinho da Silva – Um Personagem Vivo (2006), é um documentário sobre o avô, filósofo e poeta português que, defensor da liberdade como bem maior do homem, autoexilou-se no Brasil durante a ditadura de Salazar. O segundo é Trampolim do Forte, uma ficção sobre a dura vida de meninos pobres da Bahia que se divertem dando saltos no píer do Forte de Santa Maria, no Porto da Barra, que deve entrar no circuito comercial em março. Morador do Centro, quando garoto classe média, ele gostava de se juntar aos moleques na Baía de Todos os Santos. “Lá era o meu playground. A ideia do novo filme é subverter o cartão-postal da cidade com uma história não original, porém verdadeira.” Foto: Divulgação

Com apenas 29 anos, o chef Rui Carneiro já soma uma década dedicada à gastronomia, com passagem por restaurantes em Londres e São Paulo, como o premiado D.O.M., onde estão seus irmãos Giovani e Genivaldo Carneiro. De volta à Bahia, sua terra natal, Rui passou a trabalhar no Chez Bernard, o mais antigo restaurante francês de Salvador (fundado em 1964), com visão privilegiada para a Baía de Todos os Santos. Há um ano e meio, ele assumiu a cozinha da casa e promoveu inovações no cardápio, que vão desde pratos tradicionais da cozinha francesa até a culinária contemporânea, acrescentando aromas e sabores locais, como manga, gengibre, capim santo e tapioca. “Temos muitos produtos bons. É preciso valorizar e oferecer novas possibilidades ao paladar.” Como gestor, também revolucionou o restaurante, reorganizando a cozinha e os horários da equipe. Tudo em nome do bom paladar. Foto: Ted Silva


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