Documentos mostram como CBF ‘vende’ as convocações

Foto: Ricardo Stuckert/ Fotos Públicas (15/04/2015)
Foto: Ricardo Stuckert/ Fotos Públicas (15/04/2015)

De acordo com reportagem do jornalista Jamil Chade, do Estado de S. Paulo, a Confederação Brasileira de Futebol está envolvida em mais um escândalo. O jornal publicou, no último sábado (16), uma matéria expondo detalhes de contratos firmados pela entidade juntamente à empresa Internacional Sports Events, com sede nas Ilhas Cayman, responsável pelos amistosos da seleção brasileira desde 2006.

De acordo com a publicação, a CBF comercializou as listas de convocações através de mecanismos impostos pela empresa para controlar quais jogadores são chamados para vestir a amarelinha. Pelos acordos firmados, a lista de convocação precisa atender a critérios estabelecidos pelos parceiros comerciais e qualquer substituição precisa ser realizada em “mútuo acordo” entre a Confederação e os empresários. O contrato deixa claro ao afirmar que “o jogador que substituir um titular precisa ter o mesmo ‘valor de marketing’”

Estas condições pré-estabelecidas fazem parte de contratos secretos obtidos pelo Estado de S. Paulo, revelando pela primeira vez como a CBF vem leiloando as convocações em troca de milhões de dólares em comissões a agentes e cartolas, sempre em paraísos fiscais, longe dos olhos da Receita Federal.

Desde 2006 a Confederação mantém um contrato com a companhia International Sports Events (ISE) para a realização dos amistosos da seleção. Os documentos obtidos pelo jornal paulistano mostram que a empresa é fantasma, não possui nem escritório, nem funcionários e sua sede é localizada nas Ilhas Cayman. 

Em 2011 esse contrato foi renovado por mais 10 anos pelo então presidente da CBF, Ricardo Teixeira. Entre 2006 e 2012 a ISE sublicenciou a operação para a empresa Kentaro. Em 2012 o contrato de operação passou para a Pitch International, depois de uma negociação entre ISE e CBF. Nos primeiros acordos entre as empresas e a Confederação, não existia nenhuma menção à regras para as convocações, até 2011.

A partir de então um acordo secreto estipulou que a seleção deveria entrar em campo sempre com seus principais jogadores, sem qualquer possibilidade de fazer testes com jovens promessas ou usar amistosos como jogos preparativos para o grupo olímpico. Qualquer fato que viole este acordo significa menor pagamento de cota. Se seguir com o acordo, a CBF leva para casa nada menos de que US$ 1,05 milhão, cerca de R$ 3,14 milhões, por jogo.

Outra questão estipulada no contrato com a empresa fantasma é o direito de transmissão, ou qualquer outro direito autoral em relação à seleção, que fica sobre o controle total da ISE. Os papéis ainda preveem que a empresa poderá explorar as preparações da seleção brasileira para os mundiais de 2018 e 2022, na Rússia e no Catar, respectivamente.

Em entrevista ao jornal Estado de S. Paulo o atual presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, defendeu o contrato firmado na última gestão de Ricardo Teixeira para a realização de amistosos. “O contrato, na medida do possível, a gente faz para cumprir. Nós chegamos e já tinha esse contrato, temos de cumprir. Eu não chego a dizer que esse contrato é tão ruim, porque quando a gente jogava aqui no Brasil, não chegava a tirar esse valor (US$, 1,05 milhão). Hoje quanto é isso? 3 milhões é pouco? Se analisar, hoje, o contrato é bom.”


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