Tulipa Ruiz: quando três é bom demais

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Foto: Rodrigo Schmidt

“Um som que te pegue pelo braço e gere movimento, antes de qualquer pensamento.” Foi com essa meta que Tulipa Ruiz entrou em estúdio para registrar o terceiro álbum de sua aclamada carreira de intérprete e compositora. Algo que o título, Dancê, sugere de cara. Mas, segundo ela, a despeito da aparente predominância dançante, o sucessor de Efêmera e Tudo Tanto é também o mais denso de seus três registros.

Em entrevista concedida no Red Bull Station, “laboratório” de criações multidisciplinares no centro de São Paulo onde Dancê foi gravado, a cantora ponderou que “maturidade” talvez não seja a palavra exata, mas defendeu que o novo trabalho revela uma banda com mais “horas de voo” e maior liberdade de experimentação em estúdio. Na leitura de Tulipa, pela primeira vez houve tempo de sobra para produzir um álbum a contento. “O mais legal de passar um mês em estúdio foi a possibilidade de imersão, de trabalhar de manhã até a noite. Poder fazer, inventar, errar e repetir”, diz ela.

O valor dessa liberdade criativa é mesmo perceptível na nova safra dessa cantora que muito antes de ter suas primeiras experiências com gravações se formou no palco em bandas como DonaZica e Pochete Set. Agora, ela enxerga saídas até mesmo em situações imprevistas. “No começo, um simples pigarrear meu no estúdio podia ser amedrontador. Eu ficava assustada com coisas como essa, mas, hoje, elas me instigam e podem até ser usadas nas músicas, de alguma forma.”

Diferentemente da divulgação on-line do álbum anterior quando – ao perceber a baixa qualidade das versões piratas que se proliferavam na internet – a própria Tulipa jogou nas redes sociais uma versão de Tudo Tanto para download gratuito, o lançamento de Dancê terá formato físico em CD e virtual, em serviços de download pago e streaming. A propósito, este último recurso, em que se pode apenas ouvir gratuitamente as músicas em plataformas como Rdio e Spotify, mas não baixá-las, é o novo xodó de Tulipa. Tanto que ela decidiu comprar um par de fones de ouvido turbinado para curtir música no celular. Na contramão desses formatos contemporâneos, a cantora também tem o hábito de ouvir velhos bolachões de vinil na vitrola de casa onde, garante, dispensa audições no computador.  

Nos dias 22, 23 e 24 deste mês, Tulipa dará início à turnê que colocará à prova o repertório de Dancê, no palco do SESC Pinheiros, em São Paulo. Convidados ainda não foram confirmados – o álbum traz ícones como João Donato e o guitarrista Lanny Gordin –, mas ela estará escoltada de seus músicos, o irmão, Gustavo Ruiz, e seu pai, Luiz Chagas*, guitarristas; Márcio Arantes, contrabaixista; e Caio Lopes, baterista.

Foto: Fabio Piva/Red Bull Content Pool
Foto: Fabio Piva/Red Bull Content Pool

Nepotismo de luxo 

Produtor dos três álbuns da irmã Tulipa, Gustavo Ruiz também desponta como coringa de outros novos artistas

Gustavo Ruiz não é apenas o irmão mais novo, o guitarrista e um bom amigo que conhece os gostos da irmã como ninguém. Além de compor a quatro mãos com a cantora, ele é também produtor de Efêmera, Tudo Tanto e Dancê. Função que, garante, não pretendia exercer quando entrou “meio de gaiato”, com um convite para cuidar do primeiro álbum de Juliana Kehl, em 2009. Antes disso, trabalhava apenas como instrumentista, passando por grupos como DonaZica e as bandas de Mariana Aydar, Junio Barreto e Vanessa da Mata. Reconhecido pelo trabalho de produtor, ele também foi convidado para trabalhar com Verônica Ferriani, Trupe Chá de Boldo, Zé Pi, Gustavo Gallo e André Furlan. Em Dancê, Gustavo coassina dez das 11 faixas. Ele também tem parcerias autorais com Carlos Rennó e Stéphane San Juan. Ainda assim, até bem pouco tempo não cogitava a ideia de fazer um trabalho solo. Mas esse desejo começa a ganhar contornos. “Talvez eu faça um disco solo no segundo semestre deste ano”, antecipa. “Compositor tímido”, ele garante que não tem planos de engrenar uma carreira. O álbum solo, recheado de amigos, funcionará mais como um registro para celebrar o material engavetado nos últimos anos. Que venha, então. 

A reportagem da Brasileiros pediu à cantora que fizesse breves comentários sobre as 11 composições de seu novo álbum. Leia as considerações, na mesma ordem presente em Dancê.

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Prumo
A primeira faixa do disco é a música de uma pessoa que toma às rédeas da própria vida.

Proporcional
Essa fala que no amor tudo tem cabimento.

Tafetá
É uma declaração de amor a João Donato, que participa da gravação. Uma música para uma pessoa elegante e atemporal.

Elixir
Uma noite, não havia remédio em casa para dormir, então fiz uma música para conseguir desligar. 

Reclame
Canção feita em parceria com toda a banda. É como se fosse um desses anúncios de lambe-lambe que a gente vê em postes.

Expirou
Com o Lanny Gordin na guitarra, fala sobre a nostalgia de coisas que a gente não viveu. 

Jogo do Contente
Tem um arranjo delicioso de sopro do Márcio Arantes e um refrão que é um exercício de autoajuda.

Virou
É uma parceria com Manoel e Felipe Cordeiro (guitarristas), pai e filho. 

Físico
A história de uma pessoa que é a apaixonada por outra, mas também por “pedaços” de outras pessoas.

Oldboy
Uma canção sobre a morte.

Algo Maior
Tem a participação do Metá Metá. Vejo-a como uma onda sonora, que vai além das palavras.


Comentários

Uma resposta para “Tulipa Ruiz: quando três é bom demais”

  1. Avatar de Marina Bastos
    Marina Bastos

    Olá amigos, adorei a matéria sobre o novo trabalho da Tulipa e a parceria com seu irmão, porém, gostaria de sugerir uma correção: O nome do músico com o qual Gustavo Ruiz trabalhou como produtor é Andrei Furlan, e não André.
    Grande abraço!

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