“Nem a morte vai evitar o que a Fifa tem pela frente”, diz ex-vice-presidente

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, recebe o presidente da Fifa, Joseph Blatter, e seu vice, Jack Warner, em 2009, na Casa Branca - Foto: The White House
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, recebe o presidente da Fifa, Joseph Blatter, e seu vice, Jack Warner, em 2009, na Casa Branca – Foto: The White House

O ex-vice-presidente da Fifa e um dos 14 nomes listados no alerta vermelho da Interpol anunciado na quarta-feira (3), Jack Warner, de Trinidad e Tobago, disse nesta quinta (4) que “sabe porque Joseph Blatter renunciou ao cargo de presidente” da entidade” e ameaçou revelar uma “avalanche de segredos” sobre o dirigente suíço e outros mandatários do órgão que comanda o futebol mundial.

“Blatter sabe o motivo de ele ter caído. E se ninguém sabe, eu posso dizer. Eu não vou mais manter segredos para quem busca destruir, agora, o país que eu amo”, disse ele durante uma propaganda televisiva paga veiculada nesta quinta-feira em seu país. Nela, Warner exibiu cópias de supostos cheques e documentos assinados por Blatter e por outros dirigentes da Fifa tentando manipular as eleições legislativas de Trinidad e Tobago, em 2010. Ele disse que as provas já estavam nas mãos de “pessoas respeitáveis”, “advogados” e que tinha uma “avalanche de coisas adicionais para contar”.

Nas eleições legislativas de 2010, o partido United National Congress (UNC), de centro-esquerda, encabeçando uma coligação, ganhou 59,81% dos votos, contra os 39,5% do partido do então primeiro-ministro, Patrick Manning. Kamla Persad-Bissessar, líder do UNC, foi nomeado primeiro-ministro após as eleições e continua a ocupar o cargo, enquanto Warner, eleito deputado pelo mesmo partido. Em 2013 ele saiu do governo para se tornar oposição, criando o Partido Liberal Independente.

Em outras imagens veiculadas nesta quinta-feira, Warner aparece em um comício político repleto de pessoas em volta. No evento, ele pediu desculpas por estar sendo investigado pela Justiça dos Estados Unidos e revelou que está com medo de perder a vida. “Me perdoem por não divulgar as coisas que eu sabia antes. Sou um isolado soldado solitário nestes acontecimentos”, afirmou. “Nem a morte vai evitar o avalanche que está chegando à Fifa. Eu estou razoavelmente temeroso pela minha vida”, completou.

Vídeo de Jack Warner transmitido nesta quinta:

Jack Warner, de 72 anos, já foi deputado pelo Partido Liberal Independente representando a província de Caguanas, em Trinidad e Tobago, além de Ministro da Segurança do país entre 2010 e 2013, durante o governo do primeiro-ministro Kamla Persad-Bissessar. No futebol, comandou a Concacaf, entidade que organiza o futebol na América Central, do Norte e no Caribe entre 1990 e 2011, ano em que foi afastado por denúncias de irregularidades. Nas investigações do Departamento de Justiça dos EUA, Warner é acusado de lavagem de dinheiro, extorsão, fraude eletrônica e recebimento de propinas para votar a favor do Mundial da África do Sul, em 2010, quando ele supostamente recebeu US$ 10 milhões em troca do seu voto e para instigar outros dirigentes a fazer o mesmo.

Nesta semana, o presidente da Federação Australiana de Futebol, Frank Lowy, publicou uma carta dizendo que Jack Warner também pediu propina para votar em favor da Austrália como sede da Copa do Mundo de 2022. A Fifa anunciou, no entanto, que o Catar vai organizar o torneio neste ano.

Copa do Mundo de 1998

Peça-chave do escândalo de corrupção envolvendo a Fifa, o ex-membro do Comitê Executivo da entidade, o norte-americano Chuck Blazar revelou em depoimento ao FBI que membros da entidade, inclusive ele, receberam propinas no processo de escolha da sede da Copa do Mundo de 1998, realizada na França, e na de 2010, organizada pela África do Sul.

A denúncia faz parte de um depoimento de 2013 de Blazer, que colabora há pelo menos três anos com a Justiça norte-americana. Segundo o delator, ele e outros membros da Fifa receberam subornos não apenas para escolher determinada nação como sede da Copa, mas também em contratos de direitos televisivos. As propinas eram pagas nos Estados Unidos e em seguida transferidas para paraísos fiscais no Caribe. Blazer começou a cooperar com o FBI após ser acusado de receber subornos de entidades esportivas e não declarar recursos à Receita norte-americana. Em um acordo, ele se declarou culpado, devolveu quase US$ 2 milhões e passou a denunciar outras pessoas.

Além das suspeitas envolvendo os Mundiais de 1998 e 2010, o FBI e as autoridades suíças também estão investigando a escolha de Rússia e Catar para receber as Copas de 2018 e 2022, segundo a imprensa dos Estados Unidos.


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