“Envelhescência”: tempo de consumar o envelhecimento

O que é, afinal de contas, envelhecer? Essa é pergunta abordada pelo documentário  Envelhescência que estreia no próximo sábado (17), às 19h, no Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo (CCBB-SP). O filme de 84 minutos dirigido por Gabriel Martinez traz reflexões sobre a longevidade, abordando não só o próprio desgaste do tempo – impossível de ser ignorado –, mas ressalta a atitude proativa de seis personagens “envelhescentes” que refutaram os estigmas e estereótipos da sociedade contemporânea em relação à terceira idade.

Na busca pelos personagens, o diretor selecionou histórias como a de Edmeia Corrêa, que se tornou surfista após os 60 anos. Edson Gambuggi, que se formou em medicina aos 84; o japonês Kenji Ono, introdutor do aikido no Brasil e ainda hoje, aos 89 anos, um mestre admirado e praticante da técnica; Judith Caggiano, que começou a tatuar o seu corpo após os 70 anos; o incansável Oswaldo Silveira, maratonista campeão da categoria 80 a 89 anos; e o doutor Luiz Schirmer, paraquedista com mais de 70 anos de idade.

Envelhescência conta também com a participação de Alexandre Kalache, médico e presidente do Centro Internacional de Longevidade; Miriam Goldenberg, doutora em Antropologia Social e professora em Sociologia e Antropologia do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IFCS/UFRJ); e Mário Sérgio Cortella, filósofo, escritor e professor universitário.

Quanto ao termo “envelhescência”, este surgiu em 1996 por Manoel Tosta Berlinck, doutor em sociologia e psicanalista formado pela Cornell University (Nova York, Estados Unidos), para descrever a transição da vida adulta para a velhice, comparando a passagem entre a infância e a adolescência. Trata-se de um conjunto de experiências pessoais ao longo da vida que faz com que o indivíduo subverta as noções sobre o declínio e degeneração, transformando-as em uma relação criativa de envelhecimento.

Na juventude, as surpresas estão na barba que cresce, nos seios que aparecem, nas mudanças hormonais, na descoberta da sexualidade e nas responsabilidades da vida adulta desconhecida e assustadora. A ambição neste período é de acumular capital financeiro, conquistas de trabalho, dedicação acadêmica etc., sempre pensando em longo prazo. Já na “envelhescência”, o mistério está na proximidade da morte. Os projetos precisam ser planejados com mais urgência e repensar as prioridades e a rotina pode gerar mudanças radicais. É como se perguntasse: o que resta a fazer?

Se não temos a resposta clara agora, ela pode ser dos “futuros idosos” que vivenciarão a Revolução da Longevidade, como Kalache defende através do termo “gerontolescência”. Se a adolescência dura, em média, de 5 a 6 anos para vivenciar as experiências novas e se adaptar a elas; a “gerontolescência” dura 20, 30 anos ou mais. Ou seja, os jovens de hoje viverão cerca de 30 anos a mais do que os seus avós. Segundo Kalache, durante o Fórum a Saúde do Brasil de 2014, em 1970, a expectativa de vida era de 53,5 anos. Hoje, ultrapassa os 75.

O filme demorou dois anos e meio para ficar pronto e destaca que, no período da terceira idade, é tempo para encontrar as respostas pessoais sobre o que é a vida – frente a sua companheira, a morte – e consumar os prazeres do envelhecimento como capital que adolescente nenhum tem o privilégio. O diretor Gabriel Martinez, em seu primeiro trabalho, tem leveza, positivismo e, sobretudo, bom humor com a irreverência dos personagens e uma tônica que parece reger a nova geração de idosos, revelando suas gratificações pela “melhor idade”. 

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