Fruto de suas reflexões nas aulas dadas desde 2005 na Universidade Estadual Paulista (UNESP), o economista Luiz Afonso Simoens da Silva acaba de lançar o livro Moeda e Crise Econômica Global, com linguagem simples, para não iniciados.
Ao longo da obra, ele mostra como três fatores predispuseram a economia mundial a enfrentar sucessivos reveses. O primeiro foi a falta de regulação do capitalismo, que se acentuou após 1970. O segundo foi o abandono progressivo das regras de Bretton Woods. Por fim, o descompasso entre o aumento da renda e o da riqueza mundial. São todos fatores que dificultam um crescimento sustentável.
O ponto de partida de sua análise é a crise de 1929, que se originou de um complexo emaranhado de fatos, como tendências recessivas da economia, pressões para que a Alemanha fizesse pagamentos de reparações da Primeira Guerra Mundial, frenética acumulação de ouro pelas potências europeias, aumento das taxas de juros e intensa especulação na Bolsa de Nova York. O investimento foi paralisado e houve o estouro da bolha do mercado acionário.
Na segunda parte do livro, Simoens da Silva analisa o milênio atual, dividindo-o entre antes de 2007 (quando se achava que o capitalismo havia superado suas crises) e depois, quando as débâcles voltaram com força, em função da desregulamentação dos mercados financeiros.
O professor chama a crise hipotecária de 2007 de “o último baile da Ilha Fiscal”. Foi engendrada pelo irresponsável ritmo de concessão de crédito imobiliário, nos Estados Unidos, sem a exigência de contrapartidas. Como resultado, houve quebra de vários bancos, inclusive do tradicional Lehman Brothers. Sua conclusão é desanimadora: “Traduzir o que ocorreu como fatalidade natural, ainda que rara, é um convite à sua repetição”.
Enquanto os Estados Unidos despejaram rios de dinheiro no sistema bancário, a Europa – sem recursos – optou por estatizar temporariamente suas instituições financeiras. A crise europeia, que só agora parece estar terminando, começou com fortes movimentos especulativos contra os países periféricos, como a Grécia. Segundo o autor, ainda é cedo para saber o que o futuro trará à zona do euro.
Também são analisados os impactos da crise global no Brasil. E foram bem sérias. Em 2007, o Produto Interno Bruto (PIB) do País havia crescido 6%. A partir do último trimestre daquele ano, o crescimento caiu para 5%. A arrecadação dos tributos despencou, em 2009, e os gastos federais aumentaram. Para combater o negativismo, o governo usou e abusou de medidas anticíclicas, como a desoneração do IPI de vários produtos e a farta concessão de crédito barato.
O lado negativo foi a concentração da concessão de crédito nos bancos públicos, notadamente no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). “Em 2006, por exemplo, os cinco maiores bancos tinham 54% e os dez maiores 73% dos ativos totais; em 2009, 79% e 80%, respectivamente.”
Ao fim do livro, o autor avalia que o dólar ainda deve ficar no centro do sistema por um bom tempo. Já o euro é “moeda sem Estado”, pois nenhum país individualmente fala pela divisa. Quanto aos emergentes, Simoens da Silva observa uma “intensa movimentação no rumo de fortalecerem suas próprias regiões”. Mas a América Latina carece de iniciativas “governamentais de integração ampla nas áreas monetária e financeira”. O Mercosul, por exemplo, ficou restrito a questões comerciais. O economista conclui que é preciso fortalecer os blocos regionais, o que permitiria enfrentar os desafios do século 21.
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