Papa viaja à América Latina com agenda voltada a ‘periferias’

Foto: Jeon Han/ República da Coreia/Fotos Públicas (18/12/2014)
Foto: Jeon Han/ República da Coreia/Fotos Públicas (18/12/2014)

    O papa Francisco iniciará neste domingo (5) sua segunda viagem à América Latina, passando por Equador, Bolívia e Paraguai, com a missão de discutir questões sociais e se aproximar das “periferias”, marco de seu Pontificado.

    A visita ao continente era aguardada desde 2013, quando o argentino Jorge Mario Bergoglio assumiu a liderança da Igreja Católica e esteve no Brasil para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ).

    Apesar da expectativa de uma ida à Argentina, sua terra natal, e à Colômbia, que enfrenta há décadas um confronto com o grupo guerrilheiro Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), o roteiro de Francisco inclui apenas nações que estão longe dos centros de poder da geopolítica internacional.

    “Pela primeira vez a visita será feita a três países, não os maiores e os primeiros na geopolítica, seguindo a lógica das periferias querida pelo Pontífice. A história desses três países, feita de conflitos e ditaduras, será um elemento importante para entender as mensagens que o Papa irá proferir”, disse o porta-voz da Santa Sé, padre Federico Lombardi.

    De acordo com o o professor Fernando Altemeyer Junior, do Departamento de Ciências da Religião da PUC-SP, Francisco sabe que não há necessidade de estar somente em países centrais para que sua mensagem seja ouvida.

    “O Papa possui outros interesses além da diplomacia. Ele não precisa ir a um caldeirão quando a água está fervendo”, disse o especialista, em entrevista à ANSA, justificando a exclusão da Colômbia e da Argentina do roteiro.

    Para Altemeyer, os três países foram escolhidos por apresentarem semelhanças como economias em desenvolvimento, populações rurais, forte influência do catolicismo, presença de movimentos sociais e povos minoritários, como os indígenas.

    “Equador, Bolívia e Paraguai não são destinos muito prestigiados, mas o objetivo do Papa não é fazer uma missão diplomática. Ele celebrará uma missa em guarani, visitará um hospital, se reunirá com a sociedade civil e religiosos”, afirmou o teólogo Jorge Claudio Ribeiro, da PUC-SP.

    “O que chama mais a atenção no Pontificado de Francisco é que ele transpassa por diversos temas, sem escolher um mote específico. Ele toca em questões de níveis variados, de pobreza, imigração e pedofilia à corrupção e ecologia”, analisou o especialista.

    E é justamente o assunto do meio ambiente que pode vir à tona durante sua passagem pela América Latina. Com sua recém-lançada encíclica “Laudato Si”, que fala sobre ecologia e escassez, Francisco deverá fazer apelos direcionados às populações rurais.

    “Francisco já conhece esses países desde a época em que era sacerdote e poderá fazer discursos mais livres e contundentes em sua língua materna, o espanhol”, disse Altemeyer.

    Talvez em 2016 o líder da Igreja Católica faça, finalmente, uma visita à Argentina e à Colômbia, sendo que neste último país ele deve assumir um papel de mediador com as Farc.

    Para 2015, Francisco tem programada uma viagem para Cuba e Estados Unidos, após se tornar peça-chave na retomada das relações entre as duas nações, rompidas há mais de meio século.


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