Daniel Alves: “A palavra que eu mais odeio na minha vida é político”


É difícil alguém bater a hashtag #MasterChefBR em uma terça-feira, quando o programa é exibido no fim da noite pela Bandeirantes. Mas ontem Daniel Alves quase tirou a competição culinária de seu posto absoluto no Twitter. Tudo graças a uma entrevista “linguaruda” e surpreendente para o programa Bola da Vez na ESPN, apresentando por Dan Stulbach e com participação de André Kfouri e Mendel Bydlowski. Entenda:

daniel

O começo do papo foi leve. Daniel brincou com o seu gosto musical (“vai de Beatles ao Nego do Borel) e contou um pouco sobre o começo difícil – trabalhar com o pai na roça, ir treinar no Bahia só com uma muda de roupa, etc. Nenhum sinal da explosão que viria a seguir. 

Logo depois, começou a tocar nos assuntos polêmicos. Primeiro falou da difícil renovação de contrato com o Barcelona, clube onde já está há 7 anos e meio, e sua briga para ser respeitado pelos dirigentes da equipe (“achavam que eu tinha 32 anos e que eu tava acabado”). Disse que é amado por todos no clube, mas o problema são os dirigentes, com quem tem relação de amor e ódio por conta dos interesses deles.

“Quando tenho que criticar o presidente do meu clube, eu critico se ele tiver fazendo as coisas erradas. Porque eu não devo nada a ninguém”, comentou, falando ao mesmo tempo do seu lado pouco político. Na sequência, já disparou que ‘político’ é palavra que mais odeia na vida.

E Daniel respeitou isso no resto da entrevista, abordando mais polêmicas sem aliviar ninguém. A seguinte foi quando garantiu que Pep Guardiola só não treinou a Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 2014 porque a CBF não quis. 

“A realidade é a seguinte: o Pep é o melhor treinador do mundo. (….) Um cara que revolucionou o futebol, revolucionou um time. E a gente tem a chance de ter o cara aqui sem ter que gastar, se o problema é dinheiro, porque a intenção dele era receber só tendo o resultado esperado pelo povo brasileiro, e você deixa passar uma oportunidade dessa, você não pensa na Seleção brasileira”, comentou o jogador, que ainda afirmou que Pep já tinha uma Seleção brasileira na cabeça há muito tempo. “Eu pago porque sou linguarudo, mas eu não conto mentira (…) Antes da Copa, ele queria treinar a Seleção brasileira e não quiseram”.

Sobre o trabalho na Seleção foi mais enfático na fala seguinte, afirmando que não aceita que joguem a culpa de tudo que acontece nos jogadores. Para ele, todos os jogadores fazem um grande esforço e abdicam de momentos importantes da vida (férias, família) para servir a seleção, que, ainda de acordo com ele, pode dar status e trazer possibilidades, mas não traz estabilidade para ninguém. “Status a gente tem fora, a gente não precisa do status da Seleção Brasileira”.

Medo? Que nada… “Poucos têm a valentia de falar. (…) Eles sabem que se opinar podem não voltar para Seleção Brasileira (…), eu já passei dessa fase”. 

O jogador do Barça também falou abertamente sobre o 7×1 contra a Alemanha. “Taticamente a gente não tava preparado (…), futebol não tem surpresa, futebol é preparação, vitória é preparação”, disse, considerando que o problema da Seleção brasileira não foi o físico e nem o psicológico. Sobre o período da Copa ainda reclamou da falta de privacidade durante os treinos, que impediam movimentos e palavras mais bruscas dos jogadores e da comissão técnica “porque no Brasil tudo vira notícia”. 

E teve mais…

Para Daniel, o futebol brasileiro parou no tempo, acomodado com os cinco mundiais (“A gente não tá se reinventando”). Também não poupou os técnicos (“Se treinadores brasileiros, no geral, fossem muitos bons, estariam treinando fora do Brasil, em grandes ligas”). Sobrou até para o atual presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, que não foi ao Chile acompanhar a Seleção (“não é possível que o presidente não assista uma competição…”). Sobre a treta que Neymar se envolveu na Copa América foi objetivo e revelou que nos bastidores falou o que pensava (“Pergunta pro Ney o que eu falei para ele, vamos ver se ele fala”), mas em público defendeu o “irmão”. 

Sobre a situação atual da Seleção considerou que muitos jogadores acabam tendo medo de arriscar, fazer algo a mais por conta do receio de receberem críticas e acusações de culpa em caso de falha. “Time, coletivo, não pode ter culpados”. 

Na última pergunta, Dan Stulbach percebeu que estava diante de um momento raro e quis ir além: “Me dá a impressão que vocês, jogadores, de alguma maneira conversaram e que você sentiu ‘isso tá errado, isso tá injusto com a gente, eu vou lá na ESPN e vou falar pela gente um pouquinho’, é isso?”.

Daniel respondeu: “Você acertou no ponto que eu estava pensando, eu fui falando com alguns e não sou conformista, não. Não me conformo com a situação que a gente tá vivendo porque não é responsabilidade nossa, por isso eu tô aqui. Eu falei, muda alguma coisa porque tá me corroendo por dentro. Posso amanhã não voltar para Seleção, e não vou falar uma palavra aqui porque ela é mal (sic), mas do jeito que tá não pode continuar, porque tá refletindo em pessoas que não deveriam (os jogadores)”. 

Algum momento mais brando na entrevista? Talvez só quando o jogador revelou que gostaria de jogar no São Paulo em um possível retorno ao Brasil e encerrar a carreira no Bahia.

Achou pouco? Bem, não consegui lembrar aqui qual foi a última vez que um jogador de Seleção brasileira falou tanto (e de maneira tão explícita) ainda em atividade. No Twitter, a maioria dos comentários insistem em afirmar que Alves não joga mais na Seleção depois dessa entrevista.

Pode ser exagero, mas é difícil não imaginar alguma consequência. Uma represália por parte da CBF seria péssimo e só inibiria ainda mais uma participação dos jogadores nas discussões que envolvem o atual momento do futebol, algo que faria muita diferença. O ideal é mais papo aberto o tempo todo e não o contrário. Mandou bem, Daniel.

—-

Aliás, feliz #7x1Day para todos nós! (A ESPN adiantou a exibição da entrevista com Daniel Alvez não por acaso. Originalmente, a entrevista iria ao ar só na semana que vem, mas foi adiantada por conta de sua força…)

Quer ver? O canal liberou alguns trechos em seu site, (no YouTube você acha a íntegra…).

E parece que no Altas Horas gravado esta semana, o lateral do Barça também falou bastante… Vamos ver no que vai dar isso tudo…


Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.