Uma das convidadas da próxima edição do TALKS, que será dedicado à fotografia e acontecerá durante a SP-Arte/Foto, Sarah Meister entrou em 1997 para o Departamento de Fotografia do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), tornando-se curadora da instituição em 2009. Entre as exposições recentes que levam sua assinatura destacam-se Modern Photographs from the Thomas Walther Collection, 1909–1949 (2014-2015, em parceria com Quentin Bajac); Nicholas Nixon: Forty Years of The Brown Sisters (2014); e Walker Evans American Photographs, 75th Anniversary (2013-2014). Formada em História da Arte na Universidade de Princeton, Sarah faz palestras sobre a fotografia do século XX e colabora com diversas publicações, entre elas a revista Aperture, para a qual escreveu, no ano passado, um artigo sobre a artista multimídia brasileira Regina Silveira. Entre as aquisições que fez para o museu ressalta-se um grande número de trabalhos de artistas latino-americanos, entre eles os brasileiros Geraldo de Barros e Alair Gomes. A seguir trechos da entrevista concedida a Simonetta Persichetti.
ARTE!Brasileiros — Em que momento você percebeu a virada da fotografia como documento para uma expressão artística?
Sarah Meister – Embora Wal-ker Evans tenha sido um dos primeiros a admitirem a possibilidade de se criar uma linguagem artística a partir do puro fato fotográfico, e ele tenha articulado essas possibilidades nos anos 1930, Evans reconheceu que o trabalho do fotógrafo francês Eugène Atget, das primeiras décadas do século XX, foram fundamentais para sua percepção desse potencial. Ao longo da história da fotografia, esse potencial é periodicamente redescoberto, e a fotografia “documental”, não embelezada, adquire um significado nitidamente contemporâneo. Certamente, no momento em que comecei a pensar criticamente a respeito do assunto, em meados dos anos 1990, na Universidade de Princeton, não havia dúvidas de que as fotografias, até mesmo as documentais, podiam ser registros de expressão artística.
Como você vê a entrada da fotografia no mundo mercadológico, abandonando a contemplação museológica e se tornando um objeto de valor?
Tenho a sorte de trabalhar em um museu em que o valor da fotografia é determinado por muitos fatores, nenhum deles sendo o mercado. Eu não acho que as fotografias tenham deixado de ser objetos de contemplação: a força delas reside no diálogo entre o artista e o público, não importa a forma que essa conexão venha a tomar.
Quais as dificuldades hoje em dia de um curador de fotografia perante as inúmeras possibilidades imagéticas?
A importância crucial do imaginário fotográfico para tantos aspectos de nossa cultura artística e popular contemporânea faz com que este seja um momento emocionante para ser um curador de fotografia. É um desafio hoje em dia permanecer atento às suas diferentes manifestações, mas esse é um desafio que a maioria dos curadores que eu conheço está feliz em aceitar.
O que é ser curador nos dias de hoje?
Em qualquer época, é responsabilidade de um curador entender a intenção de um artista e a importância das obras de arte, e transmitir esse entendimento para um público mais amplo por meio de exposições e publicações. Isso é válido quando se analisa tanto as práticas artísticas contemporâneas quanto as maneiras como as práticas históricas têm relevância contemporânea.
Quais as tendências e os possíveis rumos da fotografia no futuro?
Felizmente, isso é algo que cabe aos artistas definirem, não aos curadores. Dito isso, devo afirmar que fico impressionada com o renovado interesse pelo objeto fotográfico, com o reconhecimento de que a presença material da fotografia carrega em si um significado essencial e específico. Provavelmente, há muitas razões para isso, mas certamente um dos fatores é a proliferação de imagens que circulam exclusivamente em forma digital, registradas em iPhones e postadas no Instagram, no Facebook, etc. Quem sabe não foi a própria imaterialidade desses bilhões de imagens que tenha levado tanto artistas quanto fotógrafos amadores a reavaliar as fotografias como objetos?
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