Está desanimado?

Empresários ou operários, professores ou estudantes, investidores estrangeiros ou economistas nativos, pesquisadores ou sambistas, médicos ou artistas plásticos, jornalistas ou agricultores, moços ou velhos. Quem tiver condições, não deve perder a oportunidade de conhecer de perto a revolução que está acontecendo no Nordeste brasileiro, que já foi considerado a região mais pobre do País e hoje cresce em ritmo chinês, bem acima da média nacional.

Só para se ter uma ideia: nesta última década, a economia nordestina cresceu 4,2%, enquanto a média nacional foi de 2,3%, até 2009. Para este ano, a previsão é de crescimento em torno de 10%, o mesmo da China. Se o leitor anda desanimado da vida com as notícias sobre o País, que são divulgadas na grande imprensa, faça como a reportagem da Brasileiros, que passou duas semanas em maio percorrendo grandes e pequenas cidades de três Estados (Ceará, Pernambuco e Piauí), do litoral ao sertão, e encontrou um povo novamente orgulhoso de ser nordestino, que recuperou a autoestima e agora assiste à volta de milhares de paus de arara para a sua terra de origem, o retorno dos retirantes. Com oportunidades de trabalho e de estudo, os jovens nordestinos já nem pensam em descer o Brasil como fizeram seus pais.

Não é para menos, nos últimos cinco anos, mais de duas mil empresas de grande e médio portes se instalaram na região, gerando 1,2 milhão de novos empregos. Segundo maior mercado consumidor do País, com um crescimento previsto de R$ 40 bilhões em relação ano passado, a região conta com 23 novos polos de desenvolvimento industriais e agrícolas, com destaque para o Complexo Industrial Portuário de Suape, próximo a Recife, um dos lugares visitados, onde encontramos em franco crescimento um novo ABC paulista, o antigo símbolo da locomotiva do Brasil.

O que aconteceu? Basta só um indicador para explicar esse Novo Nordeste que se tornou o símbolo do Brasil que deu certo: em 2002, último ano do governo Fernando Henrique Cardoso, o Banco do Nordeste do Brasil, principal financiador dessa revolução, emprestou R$ 1,6 bilhão para novos investimentos. Em 2009, esse valor atingiu R$ 20,8 bilhões – 50% a mais que no ano anterior. Para 2010, a previsão é de R$ 30 bilhões em financiamentos para novos investimentos na região.

Com uma diferença fundamental: antes, a inadimplência no BNB chegava a 36% dos empréstimos concedidos; no ano passado, esse índice caiu para 4%, que está dentro da média nacional. Explicação de um diretor que está lá no banco desde o começo do governo Lula: “Antes, quem emprestava dinheiro aqui, não tinha o hábito de pagar, e o banco não tinha o hábito de cobrar…”.

Com seus 54 milhões de habitantes espalhados por uma área de 1,5 milhão de km2, a mesma da Alemanha, Reino Unido, Itália e França juntas, este Novo Nordeste é hoje dono de um mercado de consumo de R$ 390 bilhões, responsável por 14% do PIB nacional. Pensar que a popularidade do presidente Lula e da aprovação do seu governo em todo o País, que beira os 80%, se deve apenas ao Bolsa Família é uma grande bobagem. Estamos falando de uma região do País que conta hoje com 950,5 mil empresas.

Os R$ 31,5 bilhões repassados pelo governo federal para o programa Bolsa Família já geraram outros R$ 18,4 bilhões, a partir do consumo dos beneficiários, um mercado que criou 455 mil novos empregos só no Ceará. O Bolsa Família pode ter representado o pontapé inicial para arrancar o Nordeste do círculo vicioso da seca, da fome e da miséria, no primeiro governo Lula, mas a partir daí gerou outras demandas de consumo. Depois da comida, as pessoas começaram a comprar roupas e sapatos, passaram a cuidar mais da aparência, o que levou à abertura de salões de beleza e à compra de produtos de higiene pessoal, trocaram os jegues por motos. E, agora, quem poderia imaginar uma coisa dessas?! Estão até comprando carros e viajando de avião.

Claro que esse crescimento acelerado também tem as suas dores: em todas as cidades e estradas por onde passamos, o trânsito piorou e o movimento de caminhões nos fez lembrar São Paulo em seus piores dias; portos e aeroportos estão congestionados; aviões voam lotados; subiram os preços dos imóveis, tanto para comprar como para alugar. Já está faltando mão de obra especializada. Um dos ícones desse progresso nordestino, o Estaleiro Atlântico Sul, em Suape, que já entregou o primeiro navio construído no Brasil nos últimos 14 anos, o petroleiro João Cândido, teve de buscar soldadores e montadores no Japão, os dekasseguis brasileiros que emigraram na década passada em busca de trabalho e agora estão voltando. Ao lado deles, trabalham profissionais formados lá mesmo, que até recentemente ganhavam a vida no corte de cana.

Investidores paulistas, como a família de Roberto Macedo, o dono do lendário restaurante Rodeio, no coração dos Jardins, reduto de quatrocentões paulistanos, onde a maioria dos funcionários veio do Piauí, agora estão fazendo o caminho inverso. Macedo e seu primo Manoel Junqueira já investiram R$ 25 milhões em uma área de 20 mil hectares em uma nova fronteira agrícola do Piauí, em reflorestamento e plantação de grãos, no Médio Parnaíba, a 140 km de Teresina. Histórias dos novos bandeirantes se confundem com as dos velhos sertanejos, que botam fé no seu taco e vão à luta, sem medo de perder o trem da história.

Para acreditar em tudo isso, só vendo. Foi o que a reportagem de Brasileiros fez para levar os leitores a conhecer esse Novo Nordeste em textos e fotos publicados nas páginas seguintes. Deu muito trabalho, mas valeu a pena. Boa viagem!

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