A dica dos britânicos para sair do sedentarismo é um app para ‘correr de zumbis’

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A aposta é sair correndo de zumbis para fugir da preguiça. Foto: Elena Gatti/Creative Commons

Lembra-se quando o aplicativo de corrida contava quilômetros, marcava o trajeto em um mapa e controlava a velocidade dos passos?  Pois bem, parece que restringir-se a essas funcionalidades está ficando um pouco datado.

Além de fornecer esses dados gerais, os aplicativos móveis mais recentes trazem também alarmes, explosões, vozes humanas e até zumbis para animar a sua atividade física. É o caso do game de fitness chamado Zombies, Run, que já conquistou mais de 1,5 milhão de usuários.

Lançado pela companhia britânica Six to Start, o aplicativo transforma o exercício em um jogo, permitindo que você faça parte de uma história que se desenrola durante a corrida. Segundo os desenvolvedores, essa é uma tendência que veio para ficar. 

Eu testei o app. A experiência foi mais ou menos assim: 

Primeiro escuto o forte ruído de uma explosão, seguido por um estridente alarme. Em uma fração de segundos, surgem algumas vozes: são outros humanos, um homem e uma mulher, que conseguem se comunicar comigo, mas não podem me ouvir. Sem saber meu nome, me apelidam de “runner 5” e me passam a instrução: Corra, há zumbis tentando te pegar. Aos poucos, eles me contam o que aconteceu: A explosão foi provocada por eles, os zumbis. Eles tomaram toda a cidade e há poucos sobreviventes que, assim como eu, estão em fuga.
Enquanto corro vigorosamente, o homem e a mulher vão dizendo o que preciso fazer. Aconselham reunir tudo o que for encontrando pelo caminho (roupas, lanternas, mantimentos) e me pedem para ir a um hospital buscar mais medicamentos. Também me alertam quando preciso apertar o passo para não ser alcançada pelos mortos-­vivos.
Entre uma comunicação e outra, ouço minha boa e velha playlist dos anos 80, uma das minhas favoritas para a corrida.

Este vídeo tornará o relato mais vivo:


Coacher zumbi: como tudo começou

Correr com zumbis, explica Adrian Hon, co-fundador e CEO da Six to Start, foi uma ideia que surgiu da experiência pessoal dele. Não com zumbis, claro, mas com a necessidade de incluir esportes na rotina. Todos sabemos que esportes fazem bem à saúde, que passamos tempo demasiado sentados e que devíamos nos mover mais. Toda essa informação, porém, nem sempre é o suficiente para nos fazer levantar do sofá, calçar os tênis e encarar uma atividade física – qualquer que seja.

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Tela inicial do “Zombies, Run”/Divulgação

Hon conta que detestava corrida quando era adolescente. “Só comecei a correr com a ajuda de gadgets, como os relógios com GPS.” Entretanto, ele percebeu que esses acessórios eram limitados.

“Essas tecnologias ajudam bastante a melhorar o nosso desempenho, mas não conseguem fazer o ato de correr em si ser mais divertido para quem está começando. Por isso, sempre quis desenvolver um game de corrida de verdade, algo capaz de motivar a pessoa”, diz. 

Os zumbis vieram depois, por uma inspiração da autora do enredo do jogo, a escritora britânica Naomi Alderman. Naomi tinha ouvido a expressão de uma colega do curso de corrida para iniciantes no qual havia se inscrito. Quando perguntaram por que cada um dos alunos queria aprender a correr, uma das futuras corredoras respondeu em tom de troça: “Para fugir da horda zumbi”.

A frase rapidamente virou piada no grupo de corrida e, quando Adrian mencionou à escritora a vontade de criar um aplicativo de corrida, ela logo completou “algo em que a pessoa fuja de uma multidão de zumbis”. E assim estava criado Zombies, Run. Entre os jogadores-corredores já há, nos cálculos de Adrian, 15.000 brasileiros, cerca de 1% do total.  


O departamento de saúde inglês comprou a ideia 

Depois dos zumbis, vieram outros aplicativos: “The Walk” (£2,39), realizado com financiamento do departamento de saúde britânico, e “Superhero workout”(£2,39), último lançamento, em 2014. O processo é trabalhoso, mas Adrian garante que eles já estão cheios de ideias para o futuro.

A fórmula encontrada pela companhia combina simplicidade (não é preciso nenhum equipamento extra, apenas o telefone celular), estratégias de redes sociais (os progressos feitos no jogo podem ser compartilhados dentro do próprio aplicativo ou em outras redes) e um adeus à monotonia, comum a aplicativos de fitness

Afinal, uma vez que são jogos, eles progridem. Ao seguir a história, os jogadores passam de fase e recebem novas missões. Os itens coletados durante o exercício podem ser usados dentro do próprio jogo – no caso de Zombies, Run, por exemplo, posso usar tudo o que ganhei enquanto corria para ajudar a reconstruir o distrito destruído pelos zumbis. 

As várias fases do Zombies, Run:

Foi essa capacidade de pensar diferente a prática de atividades físicas, potencialmente valiosa para afastar os mais jovens do sedentarismo, que chamou a atenção do departamento de saúde britânico.

Em 2013, o órgão apoiou financeiramente, por meio de um prêmio, a criação de The Walk. Seguindo os passos de Zombies, Run, o programa é um jogo para celular no qual o jogador é incentivado a caminhar 10.000 passos todos os dias enquanto cumpre uma missão para salvar o mundo.


Enfim, será que correr de zumbis é pra você?

Em um primeiro momento, um apocalipse zumbi pode parecer uma narrativa um tanto exagerada. Principalmente se você, assim como eu, não é um grande fã dos mortos-vivos.

Mas é preciso dizer que, para quem ainda reluta toda vez que vê um par de tênis (e acaba sempre adiando a saída de casa) ou mesmo para quem já corre (mas anda buscando novas experiências durante o caminho), vale dar uma chance para a combinação entre aplicativo de monitoramento, game e narrativa de ficção. 

Principalmente porque, desde maio, a Six to Start decidiu transformar Zombies, Run em versão freemium. Ou seja: é possível experimentar a brincadeira sem precisar desembolsar nem um centavo. 

Só é preciso uma versão de sistema operacional compatível com o jogo e um pouco de conhecimento de inglês, língua na qual a história é narrada. Dito isso, se depois de testar você não sentir aquela empatia pelos zumbis, é só desinstalar o aplicativo do celular e voltar à corrida tradicional.


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