A produção e venda de bens de consumo duráveis deverão puxar a recuperação da economia brasileira, principalmente a partir de 2016. É o que afirma relatório do Banco Bradesco, assinado pelo economista Leandro de Oliveira Almeida. De acordo com o diagnóstico, “o redirecionamento em curso da política econômica e os ajustes irão criar recuperação sustentada mais à frente”. O banco estima que o Produto Interno Bruto (PIB) vá recuar 1,7% neste ano. Quando se analisa os períodos mais acentuados de queda, observa-se que os momentos de recuperação foram liderados pela indústria. Os destaques serão automóveis, móveis e eletroeletrônicos. Para Almeida: “Há um represamento do consumo de duráveis durante a crise e a recuperação da atividade e da confiança induzirá à reação mais rápida desse segmento”.
8,5% é quanto crescerá o PIB brasileiro em 2016, segundo Fernando Sampaio, da LCA Consultores. Para este ano, a previsão é de queda de 7,5% em 2015, de acordo com Everton Gomes, economista do Santander
Everton Gomes, economista do Santander, tem uma visão similar. Segundo ele, o PIB recuará 1,5% neste ano e crescerá 0,5% em 2015. A fraca recuperação no próximo período se deve a uma série de fatores, como o uso da capacidade instalada na indústria estar baixo, o que postergará investimentos; os salários vêm crescendo acima da produtividade, deixando as empresas menos rentáveis; e aumento do desemprego. “A reação em 2016 se dará pela menor queda da oferta do crédito e o aumento da confiança do consumidor, que aliviarão os setores de veículos e de móveis e eletrodomésticos.” Ante um crescimento previsto de 7,5% em 2015, o crédito deverá subir 8,5% no próximo ano. Outro fato positivo será o possível início de um afrouxamento monetário, já que a inflação deve cair de 9% neste ano para 5,5% em 2016, pois o alinhamento dos preços administrados terá ficado para trás. A inadimplência das empresas, por exemplo, está hoje em 4%, ante 3,4% há um ano. Mas deve recuar, acredita Gomes.
0,19% é quanto crescerá o PIB brasileiro em 2016, segundo Fernando Sampaio, da LCA Consultores. Para este ano, a previsão é de queda de 1,5%
A avaliação otimista dos bancos, no entanto, não é consensual. Para a economista Alessandra Ribeiro, da Tendência Consultoria Integrada, em que pese o fato de a base de comparação ser baixa – o PIB deve cair 1,4% neste ano –, o consumo irá apenas “respirar” em 2016. O que vai puxar a atividade econômica serão as exportações, sobretudo a mineradora Vale, que deve incrementar suas vendas externas. O segundo fator, ela diz, será o investimento do setor privado. “Após queda de 4,4% em 2014 e de 10% neste ano, haverá crescimento de 2,2% em 2016.” Serão inversões do setor privado, uma vez que o público está com espaço “limitado”, pelo ajuste fiscal e denúncias de desvios de recursos da Petrobras. Um aspecto intimidador do crescimento, segundo a economista, é a inflação. “Será de 9% neste ano, sobretudo pelo realinhamento dos preços administrados. Haverá ‘carregamento’ para 2016. Dificilmente haverá convergência para a meta de 4,5% no próximo ano.”
Para Pedro Rossi, professor doutor do Instituto de Economia da Unicamp, a avaliação do Bradesco “não é plausível”. “A indústria cresce quando há aumento de demanda; é induzida. Não acredito no mercado de bens duráveis como indutor. Se houver aumento da procura, será suprida pelas importações.” Segundo ele, o crescimento seria possível com o aumento do gasto público, o que não deve ocorrer por causa do ajuste fiscal. Também seriam bem-vindos investimentos da Petrobras, paralisados pela operação Lava Jato. Por fim, seria necessária uma sinalização positiva da política monetária – queda dos juros. Rossi acredita que não há demanda reprimida. Houve saturação do longo ciclo de crescimento da oferta de crédito e da melhor distribuição de renda. “Dificilmente haverá um novo ciclo.”
Fernando Sampaio, diretor da LCA Consultores, prevê queda de 1,5% do PIB neste ano e crescimento de 0,19% em 2016. Ele acredita que a política fiscal será menos apertada no próximo ano, porque o grosso do corte de gastos do governo e aumento de impostos já terão acontecido. Também se espera o fim do ciclo do aumento dos juros. Outro fator de alívio será a redução do risco de racionamento de energia, relevante de 2013 a este ano. Isso levou o empresariado a postergar investimentos, com medo de ser pego no contrapé. “Novas usinas entrarão em operação. Muitas já deveriam ter sido inauguradas”, diz Sampaio. Além disso, o fenômeno El Niño vai provocar chuvas no sul do País, beneficiando a agricultura. Por fim, as concessões anunciadas pelo governo em junho começarão a “virar obras em 2016”.
Para Sampaio, há outros fatores. O mercado tem a expectativa de que a inflação caia de 8,5% neste ano para 5% ou 5,5% em 2016. “O maior vilão foi o reajuste das tarifas de energia e dos combustíveis, que não deve se repetir.” O câmbio valorizado deve ajudar a indústria e, eventualmente, as incertezas políticas terão se dissipado. E o elevado nível das reservas internacionais do País (cerca de US$ 374 bilhões) evitará a fuga de capitais.
“Se a atual política econômica não mudar, não há saída”, afirma João Sicsú, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Segundo ele, os canais de crescimento econômico estão bloqueados. O consumo está em queda e o rendimento médio do trabalhador cresce cada vez menos. “Os investimento públicos caem e os privados não crescem pelo clima de pessimismo que assusta os empresários. Alguma reação poderia vir pelas exportações com a desvalorização do real. Mas a economia mundial não vai bem e não haverá demanda para nossas vendas externas.” O saldo comercial do País está crescendo mais pela queda das importações, segundo o economista. Nessa perspectiva, os problemas sociais e o desemprego devem crescer. “É uma situação inédita nos últimos anos: perdemos 300 mil postos de trabalho com carteira assinada neste ano.” E mais: o Brasil não deve conseguir perfazer a meta de superávit primário porque os gastos com juros vão superar os R$ 300 bilhões neste ano.
Para Thais Marzola Zara, economista-chefe da Rosenberg Associados, o cenário será um pouco melhor em 2016. “Teremos a inflação cedendo e, ainda que não convirja ao centro da meta, mas fique próximo dele, a sensação será melhor, bem como o impacto sobre o poder de compra”. Além disso, o pior em termos de efeitos da Lava Jato já terão cessado. Ao menos, não se espera que os investimentos caiam ainda mais no próximo ano. Pelo contrário, com algum sucesso dos leilões de concessões previstos para este ano, deve haver aumento de investimento em 2016. “Teremos uma política monetária menos rígida, com redução da taxa de juros em algum momento de 2016. Estamos em processo de ajuste de estoques, que deverá se intensificar, o que poderá auxiliar no momento em que o consumo tiver um vislumbre de melhora.” E, por mais que o reajuste do salário mínimo em termos reais seja próximo de zero, teremos em 2016 um reajuste nominal da ordem de 9%, trazendo uma injeção de ânimo no começo do próximo ano. Esses fatores juntos devem contribuir para um 2016 melhor.
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