Bela mulher, bela empresa

A indústria de cosméticos brasileira vive um dos melhores momentos de sua história. Ao longo da última década, galgou mais de dez posições e aparece entre os quatro maiores e mais importantes mercados de beleza do mundo. A diversidade de produtos para o cabelo e para o corpo é imensa, novidades surgem todos os dias. Foi se debruçando sobre esse universo que a executiva Mariangela Bordon conquistou sua independência, fez sua fortuna e é considerada uma das mais importantes e inovadoras empresárias do segmento de higiene e beleza do Brasil.

Há três anos à frente da marca Eos Cosméticos, Mariangela tornou-se uma executiva de sucesso com a marca OX, empresa que vendeu em 2004. Nas mãos de Mariangela, a OX faturou milhões e chegou a ter mais de 500 produtos no catálogo. Curioso é saber que a OX surgiu quase que em extensão das brincadeiras de cabeleireira que a executiva protagonizava na adolescência ao lado das primas e irmãs na fazenda da família, região de Campinas, interior de São Paulo.

Bem nascida, filha de Geraldo Bordon, um grande empreendedor da área de carnes que esteve à frente, por décadas, ao lado dos homens da família, das operações do frigorífico Bordon, um dos mais importantes do Brasil, Mariangela cresceu ouvindo um ditado: “Do boi só não se aproveita o berro”. No entanto, naquele universo tipicamente masculino dos negócios que envolvem gados e fazendas, Mariangela nunca seria bem aceita. “De mulher trabalhando no frigorífico, só faxineiras e secretárias. Naquele negócio e naquela época não havia o menor espaço para alguém do sexo feminino”, recorda.

Precisar trabalhar para o seu sustento, Mariangela, de fato, não precisava, mas o DNA do empreendedorismo soou forte e ela não demorou muito a descobrir uma forma de também fazer com que o ditado do universo bovino fosse colocado, de maneira mais feminina, em prática. Em uma de suas viagens para a França, a mignon, porém enérgica filha de Geraldo Bordon, conheceu os benefícios de um creme para o cabelo feito à base de tutano de boi e decidiu recriá-lo no Brasil. “A OX surgiu sem grandes planos no início, na cozinha da fazenda, com a minha mãe me ajudando e a minha filha participando como se fosse uma brincadeira”, recorda. A matéria-prima não era problema, havia em abundância na fazenda, mas o cheiro forte e desagradável era um grande empecilho para o desenvolvimento do primeiro produto cosmético à base de tutano de boi no mercado brasileiro. Foi só com inúmeras tentativas e com a contratação do trabalho de um químico que Mariangela criou, em 2003, o primeiro produto da empresa, batizou a marca com o nome de OX, boi em inglês, e em menos de dez anos construiu uma marca milionária que foi vendida para o Grupo Bertin.

Exausta, com dinheiro o sufici-ente para não precisar mais trabalhar, Mariangela pensou que teria um longo período sabático pela frente, mas a pausa, de fato, não durou mais que quatro meses. O pai faleceu logo após o negócio ser concretizado, Mariangela também perdeu um de seus irmãos e, já como uma profunda conhecedora dos assuntos da beleza, decidiu escrever e publicar um livro – Que Cabelo é Esse? – que a entreteu por um ano. Mal terminou o livro, se viu envolvida com a criação de uma nova linha de produtos, mas dessa vez com um apelo alinhado aos desejos atuais dos consumidores mais exigentes: produtos com ativos naturais, que utilizam propriedades únicas da água e assim nasceu, em 2007, a Eos Cosméticos, com uma linha de 120 produtos, totalmente idealizados por Mariangela. Enquanto a OX nas mãos dos novos donos se voltou para a classe C, a Eos, que conta com uma loja-conceito na região do sofisticado bairro dos Jardins, em São Paulo, atende a um público mais abastado e exigente. O xampu, por exemplo, tem preço médio de 18 reais o frasco.

Para fazer a nova empreitada decolar, Mariangela está imersa em um amplo trabalho de disseminação e distribuição da marca. Atualmente, seus produtos estão presentes em 400 pontos de venda e ela pretende chegar, em breve, a mil. “Tem sido um processo mais lento, lancei a Eos em período de crise mundial, o modelo que foi inicialmente pensado não se mostrou o mais adequado, temos uma grande problemática na tributação dos produtos no Estado de São Paulo, mas estamos conseguindo uma ampla aceitação. Quem experimenta gosta e volta a comprar”.

Mas as dificuldades e as necessidades de ajustes não desanimam Mariangela. Seu nome no mercado é sinônimo de fibra e inovação. Por essas qualidades, embora a Eos não tenha atingido ainda o patamar da OX, Mariangela já começa, novamente, a ser sondada por empresas interessadas em comprar a marca que, por enquanto, não pensa em vender.

Dona de olhos verdes que contrastam com o tom escuro e brilhante de cabelos que são, sem dúvida alguma, a melhor propaganda de seus produtos, Mariangela, aos 52 anos, é uma mulher belíssima, de gestos firmes, bem-sucedida e mãe de uma única filha, Júlia, que, por enquanto, tem preferido às artes aos negócios. Mariangela não esconde que muitas vezes se sente exausta. O que tenta fazer é buscar algum equilíbrio. Embora a genética a tenha visivelmente favorecido, acorda cedo, corre, cavalga, cuida da alimentação, faz uso de todo o poderio da cosmética que bem conhece e está prestes a se submeter a sua primeira cirurgia plástica. “Chega uma hora que não tem jeito. Confesso que não é fácil envelhecer, mas é preciso encontrar outros valores na vida que não sejam a efemeridade da beleza.” Para reduzir o estresse, também delimitou sua zona de circulação ao máximo ao bairro dos Jardins, onde mora e trabalha. Não pensa em mudar, mas admite: “Está cada vez mais difícil viver em São Paulo”.

Mariangela não tem sócios e seu braço direito nos negócios é sua mãe, Eny Bordon, uma senhora de 79 anos que acorda às 6 horas da manhã, trabalha todos os dias até o final da tarde e que possui uma agenda de executiva quase tão intensa quando a da filha. “Foi minha mãe que não me deixou desanimar no momento mais difícil. Logo no início da Eos, nosso estoque pegou fogo e ficamos sem produtos para vender. Foi ela, com sua força e determinação, quem me fez prosseguir”. Atualmente, Mariangela e dona Eny comandam o trabalho de 12 funcionários diretos e mais uma grande equipe de profissionais terceirizados, que inclui toda a rotina da fábrica. “Ela cuida de toda a parte de logística e distribuição, e eu estou à frente da concepção da marca e da criação.”

Rica, bonita, criadora voraz e bem-sucedida, Mariangela poderia parar de trabalhar hoje mesmo, mas, embora não faça planos para o futuro e prefira deixar a vida seguir o seu curso, sabe que está longe da hora do sossego. Pode até se sentir cansada em alguns momentos, mas a vida sem trabalho e sem desafio para a filha de um empreendedor nato e de uma trabalhadora incansável certamente seria entediante.


Comentários

Uma resposta para “Bela mulher, bela empresa”

  1. Avatar de carlos Franck
    carlos Franck

    Mariangela boa noite.
    Meu nome é Carlos Franck gostaria de saber se tens um irmão chamado Paulo César?

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