Apesar do caráter retrospectivo, a mostra Pele do Tempo, de Adriana Varejão, apresenta duas obras inéditas no Brasil: a enorme pintura O Iluminado e o prato Proposta para uma Catequese. A primeira, de 2009, traz questões puramente pictóricas, como cor, luz e perspectiva. A segunda, também pintura, mas de 1998, remete à pesquisa da artista ao barroco e erotismo. As duas só tinham sido expostas no Institute of Contemporary Art, em Boston, nos Estados Unidos.
Mas o rol de obras selecionadas pela jovem curadora Luisa Duarte para a mostra, que acontece no Espaço Cultural Airton Queiroz, na Universidade de Fortaleza (Unifor), passa por mais suportes e épocas, em uma clara tentativa de construção de narrativa histórica da produção da artista. Reúne 32 trabalhos que abrangem os seus 30 anos de carreira – o mais antigo é de 1992 e o mais recente, de 2014. Nenhum criado especialmente para a mostra. O que se vê, portanto, são trabalhos que perpassam as pesquisas da artista sobre a arte barroca, a China, a azulejaria, a iconografia, a história da arte e arte religiosa, a cerâmica, os mapas.
Sobre a pele, Adriana Varejão diz: “Sou uma humanista. Questões sociológicas me interessam, inclusive a questão mestiça e racial do Brasil”. Sobre o tempo, ela afirma: “Para mim, ele não existe. Nós que nos movimentamos nele”.
Carioca, 51 anos, Varejão é nome forte das artes plásticas brasileiras no mundo. Tem obras expostas em museus como Tate Modern, em Londres, e MoMa, em Nova York. Já participou de outras mostras retrospectivas fora do País, como em Paris, na Fundação Cartier, e em Boston, no Institute of Contemporany Art. “Países latinos entendem melhor a minha obra”, Adriana diz. “Nessas exposições, encontro trabalhos que fiz há 20 anos. Revê-los ao vivo é emocionante.”
Adriana Varejão também está na coleção do empresário a Airton Queiroz, chanceler da Unifor. Entre quase 700 obras do acervo que cobre grande parte da história da arte acadêmica, moderna e contemporânea, está O Tesouro de um rei que caminhou sobre a terra, um óleo sobre tela produzido pela artista em 1985. À primeira vista, é difícil reconhecer o trabalho como dela. Mas Varejão explica: “Essa tela já mostra uma saturação, a vontade do barroco, uma volúpia e uma riqueza. Tem traços nessa obra que me reconheço”.
Para o futuro bem próximo, a artista prepara novas peças da série Polvo, de 2013, para uma exposição na galeria Dallas Contemporary. São autorretratos, só que desta vez, trabalhando com índios americanos. Esta, que será a segunda individual de Varejão nos Estados Unidos, está prevista para ser aberta em setembro. Para criar as telas, a artista procurou pinturas de índios e pesquisou informações sobre tribos indígenas com referências em trabalhos de pintores do século 19. Dos Estados Unidos, ela deve seguir para Roma, na Itália, e Hong Kong, na China, para mais exposições.
Serviço – Adriana Varejão – Pele do Tempo
Até 29 de novembro
Espaço Cultural Airton Queiroz (Unifor) – Avenida Washington Soares, 1321 – Bairro Edson Queiroz – Fortaleza/CE
(11) 3477.3319
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