O surreal mais realista já visto

Max Ernst foi um expoente do Dadaísmo. Sua tela L’Ange du Foyer (1937), um dragão cuja riqueza de traços lembra uma meticulosa trama de tecido, é um dos ícones do movimento que ele ajudou a fundar na Europa. Mas ele também foi um artista que se interessou por envolver objetos do cotidiano em suas criações. Seus romances-colagens enquadram-se nessa categoria. São três, dos quais um, com cinco volumes e reunindo 184 obras, está em cartaz no Brasil. A Mostra chegou ao Museu de Arte de São Paulo, depois de passar por algumas das mais importantes instituições europeias, como o Museu d’Orsay, de Paris, com muito sucesso.

Trata-se do romance-colagem chamado Uma Semana de Bondade, que se divide em cinco dias da semana, cada qual com um volume. No passado, os especialistas classificavam esse tipo de trabalho de Ernst como uma série de estudos artísticos do autor alemão (1891-1976), que também era escultor e poeta. Portanto, sem grande importância no conjunto de sua obra. O fato, contudo, é que esses trabalhos, exibidos uma única vez, em Madri, em 1934, chocaram o mundo, incomodaram a Igreja e, assim, passaram 70 anos guardados pelo colecionador francês Daniel Filipacchi. Qual a razão de tanta polêmica? Simples: em linhas gerais, ironizavam a vida cotidiana da classe burguesa, com homens e mulheres mesclados a animais, ainda porque alguns deles se referem ao livro bíblico Gênesis.

Hoje, entende-se que tais obras são importantes, sobretudo para se compreender a técnica de Max Ernst, além, evidentemente, do movimento dadaísta que ele defendia e que pregava o nonsense. O que impressiona o público por onde a mostra tem passado são as habilidades do artista nas colagens em que ele usava desenhos de revistas, jornais e livros dos séculos XVIII e XIX, para criar a ilusão de outra realidade. Ele próprio chegou a dizer que “foi um esforço obsessivo criar o surreal mais realista jamais visto”.


MASP – Museu de Arte de São Paulo
Avenida Paulista, 1578
Telefone: (11) 3251-5644
Até 18 de julho
Terças, quartas, sextas, sábados, domingos e feriados,
das 11 às 18 horas; quintas, das 11 às 20 horas



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