Sérgio Cohn já colocou muito poeta no papel. Criador da revista de poesia Azougue e da Azougue Editoria, ele organizou livros de nomes como Vinicius de Moraes, Roberto Piva, Gary Snyder. Agora quer colocar alguma poesia em vinil.
Em parceria com alguns amigos, criou o projeto Garganta • LP de poesia falada, onde pretende reunir trabalhos de nomes como Alice Sant’Anna, André Dahmer, Angélica Freitas, Fabrício Corsaletti, Gregório Duvivier, Laura Liuzzi, entre outros.
O projeto depende só do apoio de colaboradores, que podem colaborar em sua produção através do site da Embolacha. Para o Garganta sair do papel é preciso um total de R$ 15.882,00. Até o momento já foram arrecadados R$ 5.040,00. O prazo final para mandar uma contribuição é o dia 9 de outubro.
Em um papo rápido, Sérgio Cohn falou um pouquinho mais sobre sua ideia em uma rápida entrevista.
Brasileiros – Me conta como o projeto surgiu, é um tipo de ideia que estava praticamente esquecida, não?
Sergio Cohn – O projeto surgiu numa conversa durante a Noite Beat, no Teatro Cemitério dos Automóveis. Tomando uma cerveja após a nossa apresentação, eu, o Fabiano Calixto e o Marcelo Montenegro ficamos falando sobre o nosso gosto por discos em vinil. E, juntando com o fato de termos acabado de ler poemas, pensamos o quanto seria interessante um disco de poesia contemporânea, razoavelmente jovem (afinal alguns de nós já passaram da casa dos quarenta), em vinil. E decidimos fazê-lo. Daí, procurei a Embolacha, que está se especializando em crowdfunding de música, muitas vezes com LPs, e falei com o Vitor Paiva para elaborarmos o projeto. Todos abraçaram a ideia com entusiasmo.
Por que investir no LP e não em uma mídia digital, por exemplo?
O LP está de volta. Ele permite uma outra relação com o ouvir música (e poesia sonora): a arte da capa, os encartes, o sentar no sofá e ouvir um disco, quase como um ritual, concentrado na audição e não apenas como som ambiente ou trilha sonora. Cada vez mais pessoas estão buscando a recuperação dessa experiência, como forma de ter uma relação mais íntegra com as artes sonoras. E existe uma pequena mas consistente tradição de LPs de poesia no Brasil – Drummond, Vinicius, João Cabral. O que sempre tornou a ideia de participar de um LP de poesia um sonho de nossa geração.
Como você foi a curadoria dos poetas que vão fazer as gravações?
A curadoria foi coletiva. Nos preocupamos, inicialmente, em ter um recorte consistente dos poetas da nossa geração – vindos de diferentes expressões e locais. E também vários nomes surgiram naturalmente, participando dos encontros e conversas em torno da elaboração do projeto do disco. Como eram muitos nomes, acabamos decidindo em nos concentrarmos em poetas nascidos a partir de 1970, na esperança que no futuro próximo surjam outros projetos de LP de poesia, com poetas de diferentes grupos e épocas.
Serão textos inéditos ou funcionará como compilação?
Temos o desejo de que o LP tenha uma unidade, dentro de toda a diversidade de vozes que fazem parte dele. Para isso, o projeto é que consigamos fazer a gravação com todos os poetas reunidos juntos, no Rio de Janeiro. Se isso for possível (depende do sucesso do crowdfunding), faremos juntos não apenas a seleção dos poemas, inéditos ou anteriores, buscando a construção de um diálogo entre eles (claro que nem sempre explícito nem criando narrativas), mas também a filmagem de um documentário da gravação do LP, que será um interessante documento da poesia brasileira contemporânea.
Por fim, você tem na memórias LPs antigos com essa proposta que você curtiu?
Como falei antes, existem os discos de poetas brasileiros – o maravilhoso do Drummond, produzido por Suzana de Moraes, o do Vinicius, o do João Cabral. Todos maravilhosos. E os registros estrangeiros de poetas como Jack Kerouac e Allen Ginsberg. Todos eles foram fundamentais para a nossa formação como ouvintes e leitores. E espero que logo mais tenhamos uma série de novos. Existem registros de leituras de poetas como Roberto Piva, Haroldo de Campos e Ferreira Gullar, por exemplo, que ficariam lindos em formato LP. Ou realizar registros de outros poetas, como o Chacal, aquele que sabe a palavra propriamente dita.
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